CAPÍTULO V

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J I M I N

Abracei meu corpo e caminhei pelo jardim principal. O céu cinza e a neblina formando-se no ar transformaram o dia em algo trágico. Passei por alguns guardas. Eles fizeram uma leve mesura e prosseguiram.  Dei a volta em torno de um dos lados do castelo, chegando ao que parecia serem estábulos — Magnus disse-me para ficar à vontade, portanto decidi que ficaria.

Antes, fui à biblioteca no salão de jantar. Analisei um por um dos livros e nenhum despertou-me interesse real. Temas como mineração, produção de ferramentas rudimentares e números faziam meus olhos sangrarem.  Por fim, ao vagar pelos corredores, lembrei-me dos cavalos e que, certamente, estariam em estábulos.

Ao aproximar-me, vi dois deles, pretos, bem amarrados a um tronco do lado de fora. Usavam um couro diferente ao redor das pernas, e da crineira até a garupa um tipo de proteção para o corpo, para não sofrerem com o frio — algo que não havia antes.  
Andei em direção ao da esquerda, o mais baixo. Espiei a sela adequada nos dois lados do dorso do animal. Cauteloso, ergui a mão e deixei-a no ar, a frente de seus olhos para que soubesse que eu não o machucaria. As bolas redondas e grandes encararam-me por muito tempo.

O cavalo deu um passo discreto para frente, o que entendi como permissão para o contato. Pousei a mão no topete. A maciez arrancou-me um suspiro. Mesmo usando luvas seu calor as atravessou. Escorreguei os dedos bem devagar e descansei a palma no chanfro. Talvez tenha sido excesso de frio vindo com a brisa, mas poderia garantir que o vi fechar os olhos sob o meu toque. Mais próximo, abracei com cuidado sua cabeça, pousando a bochecha esquerda onde minha mão esteve.

—  Está tentando matá-lo enforcado? — Arregalei os olhos e cambaleei para trás, soltando-me do bicho que agitou-se um pouco. Jungkook veio rápido e segurou as rédeas do cavalo, acalmando-o.  — O que está fazendo?

— Conferindo se o animal é forte o bastante para me carregar — menti com dificuldade.

O príncipe olhou-me de cima a baixo. Sua boca se contraiu, como se tentasse esconder um sorriso.

— É um puro sangue.

— Obrigado.

— O cavalo — acrescentou devagar, a voz grave e baixa. Jungkook analisou o animal perto de si. A mão que não segurava a rédea tocou a face do bicho, amaciando-a. Estreitei os olhos. Aquilo era… carinho?  — Um puro sangue serve para percursos maiores ou solos difíceis. — Fitei o cavalo. Não havia nada de especial nele que os outros não tivessem, ou que o fizesse merecer afeição em demasia. Jungkook, no entanto, continuou a tocá-lo com a ponta dos dedos. — Os usamos para ir ao vilarejo e outras partes de Corvus. Se vai montá-lo precisa usar uma roupa adequada. — Abracei meu próprio corpo ao observar o sobretudo branco e fechado até o pescoço que eu usava. Estou preocupado com a roupa quando não sei nem cavalgar? — Quer que eu te acompanhe? 

— Para me matar no meio do caminho? — disparei, repuxando os lábios.

Jungkook soltou um riso curto. Levou as mãos aos cabelos e os retirou de seu rosto. Frustrei-me por não conseguir ver o arranhão que deixei, devido às luvas de couro preto que ele utilizava.

— Se eu quisesse matá-lo já teria feito. — Mirou ao redor, como se buscasse por alguma coisa. — Peça para um dos soldados ir com você.

— Disse que me acompanharia. — Dei um passo involuntário a frente quando fez menção de subir no cavalo.

— E me acusou de tentar matá-lo — devolveu, os olhos semicerrados. — Lembre-se de trocar de roupa, raio de sol. — Segurou a sela e montou.

— Lembre-se de morrer — disse entre dentes. Jungkook lançou-me um olhar frio. — Por que eu tenho que andar com um soldado e você sozinho?

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora