CAPÍTULO VIII

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J I M I N

Vê-lo voltar a vida foi o pior dos meus medos. Não importou quantas vezes enfiei a lâmina, a respiração de Jungkook retornava em segundos. E ouvir ele dizer que tentou se matar e não conseguiu me fez enxergar a realidade: Tudo foi em vão.

Jungkook nunca morreria e eu jamais seria livre da obrigatoriedade de viver ao seu lado.

E se eu não o tivesse manipulado dez anos atrás? E se tivesse aceitado que ele gostava de mim desde o princípio?

Repudiei a decisão que eu não tomei; um casamento que não pedi; um homem que eu não escolhi… Sacrifiquei a alma dele, fazendo-o me odiar; e condenei a minha, pois nunca considerei dar a ele uma oportunidade.

Desde muito pequeno acreditei ter algo errado comigo. Busquei atenção de quem me machucou e feri quem tentou me amar.

O que vai fazer agora, sabendo que não consegue matá-lo?

O que fazer em um mundo onde preciso conviver com ele?

Planejei matar Jungkook e meu único objetivo se transformou em cinzas. Não era mais: casamento ou guerra. Guerrear com um imortal? Que estupidez.

O que farei? Fugir? Não. Embora eu tenha considerado inicialmente, ir para longe não é liberdade.

A liberdade que busquei a minha vida inteira nunca esteve ao meu alcance. O quanto perdi para conquistá-la?

Dentro dos braços de Jungkook, o rosto colado ao seu peito nu e os dedos receosos em suas costas, fechei os olhos e inspirei o ar podre. O sangue fedia.

A batida alta fez Jungkook apertar os meus ombros e me afastar. Caminhou impaciente até a porta, abrindo-a por inteira.

— Alteza. — Seokjin tinha retornado para pegar a louça suja no chão.

Entrou no quarto fazendo reverências a nós dois. Seu olhar caiu para a sacada ensanguentada de onde não saí.

— Limpe tudo — Jungkook mandou, cerrando as sobrancelhas para o rapaz. — Depois traga água quente. Seja discreto.

Não sou eu quem deve dar a ordem, por que ele se intromete?

Veio na minha direção e segurou meu pulso com a cotidiana agressividade. Puxou-me para o outro cômodo.

Mirei as paredes acinzentadas do banheiro, depois a banheira roxo escura. Um material que vi com frequência pelo castelo, nas janelas e prataria.

— Vocês usam muito essa pedra — comentei. — Qual o nome?

Jungkook libertou meu pulso e pegou um pano pequeno em cima da mesa com ervas e flores aromáticas. Umedeceu em um balde embaixo dela e parou diante de mim. Sentei-me na borda da banheira, com as mãos em cada lado das coxas.

Alspaladio. —  Dobrou a perna, cravando no chão um joelho, seguido do outro.

— Als - pa - la - dio — repeti pausadamente.

Jungkook aproximou o tecido da minha bochecha direita, limpando-a com prudência. Não soube o que fazer com a outra mão, portanto a manteve paralisada acima do meu joelho direito, sem tocá-lo. Limpou a outra bochecha, o nariz, minha testa, mas sua concentração em limpar o meu queixo foi maior que qualquer outra. O sangue talvez concentrou-se demasiado naquele ponto.

— Vai contar a ele? — perguntou, a voz grave.

— O quê?

Estagnou a limpeza e cravou o olhar irritado em mim.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora