Intimacy

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Uma semana se passou e Natasha não tocou mais no assunto de rever Maria, para a sorte dos irmãos Hill. Ela parecia incrivelmente satisfeita com tudo, como se tivesse ganhando presente em todos os dias da semana.

Mas sua curiosidade ainda era insaciável.

Na segunda-feira, quis saber se Maria tinha amigos e exigiu nomes quando Hill contou sobre cada um deles.
Na terça-feira, quis saber mais sobre a vila e pediu até para Maria lhe desenhar um mapa de seus lugares favoritos.
Na quarta-feira, era sobre espadas. Ela percebeu na noite anterior que a espada de Maria era diferente das espadas da guarda e exigiu saber a diferença. Inclusive que Maria lhe mostrasse como usar uma.
Na quinta-feira, ela quis saber mais sobre o que levou Maria a ser um cavaleiro.
Na sexta-feira, era como Maria sabia ler se era uma pessoa vinda do vilarejo.
E hoje, no sábado, Maria não sabia quais sequências de perguntas lhe seriam impostas logo cedo.

Ela chegou cedo e foi direto para a cozinha do castelo, onde pediu para uma moça um copo de que café bem quente. Café era uma bebida que ela nunca havia provado na vila, era caro demais para custear esse luxo, mas agora no castelo ela não podia negar que era de longe sua bebida preferida.
A primeira vez que tomou ficou acordada a noite toda.

— Sor, a princesa sabia que passaria aqui primeiro e pediu para você encontrá-la na pérgola do jardim.

Maria estranhou. Natasha nunca acordava cedo. Ela odiava.

Hill franziu a testa confusa e ficou olhando para a empregada.

— Ela acordou com os pássaros hoje, sor. Mas nem um pouco enérgica. Provavelmente está em um dia de mulher.

Fingindo estar envergonhado por saber da intimidade da princesa, Maria apertou o cabo da espada, limpou a garganta e abaixou o rosto.

— Há alguma coisa que agrade mulheres nesse período?

A empregada sorriu.

— A princesa Natasha? Nada agrada ela. O ideal seria deixá-la trancada na cova dos leões, mas como você não pode escapar, leve isso: — pegou uma bandeja já pronta com algumas coisas que Natasha gostava de comer e entregou para Maria. — E boa sorte.

Maria olhou para a bandeja e a maioria dos alimentos eram doces e de chocolate dos países altos. Ela queria muito provar chocolate. Ela nunca havia comido. Mas se conteve e caminhou cuidadosamente até o jardim.

No caminho, ela colheu algumas flores e colocou na bandeja para enfeitar. O que ela sabia era que naqueles dias ela gostava de ser bem cuidada (Mavin fazia isso por ela), então tentou dar o mesmo para Natasha.

— Está atrasado, sor. — Mesmo de costas, Natasha reconheceu os passos duros de Maria.

— Passei na cozinha. Elide insistiu que eu lhe fizesse comer.

— Não sinto fome.

— Não perguntei — desafiou.

Então Maria deixou a bandeja sobre a mesa.

Natasha estava pintando um quadro, então sequer desviou o olhar para a comida e flores.

— Chocolates? — Farejou no ar. — Não estou naqueles dias.

Novamente Maria limpou a garganta.

— Está constrangido? Achei que tivesse uma irmã.

— Uma coisa é minha irmã, outra coisa é a senhorita.

— É o mesmo processo — deu de ombros e molhou o pincel em uma tinha escura.

Maria ficou em silêncio alguns minutos observando a pintura de Natasha. Era a mesma sombra invisível de todas as pinturas que ela costumava a fazer, mas desta vez o formato parecia mais nítido. Quase se assemelhava a alguém de verdade.

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