CAPÍTULO IX

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J I M I N

14 ANOS ANTES…

Mamãe continuou a me olhar feio, esperando pela resposta que eu não queria dar. Não podia dizer que me empurraram e me bateram.

— Eu caí — disse, de cabeça baixa. Ela segurou o meu queixo, me olhando firme.

— Caiu?

— Tropecei e caí em cima de uma poça de lama com pedras no fundo.

Juntou as sobrancelhas e suspirou. Acreditou como sempre.

Papai nunca estava por perto, achava até que ele não se importava quando me via com a cara machucada.

Não queria esconder dos meus pais que eu apanhava no Templum, mas também não podia contar, se não todos os meus colegas se afastariam.

Ficar sozinho não é bom.

Depois de alguns dias meu rosto melhorou. Foi quando os reis do outro reino vieram nos visitar. Fiquei quieto ao lado de papai, esperando a minha vez de fazer reverência. Não entendia por quê dois homens estavam juntos e eram reis. Eles se gostavam? Tinham um filho menor que eu. Dois homens podiam ter filhos?

— Olá, majestade — falei, envergonhado. Abaixei o rosto.

— Esse é o Jimin? — um deles perguntou. A pequena sombra foi empurrada para frente e quase esbarrou em mim. — Este é nosso filho, Jungkook.

Levantei os olhos doido para ver mais de perto. O garoto era bem magrinho, os cabelos cobriam os olhos… roxos?

— Diga alguma coisa, filho — Mamãe cochichou na minha orelha.

Dizer o quê?

— O-i — gaguejei e dei uma passo para trás.

Jungkook abriu e fechou a boca. Não me respondeu. Parecia mais estranho do que eu era.

Eles voltaram no dia seguinte.

Tomei um pouco de coragem e chamei o menino para o jardim do palácio. Ficamos sem falar nada por muito tempo. Não estava acostumado a ter por perto alguém que não queria me bater.

— Por que seus olhos são dessa cor? — perguntei e apontei para as bolinhas roxas em sua cara.

Jungkook abriu e fechou a boca. Ele não sabe falar com oito anos?

— Não-sei — disse, se atrapalhando na resposta.

Balancei a cabeça. Eu também não sabia de muita coisa.

— Vo-cê tem ami-gos? — Botou a mão na frente do rosto, cobrindo as bolinhas.

— Sim, muitos — menti. Retirei sua mão da cara. — Não esconda. São bonitinhos.

Suas bochechas ficaram vermelhas.

— Posso ser seu amigo? — Arregalei os olhos. — Eu…

— Pode! Pode! — falei quase engolido minha língua.

Jungkook abriu um sorriso grande.

Eu só o vi de novo depois de cem dias.

Não ficamos tímidos como antes, ele até trouxe sementes de uma flor rara. Aprendi no Templum sobre algumas espécies, e essa eu conhecia muito bem. Uma das poucas coisas, pois não gostava muito de ler. Jungkook me deu o melhor presente de todos, a coisa que eu mais amava.

— Quanto tempo demora para crescer? — Olhou o vaso com terra úmida.

— Um bom tempo — respondi. — Preciso cuidar todos os dias, se não ela morre. É muito frágil.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora