CAPÍTULO XXIII

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J I M I N

Mantive os olhos em Jungkook por mais algum tempo, enquanto caminhava pelo jardim.

Evitei cumprimentar os integrantes da corte, não lhes dando espaço para uma conversa a respeito do que ocorreu ontem a noite. Adiar justificativas parecia-me uma boa solução. Não tão eficaz quanto não dançar com um homem em Solis, mas o que fiz estava feito. Também não cheguei perto da mesa dos meus pais, para não cobrarem de mim o óbvio: uma atitude diante do alarde que provoquei na noite anterior. Para esse fim foi criada a reunião. Todos esperavam explicações do novo rei.

Eles me observavam com mais atenção, suas reverências mais exageradas, posturas tensas... Forcei a minha a manter-se reta durante o trajeto que me levaria a Jungkook.

Acariciei onde os seus dentes deixaram a pele vermelha e formigando. Durante a madrugada inundei a marca com óleo e ervas, fazendo-a desaparecer. O mesmo fiz no local em que Lucius me bateu. Uma preocupação a menos na lista do meu pai.

Por azar, no entanto, os meus dedos esfriaram com a imagem de Jungkook conversando com Castian. Este sorria. Uma risada curta e não genuína, pois Jungkook não era um homem engraçado para despertar tais sentimentos como o de doer o estômago. Não, ele sempre foi para dentro de si com os outros. Comigo, pouco contava piadas. Assim, não havia motivos para abrir a boca e mostrar os dentes. Não dei por mim, estava andando na direção de ambos mais rápido.

— Majestade — Castian falou e curvou-se.

Espiei a expressão de Jungkook: cara fechada e as sobrancelhas unidas.

— Veio atirar conosco?

— Não — respondi a Castian. — Sou apenas um observador.

— Jungkook tem errado todas as tentativas. — "Jungkook"? — Veja só! Mais um erro. O senhor não é bom.

Ouvi os resmungos do príncipe, mas nem por meio segundo deixei de encarar Castian. Sua capacidade em agir naturalmente comigo, seu rei, despertou uma coceira na minha garganta que se prolongou. Castian afastou-se e se juntou a Jungkook. Não movi os pés, a coceira espalhando.

— Posso ensiná-lo. Se quiser. Antes dos outros chegarem.

Jungkook não o respondeu. Por sinal, nem a mim encarou. Pegou as flechas e as atirou outra vez; o roxo de suas íris intensamente mais claros que o habitual. Seu maxilar relaxado não deu-me indícios de raiva, mas havia alguma coisa por trás da insistência em acertar um alvo. Os erros mostravam-se bobos. Facilmente os resolveria se a sua concentração estivesse mesmo aqui.

Então, o que o afligia?

Se arrependeu do que me confessou?

Se fosse esse o caso, eu deveria me retirar. Não o culparia por dar um passo atrás quando sempre fui eu quem nos separou.

Os seus movimentos e a distância que não impôs a Castian não passou despercebido. Seus ombros separados unicamente por um fio transparente. Embora não duvidasse de que Castian estava tão invisível quanto eu para Jungkook, não evitei a frieza nas pontas dos meus dedos.

O desejo me corroeu.

Desejo de conversar com Jungkook sobre ontem, saber o que o atormentava. Não tê-lo afastado assim.

Entrelacei os braços nas costas.

— Podemos falar?

Jungkook deslocou os olhos escurecidos e profundos aos meus, em algo não dito; roubou-me um pouco do ar ao fazer. Jogou as armas na grama verde e se afastou de Castian, que não se importou em convocar outra pessoa para ouvi-lo.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora