CAPÍTULO XIV

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J I M I N

O som alto da porta sendo fechada na minha cara, ecoou. Jungkook não me deixou falar. Ele nem sequer esperou por uma resposta ou se importou se eu voltaria a Solis.

Ele anseia que eu vá. 

Agiu como se eu fosse o grande vilão e ele não tivesse acabado de assassinar o meu submisso. E mesmo a dor ardendo na minha garganta, cheio de raiva, frustrei-me por ele não exigir minha permanência.

 Ele desistiu de nos forçar a estar perto um do outro?

Meus olhos secaram. 

Chorei muito no meu quarto, ao lado da minha mãe. Me desculpei por nossa última conversa, quando dei a entender que não me importava se pessoas morreriam contanto que eu alcançasse meu objetivo: não casar com Jungkook. Ela me disse " Não guarde as coisas só para você. Estou aqui para ouvi-lo. Não importa as bobagens que diga, eu vou estar aqui. Estarei sempre por perto", e me envolveu em um abraço no qual me entreguei. Boa parte da fúria dissipou-se ali, mas o dissabor residia no meu estômago.

Vim ao quarto de Jungkook disposto a entregar minha vida em suas mãos, ainda assim ele não quis. 

Por que o miserável não quis?

Dou um pulo para trás ao ouvir o corvejar no corredor. A ave do príncipe pousou atrás de mim. Virei-me a ela. Ri seco, encarando os olhos roxos e lembrando-me da noite em que apareceu na janela do meu quarto dias depois de eu esfaquear o jovem Jungkook. Enraivecido, acabei cortando seu bico superior. 

— O que foi, hum? — provoquei, curvando a face para o chão e apontando o canivete. — Estou com raiva. Não vai querer chegar perto. 

O bicho derrubou algo, antes entre seus bicos, e voou para longe. O som fino atiçou-me. Abaixei-me e peguei o molho de chaves no chão. Mirei a porta trancada defronte ao aposento de Jungkook. Não sabia o que tinha lá dentro. Talvez fosse um outro quarto. 

Testei cada uma das chaves na fechadura e a porta abriu na terceira tentativa. 

Perscrutei o ambiente por dentro. Uma mesa rústica, alguns objetos como papéis, tinta preta e pena encontravam-se sobre ela; uma estante de livros à minha esquerda, e um sofá largo à direita, encostado na parede; um tapete cor vinho revestia o piso. Entrei no escritório e tranquei-me. 

Cheguei mais perto da mesa, pondo o canivete sobre ela e a contornando. Sentei-me na cadeira de veludo rubro. Curioso, abri com as chaves a primeira gaveta trancada. Tinham folhas limpas e penas. No fundo, no entanto, encontrei um caderno verde musgo e uma bússola de alspaladio. 

Peguei o caderno e desatei a corda que o fechava. Tossi com a poeira. As folhas eram de um tom amarelado, como os pergaminhos. Ao abrir e ler a primeira página, meus olhos brilharam em deleite: "Por Jungkook".

Era um diário?

Passei a folha, encontrando o desenho de um corvo. Os olhos bem marcados com tinta preta davam um ar de que o pássaro cansou de alguma coisa. Passei a páginas, encontrando rabiscos de palavras que nem o mais exímio leitor, se visse, seria capaz de dizer o que o príncipe Jungkook escreveu. Entretanto, a fadiga e a cólera fizeram-me apertar os olhos.

Dor? Pavor? Calor?, continuei forçando-me a compreender os termos, com o intuito de juntá-los de forma coerente. Não funcionou. A tinta cobriu uma grande parcela deles. Jungkook fez de uma forma que não somente os escondeu, mas os forçou contra o papel. 

Passei a folha.

Mais desenhos de bichos. Dessa vez um cavalo. Talvez o que montou quando eu desmaiei.

LENITIVO • jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora