CAPÍTULO XX

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J U N G K O O K

O quanto um coração podia ser machucado e ainda continuar batendo?

Pela segunda vez me apaixonei por Jimin. E tinha certeza do equívoco cometido. Ele me feriu. Muito. Não negava a vontade em fazê-lo pagar das piores maneiras possíveis, porém havia aquela insistente metade dentro de mim que rejeitava qualquer possibilidade de perdê-lo. 

Sempre que eu colocava a cabeça sobre o travesseiro, não dormia, vislumbrando um futuro em que Jimin não estaria comigo.

Nascer, viver e morrer. Acontecia a todos os mortais e Jimin era mortal, portanto eu estava fodido. Sua presença doía, mas sua ausência... seria tão dolorosa quanto. Por isso a minha imortalidade soava como uma maldição na minha existência, me condenava a existir apesar de tudo. Apesar de todos. Esquecer os que comigo estiveram, porque viver com boas memórias de pessoas que não voltariam seria enlouquecer com ar nos pulmões.

Amor era esse infortúnio de poder seguir em frente, viver sozinho, e nunca escolher tal opção. 

Amar era sobre companhia. 

Conversar o mais banal dos acontecimentos por desejo em ouvir a voz do outro, sentir o perfume dos cabelos, tocar a pele e tocar de novo porque a sensação é esquecida logo que seus corpos se afastam.

A necessidade de estar com Jimin intensificou o desespero em saber que um dia não o terei comigo. 

Acreditei que tais pensamentos, provindos das lembranças do que a bruxa me disse, desencadearam os pesadelos distintos que eu vinha tendo nas últimas semanas. Neles eu era o vilão e machucava pessoas cujo os rostos desconhecia. Não sentia compaixão por elas. Deliciava-me com a irreal sensação de as estar matando.

Mas há três dias os pesadelos se transformaram em algo assustador. As vítimas eram uma só agora: Jimin. Eu o torturava. Feria. Seu sofrimento fazia-me rir. Os sentimentos que eu tinha por ele desapareciam, ou sequer existiam naquela versão sombria na qual meu corpo e minha alma eram refém. Acordava no meio da noite, transpirando e trêmulo, com pavor de todas as cenas. Assustado, porque eu sempre assassinava Jimin no final dos pesadelos.

— Como estão as coisas com o seu marido? — Magnus perguntou.

Esforcei-me para erguer os olhos a ele.

— Jimin. O nome dele é Jimin.

Repeti a palavra "marido" no silêncio pesado da minha mente, o que fez uma duvidosa sensação pulsar na base do meu estômago. Jimin era meu marido. No entanto, eu não poderia me referir a ele em voz alta dessa maneira, porque não havia possibilidade alguma de eu querer isso — muito menos o próprio.

— Não fique nervoso — brincou.

— Não estou.

— A menção ao nome do príncipe o inquieta.

Reclinei-me na cadeira, as sobrancelhas arqueadas, com a intenção de mostrar o oposto do que foi dito.

— Falar dele não é o melhor dos assuntos — respondi. — Mas Jimin e eu estamos nos empenhando em fazer dar certo, embora estarmos juntos continue a ser difícil.

O queixo do meu pai alteou em sua rara prepotência de julgar saber mais dos meus sentimentos do que eu, o dono deles.

— Tenho certeza que conseguirão, se forem gentis um com o outro.

Mexi-me na cadeira. Sustentei nosso contato visual. Jimin e eu sendo gentis um com outro? Quantos minutos, ou menos que isso, precisávamos para não nos ferirmos verbal e fisicamente?

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora