Não estou preparada para essa audiência.

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Uma espada do cabo prata com um diamante redondo vermelho escarlate no meio das laterais, mais outros três diamantes ovais da mesma cor que o outro pela extensão do cabo. A lâmina cor prata estava toda desenhada, os desenhos representavam a floresta. Tinha as fases da Lua, folhas e raízes.

Sua bainha era toda vermelha, com um desenho sendo destacado nela, era o símbolo da Tribo Boldwin, uma Lua Prata com duas espadas cruzadas na frente dela. A espada era menor que as dos Alfas, pois foi feita sob medida para mim e sou mais baixa que eles. As espadas que os lobisomens usavam sempre foram mais curtas que as dos humanos para que pudéssemos colocá-las atrás das costas e poder empunhá-las quando necessário, dependia muito do tamanho dos nossos braços. No entanto, eram pesadas e extremamente afiadas, pois tínhamos força para suportar o peso. Porém alguns preferiam espadas maiores e as colocavam na cintura para manuseá-las.

Minha espada era linda e pela cor prata e o símbolo que estava na bainha dava para saber que foi feita na tribo do Alec, afirmando que meu tio veio de lá.

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Depois de ter me acalmado e dormido um pouco, acordei a Kamilla antes de escurecer, fizemos nossa higiene e eu a vesti com uma das roupas que o Lúcius trouxe, por falar nele, o homem nunca mais deu sinal de vida, deve ter escutado meu conselho e voltou para sua aldeia a fim de restaurar seu casamento com a Arlete.

Vesti minhas próprias roupas, blusa, calça e botas de couro. O conjunto que usava para treinar com meu tio, feito para lutar. Pus a espada nas costas que estava dentro da bainha, soltei meu cabelo longo vermelho e na Kamilla fiz o mesmo penteado que usei no meu aniversário de dezoito anos, ela estava linda, parecia uma princesinha ruiva com seu vestidinho vermelho e suas tranças ao redor da cabeça.

Peguei sua mãozinha, dei uma última olhada ao redor da casa e saí com a Kamilla floresta adentro, sem olhar para trás, indo de encontro com o Alec para a audiência na sua tribo.

Caminhando entre as árvores, escutei um assobio e pouco depois vi o Alec com seus três Bethas esperando por mim. Ele estava usando uma calça de couro folgada preta, o cinto grosso de prata que a prendia tinha o símbolo da tribo na frente, uma Lua Prata com duas espadas cruzadas. No lugar das cordas trançadas tinha uma peça de veludo prata, botas pretas e para combinar um casaco grande de couro com o mesmo veludo que cobria sua calça, a metade do cabelo estava presa em um rabo de cavalo com algumas mechas soltas na frente e a outra parte estava solta também. Seu peito e barriga estavam expostos mostrando as tatuagens e ele usava um colar que tinha um dente de búfalo como pingente. Essas roupas eram completamente diferentes das que o Lúcius usava, mas caíam perfeitamente nele, o deixava mais lindo ainda.

O estilo, as tatuagens, o corpo musculoso, o cabelo cacheado na altura do peito transpareciam uma imagem de selvageria em Alec, sem perder a classe de um Alfa. Enquanto olhava para mim parecia estar zangado, mas isso é apenas uma das suas características. Ele sempre deixava sua cabeça levemente inclinada para baixo como um felino observando sua caça. O homem botava medo igual o Lúcius, mas de maneiras diferentes.

Pensando bem, acho que fui a única pessoa corajosa o suficiente para brigar com esses dois Alfas e ainda sair sem nenhum membro arrancado. Deixei os conselhos do Drakon adentrarem demais na minha cabeça, tenho que rever isso.

– Você realmente veio. – Alec disse.

– Eu disse que viria, mas não se esqueça do que me prometeu, que não irei como uma prisioneira. – Falei séria. – Se tentar alguma coisa ou machucar minha filha, não serei tão amigável. – Eu ia usar minha espada para tocar o terror na sua aldeia, sem me importar com os danos. Minha mão estava coçando para inaugurar essa espada.

Acho que pensei em não escutar mais os conselhos do Drakon... Retiro o que disse.

Alec sorriu mostrando seus dentes brancos perfeitamente alinhados.

– Não se preocupe com isso, e eu ainda quero uma revanche.

– Dessa vez será uma luta justa. – Mostrei minha bonequinha afiada que estava atrás das costas para ele, devolvendo o sorriso.

– Ela tem o símbolo da minha tribo.

– Sim, mais uma prova de que meu tio pertencia a sua tribo, ele era um guerreiro de lá.

– Não qualquer guerreiro, alguém importante, essa espada e a bainha dela foram feitas com os mesmos materiais que são usados para preparar armas de pessoas que pertencem à nobreza. – Fiquei pasma. Meu tio era da nobreza da Tribo Boldwin?!

– Finalmente a mulher misteriosa apareceu. – Um dos seus Bethas disse com um sorriso. Ele tinha um cabelo preto curto bem penteado, algumas tatuagens nos braços e usava roupas parecidas com a do Alec, porém eram mais simples, mas que caíam bem para um Betha.

– Mulher misteriosa? – Perguntei.

– Sim, você é a pessoa mais falada nesses dias: a mulher misteriosa que estava fumaçando de ódio e bateu no Lucas porque ele fez sua filha chorar. Vamos até criar uma nova regra na tribo que é não fazer as crianças chorarem ou as mulheres vão arrancar nossos pintos fora. – Ele fez uma careta imaginando a cena. Olhei para a Kamilla ao meu lado ainda segurando minha mão. Naquela noite eu ficava com mais raiva quando ouvia os soluços dela, cogitei até matar o Betha que a atacou e teria matado se não fosse o Alec para intervir.

– Eu fiz o que qualquer outro faria. Elas estavam no nosso território na companhia do Imperador e todos sabem a ameaça que ele representa, ela melhor que ninguém deveria saber. – O outro Betha falou mal-humorado, esse era o Lucas, o lobisomen que briguei. Ele era branco, tinha o cabelo bem curtinho quase careca e seus olhos eram pratas, havia uma pequena cicatriz no seu pescoço, bem no lugar da mordida que dei.

– Admita Lucas, você está zangado por ter apanhado dela. – O Betha que me chamou de mulher misteriosa disse. Ele estava de bom humor.

Lucas rosnou para ele.

– Chega. – Alec disse. – A audiência vai começar e assim vamos esclarecer as coisas. O importante é acalmar as pessoas e a Ka-ro-li-na... – Ele olhou para o Betha bem humorado enquanto pronunciava meu nome. – Vai se explicar porque estava com o Imperador. – Dessa vez ele olhou para o Lucas. – Vamos.

Começamos a segui-lo.

Eu não parava de pensar em como explicar para uma tribo inteira porque estava com o Drakon. Não podia dizer a verdade que fiquei ao seu lado para fugir das emoções do Lúcius devido ao sangue. E, apesar de tudo que o Lúcius me contou e do vampiro ter fugido com a Maria Elena para fazer sabe-se lá o quê, se o Alfa e seus Bethas não tivessem aparecido, eu ainda estaria com o Imperador e a Elena, pois achei bom passar aquelas noites ao redor da fogueira escutando os costumes do povo do Oriente enquanto comia galinhas. Naquele momento, não considerava o Drakon um inimigo mortal, apenas um estranho que eu não confiava, mas que tinha começado a fazer amizade.

Fiquei tensa. O que deveria dizer? Por que não pensei nisso antes? Tudo que saísse da minha boca ia me comprometer e me forçar a contar sobre minha vida, eu não gostava dessa ideia. A pior coisa seria ter minha vida exposta como um livro aberto para vários estranhos. Droga! Isso não vai acabar bem.

A Suprema AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora