CAPÍTULO XVI

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J U N G K O O K

Jimin carregou o vaso até a carruagem, balançando-o tal qual um pai protegendo seu filho mais querido. Continuei a andar ao seu lado, os olhos petrificados pela satisfação em saber que ele não se livrou da flor, e aflitos por me dar conta do sentimento que eu não podia voltar a sentir por ele. Amor. Daqueles que foram corrompidos pelas más escolhas, pelo tempo, por tragédias propositais que não precisavam acontecer. Mas aconteceram. E o transformaram em algo sombrio.

Amor.

Não.

Não podia ser.

Estou enganado, enxergando em raio de sol algo que se perdeu no tempo, pela única razão de ele ainda me atrair. Por desejá-lo sem as barreiras que colocou entre nós. Barreiras que eu serei obrigado a erguê-las novamente, depois que nos beijamos. Depois de eu retribuir igual um garoto idiota.

— Ah... espere um segundo. Esqueci algo importante — Jimin resmungou baixinho, entregando-me o vaso e correndo de volta ao palácio.

Minutos depois reapareceu sem nada nas mãos e desconfiei da sua tentativa em esconder o que foi buscar. Entramos na carruagem e seguimos viagem durante a madrugada fria, sem poder ver as árvores através da pequena janela. Balançamos de um lado a outro, ouvindo o relinchar dos cavalos dos soldados atrás de nós e dos gritos de comando do cocheiro.

Jimin estava quieto do meu lado, as mãos agarradas no vaso e o olhar perdido nas folhas vermelhas e altas da Amaresis. Observei seu rosto sonolento. Levá-lo para Corvus era uma ideia terrível. Era como guiá-lo para uma armadilha onde Brasa e a bruxa estariam esperando por nós, para nos matar e tomar a coroa.

— Como se sente? — perguntei, a voz espalhando-se dentro do coche.

Por um instante fui capaz de ver Magnus na minha própria pergunta, sua postura e preocupação. Ele sempre tinha os melhores conselhos e saberia lidar com raio de sol melhor do que eu.

— Como se sente depois de matá-la...?

Jimin ergueu o rosto e encarou-me, a expressão ilegível.

— Eu não a matei — soprou a afirmação, como se eu o estivesse julgando. — Dei ordens para os guardas fazerem o que acharem necessário. A culpa não é minha se decidiram que matá-la seria a melhor opção.

— Por que nunca admite o que faz? — Talvez eu queira julgá-lo. Fazer com que sinta da mesma maneira que me faz sentir.

— Não me fale de admitir coisas. Você enfiou uma espada em Seokjin.

— Ah... quem? — Entortei os lábios em um sorriso. Enfiei a mão por dentro do bolso frontal da calça preta, peguei o canivete e estendi na sua direção. — Esqueceu quando invadiu o meu escritório.

— Eu não invadi — ele protestou, mas tomou o objeto para si. O semblante tranquilo como se não fosse nada eu tê-lo encontrado no meu escritório. — A porta estava entreaberta.

— E decidiu que era um convite para você entrar? — Franzi as sobrancelhas. — Roubou algo que me pertence.

— Não sei do que está falando.

— Falta uma página no meu diário e sei que foi você quem arrancou.

— Tem um diário? — Sorriu ladino. — O que te roubaram era muito importante?

— Apenas devolva.

— Não. A carta é minha e o desenho também. — Fechei os olhos em um longo suspiro. Mas que homem teimoso. — Escreveu para mim e nunca me entregou. Se eu tivesse lido antes...

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora