CAPÍTULO II

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J I M I N

Organizei o plano muito antes da viagem ao reino Corvus, para certificar-me de que eu não me casaria. A aliança tinha um valor, mas a minha liberdade valia mais que a de qualquer um.

Depois de chegarmos ao castelo e nos receberem, um dos guardas nos escoltou até os nossos quartos. O meu ficava distante dos demais, em um corredor silencioso que tinha mais estátuas do que portas. No entanto, fiquei confortável assim que tranquei a porta pesada e soube que estava sozinho. Meu olhar grudou na cama de casal, mas a mente vagou pelo jantar que teríamos daqui a algumas horas.

Corri até a janela, trancando-a, depois fechei as cortinas. Tremia de frio e após tirar o sobretudo de veludo a sensação intensificou. Amaciei o casaco grosso relembrando o momento em que Seokjin ficou tão próximo. Trouxe-o para mais perto do meu nariz, inspirei o cheiro de umidade e rocei os lábios no tecido. Suspirei em meio a um sorriso leve. Coloquei o sobretudo sobre a cama. 

Retirei a flor sob a minha cueca e a ergui no ar, arrancando um de suas pétalas. Guardei o resto da Tenebris dentro da mala de couro, escondendo-a entre as roupas e os objetos que trouxe. Se o plano não funcionasse, precisaria de mais para continuar tentando.

Coloquei a pétala sobre a mesa defronte a cama, uma espécie de penteadeira. Desfiei até que estivesse em pedaços minúsculos ao olho humano e guardei em um lenço de seda. Respirei alto, meu corpo agitando-se conforme os segundos se arrastavam. Encarei-me no espelho enorme grudado na parede atrás da penteadeira, meus cabelos loiros caiam sobre a minha testa que, mesmo com o frio deste lugar, suou. Avaliei cuidadosamente minha própria imagem. Meus lábios tremeram quando encarei a palidez de minha pele. Aqui devia ser quente feito o inferno e não o contrário. 

[...]

Desci a escadaria acompanhado da minha mãe. Ela usava um vestido branco e longo que descia reto por seu corpo, as mangas cumpridas impediram que reclamasse do frio. Ao pararmos no salão escuro, de formato circular, reparei nas estátuas enormes de corvos e anjos esculpidos em pedras cinzas, em cima de mesas coladas nas paredes. 

— Não esqueça do que o rei lhe disse — minha mãe sussurrou, virando-se para mim. Ergui as sobrancelhas. — Lucius ou rei, não importa. É o mesmo homem com quem me casei — respondeu, olhando ao redor.

— Preciso mesmo me casar com ele? — soltei em voz baixa. Apontei com os olhos para o corredor sem luz atrás dela. — Não pode ser outro? Qualquer um…

— Prometemos você a princesa deles — interrompeu, sem ânimo. Inclinei o rosto para frente.

— Uma princesa, não um príncipe.

Aurora entrelaçou os dedos à frente do próprio corpo e suspirou. Não era a primeira vez que tínhamos essa conversa. Eu conhecia toda a história, porém não aceitava. Nunca aceitaria.

— Casamentos não envolvem amor, meu filho. — A voz doce me fez abaixar as lâminas que eu havia erguido. — No mundo em que estamos a felicidade do nosso povo vale mais que a nossa. — Ou seja, casar com o inimigo para que ele não decretasse uma guerra contra os nossos. — Ainda será livre para amar a mulher que desejar.

Deixei as pálpebras caírem. Se ela soubesse que minha irritação não era por casar com um homem, isso de fato pouco me importava, o problema era ser o príncipe que odiei por anos e tal ódio ardia no meu peito. Jungkook era o pressagio do mal.

A conversa encerrou quando Seokjin apareceu no corredor atrás da rainha e fez uma reverência. 

— Os reis estão esperando, majestade.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora