CAPÍTULO XXI

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J U N G K O O K

Confiar em uma pessoa era muito mais do que a crença de que ela jamais vai mentir para você, mas saber que se o fizesse seria por um motivo nobre e justificável.

Meus pais não sabiam sobre a minha imortalidade, mas caso soubessem me protegeriam. Disso eu não tinha dúvidas, porque éramos leais uns aos outros. Não havia lealdade que fosse entregue de graça. "Fazer para merecer", Yoongi me dizia quando garoto. Aprendi com os meus pais que tudo nesse mundo tinha de ser merecido. Não sei ao certo quando desviei do caminho e comecei a tomar para mim o que pensava ser meu. Afinal, roubei sementes de uma flor rara e dei a Jimin, quando fui ensinado especificamente sobre roubos serem atos incorretos, não importando as razões que o levem a fazer.

Fiz muito para conquistar o coração do príncipe de Solis e nada adiantou.

O que forçou-me a aprender bem cedo: não importa o que faça, não significa que mereça ter.

E muito menos que terá o que quer.

Não importava o quanto eu tentasse, Jimin sempre estava escondendo, mentindo e me traindo de alguma forma. Sem justificativas nobres. Traição ácida.

Circulei a ponta da faca contra a madeira da penteadeira do quarto de Jimin, esperando-o desde que voltei ao castelo após deixar a torre e o corpo de Bash na cela. Tudo desapareceu da minha mente assim que retornei, decidido a questioná-lo sobre o que me afligiu durante todo o caminho até aqui. Até abrir sua porta, entrar no seu aposento e me sentar à sua espera. 

As suas mentiras não são um fato que eu desconhecia, mas o quanto Jimin mentiu para mim? 

O quanto eu podia acreditar nas coisas que ele insistia em me dizer?

Eu ainda era ingênuo por desejá-lo em meus braços apesar de tudo.

Assim que o som grosso de algo sendo arrastado alcançou-me ergui os olhos, a faca parou de girar sob meus dedos tal como os batimentos do meu coração que por um segundo sequer existiam. Meu corpo tomou consciência da presença de Jimin, os meus olhos não desviaram quando encontraram os seus surpresos por eu estar no seu quarto. Fechou a porta atrás de si e deu um passo à frente.

— O que faz aqui...? — questionou, receoso nas palavras ao ditá-las devagar.

Me mantive sentado e concentrado no seu rosto.

Suas sobrancelhas se uniram pela demora de uma resposta e quando finalmente notou que o meu silêncio não cessaria com facilidade, encarou o objeto sob minha mão direita. Vi o primeiro indício de tremor nos seus lábios, abrindo e fechando devagar como se as memórias de onde conseguiu a faca invadissem seus pensamentos sem permissão e estivesse confuso com a imagem diante de si.

Os olhos castanhos correram ao encontro dos meus.

— Esperando por você — respondi, dando fim ao ruído.

O peito de Jimin subiu e desceu sob a camisa branca.

Ele estava nervoso, presumi.

Eu não negaria que aqueles eram os sentimentos que eu desejava que sentisse arder em sua pele.

— Reconhece isto? — Puxei a faca e a ergui na frente do rosto. Apertei o cabo com uma vontade incessante de trocá-lo pelo pescoço do dono dela.

As pequeninas velas nas paredes do quarto fizeram o metal reluzir no ambiente escuro.

— Onde... conseguiu? — Jimin perguntou, o rosto contraído.

Me levantei e fui em sua direção. Sem pressa. Pois mesmo necessitado de respostas, ter o príncipe de Solis tremendo de tal maneira, dos fios dourados aos sapatos pretos bem polidos, era um espetáculo e tanto. Jimin era um espetáculo. Seus ombros encolhiam a cada um dos meus passos, o olhar acompanhando os balanços da faca na minha mão, quem sabe por receio de eu a deixar cair direto em sua garganta.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora