Isso é entre mim e ele

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Não! Não pode ser! Clara não podia ser uma escrava da Tribo Calmon infiltrada. Não! Eu me recuso a acreditar!

– Karolina, irei acionar os soldados para procurarem elas. – Alec falou no meu ouvido devido à zoada da multidão, me tirando do devaneio. Levantei a cabeça para encará-lo.

– Não, não Alec. Melhor não fazermos um alvoroço na aldeia, vamos deixar todos distraídos com a festa que eles se esforçaram para dar e eu irei atrás delas.

– De jeito nenhum que vou deixá-la ir sozinha, eu irei com você. – Indagou já segurando minha mão.

– Alec. – O parei. – Você é o Alfa, fique aqui, invente uma desculpa, isso não passa de um mal entendido, elas com certeza estão por aí, eu tinha prometido pra Kamilla que ela ia visitar o pai, ela pode ter falado isso na euforia, crianças são assim. – Dei um sorriso falso tentando persuadi-lo.

– Você tem certeza?

– Sim, não se preocupe, vou procurá-las enquanto você distrai as pessoas.

– Qualquer coisa, você me chama tá bom? – Ele pegou no meu rosto. Afirmei com a cabeça e dei outro sorriso falso enquanto saia, vendo o semblante de preocupação do Alec.

Saí apressada pelo meio da multidão e fui até as lojas das tecelãs que estavam fechadas, fechei os olhos e foquei no meu olfato aspirando fundo o ar à minha volta procurando algum cheiro conhecido, para os lobisomens era difícil fazer isso, pois já tinha se passado muito tempo desde que elas estiveram aqui e não tinham tocado em nada, no entanto com meus poderes aumentados, me senti capaz de fazer coisas impossíveis.

Abri os olhos vermelho escarlate quando senti um cheiro fraco, mas familiar.

– Clara... – Sussurrei. Segui apressadamente o cheiro que estava dando em uma casa afastada, mas ainda dentro da aldeia, o que era um sinal positivo. Entrei na casa que estava toda escura e analisei ao redor buscando alguma armadilha, não tinha nada.

Escutei um gemido masculino vindo do porão. Derrubei a porta com um chute e fiquei perplexa com o que vi.

Havia um homem branco, com roupas tribais, cabelo curtinho com o rosto até meio angelical em cima da Clara. A menina estava completamente machucada, com o rosto e corpo sangrando, roupas rasgadas e chorando. Ele quando me viu saiu rapidamente de cima dela, um homem daquele que parecia ser só uns três anos mais velho que eu, porte de guerreiro, mas que era cruel ao ponto de deixar uma garota tão inocente daquela com marcas na pele toda. Nunca devemos julgar as pessoas pela aparência ou ele enganaria a todos.

Agachei-me até ela que não parava de chorar, com certeza sentindo muita dor.

– Clara, você está bem? – Perguntei preocupada e triste por ela enquanto ajudava a se levantar, mesmo eu chamando o Lúcius de estuprador, sei que a dor que sentia quando ele me penetrava nas primeiras vezes era normal, agora eu sei, antes eu não sabia, só dizia que ele me estuprava, enquanto o tarado me perseguia pela aldeia atrás de mim e eu fugindo dele.

Olhando o estado deplorável da Clara, comecei a me questionar se o Lúcius realmente um dia me estuprou. Ele é louco, tarado e me queria de qualquer jeito, mas a maldade que foi feita no corpo da Clara estava demais! Ainda tem a diferença de força entre os dois, a menina é uma humana tão fraca tentando se defender de um lobo-soldado jovem, enquanto a mim e o Lúcius... Bem... Era murro, chutes, empurrão, coisas se quebrando, as pessoas fugindo de nós dois, parede se partindo, cama e banheira sendo arremessadas, ele me chamando de demônia e no final das contas, em menos de um segundo, nenhum de nós dois tinha sequer um arranhão pelo corpo. Bem... eu não tenho, já ele não posso dizer com tanta firmeza.

– N-não é o que parece, minha Suprema. – O homem falou. – N-nós estamos juntos há anos, m-mas em segredo.

Apertei a mandíbula com força e olhei ao redor procurando a Kamilla, minha cabeça doeu só de pensar nesse homem fazendo alguma coisa com minha menina. Ela não estava lá.

– Pedro, não é? – Fixei os olhos nele, me levantei e caminhei devagar na sua direção. Ele arregalou os olhos para mim.

– Você gosta de torturar mulheres? – Disse sarcástica. – E a garotinha? Onde está?

Ele balançou a cabeça não entendendo sobre quem eu perguntava.

– Você sabia muito bem que a Clara trabalha para mim e mesmo assim, se atreveu a trazer ela à força, sem minha permissão e ainda deixar minha filha sozinha que estava sob os cuidados dela.

Ele ficou calado.

– Quê? Ficou mudo agora? Sou uma mulher também, não vai me torturar? – Perguntei furiosa.

– N-não, minha senhora, você é a minha Suprema, me desculpe, eu errei.

Sorri para ele.

– Aah sim, claro! Eu te desculpo. – Ele suspirou de alívio. – Desculpo depois que enfiar aquela madeira... – Apontei para uma madeira. – Na sua bela bundinha.

Ele se assustou e começou a correr, peguei uma corrente de aço que tinha ali e atravessei pelo seu pescoço, prendendo-o. Não queria perder tempo com ele sem saber do paradeiro da minha filha.

– Clara, você precisa me dizer onde está a Kamilla. – Ela continuava chorando.

– E-eu sinto muito senhora por não tê-la protegido. – Disse entre soluços.

– Como assim? – Um nó se formou na minha garganta. – Onde está minha filha? - A sacudi.

– E-eu vi u-uma mulher pegando ela qu-quando o Pedro apareceu.

– Que mulher? – Perguntei aflita.

– E-eu não sei... mas ouvi a Kamilla dizer que ia ver o pai, e-ela deu até tchau pra mim. – Começou a chorar de novo. Eu tentava controlar minha respiração desregular e meus olhos se enchiam de lágrimas.

Me afastei da Clara enquanto pensava, às vezes meu subconsciente tentava defender o Lúcius de todas as formas, mas quando a realidade de quem ele era batia como um tapa no meu rosto, um misto de emoções caíam sob mim. Ir na aldeia dele acompanhada por mim e um exército inteiro é diferente do que a Kamilla ir sozinha, ele só faz isso por puro prazer e diversão, para me afetar e... consegue.

Mesmo não querendo, comecei a chorar.

O Lúcius sempre conseguia me deixar triste, desanimada, infeliz. Tentei viver pacificamente em uma tribo e ele na outra, mas é inútil. Respirei fundo, limpei as lágrimas e falei com a Clara novamente antes de sair.

– Eu sei que está machucada e sem condições para nada, mas preciso de sua ajuda. – Ela ficou atenta. – Eu vou à Tribo Calmon atrás do pai da Kamilla, quando der uma hora após minha partida, você informa para o Alfa e os soldados.

– Por que eu não falo agora? – Perguntou.

Baixei a cabeça e voltei a chorar. Controlei o choro novamente e disse com a voz embargada.

– Porque isso é entre mim e ele.

Saí de lá deixando o Pedro bem amarrado para não conseguir se soltar, fui até minha casa, abri um baú localizado no meu quarto e com as mãos trêmulas, retirei minha espada de dentro a colocando atrás das costas.

Adentrei na floresta em direção à Tribo Calmon, indo atrás da Kamilla e também para acabar de uma vez por todas o causador das minhas lágrimas, Lúcius Calmon.

A Suprema AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora