Capitulo 03

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Rafaella
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Devo confessar que sua presença não foi tão intimidadora como eu esperava que fosse. Durante o almoço, pude perceber que aquele jeito mandão e ao mesmo tempo despreocupada de Gizelly não escondia, de forma alguma a sua impressionante personalidade.

Claro, não que isto mexesse comigo. Porém, abrir um pouco minha guarda me fez relaxar. Era quase como se todo aquele peso que eu sempre levo comigo tivesse aliviado um pouco. E isto sim me deixou de boca aberta com a sensação que estava experimentando.

Eu estava me divertindo, pensei chocada demais para admitir em voz alta.

Gizelly, apesar de discreta, mostrou-se uma grande fofoqueira quando percebeu que eu estava lhe dando uma oportunidade de se aproximar. A cada cliente que passava, ela apontava algum assunto que ‘’ ela já tinha ouvido falar.’’ e parecia cada vez mais absurdo o fato dela saber de tudo aquilo.

Fiquei muito tranquila por perceber que ela me oferecia sua amizade, mesmo que eu não mostrasse muito interesse em aceitar.

Eu não me esquecia do fato de que ela era a minha chefe. Nos anos em que trabalhamos juntas, jamais dei a entender que poderiamos ser algo a mais do que profissionais. Eu não estava em busca de amizade, nem de relacionamentos, principalmente com a minha chefe. Depois de tudo o que eu passei com o meu ex – marido eu me fechei e não queria depender ninguém, queria somente trabalhar e me erguer o suficiente para cuidar do meu filho.

- Não me julgue.- Riu. - As pessoas me contam muitas coisas, não que eu pergunte.- Deu de ombros. - Mas também não me faço de surda.

Cobri os lábios com o guardanapo para esconder minha risada.

- Não quero nem pensar quando você e a Doutora Jaqueline estão juntas.- Brinquei.

- Ela tende a querer me bater na maioria das vezes.- Brincou. - Mas é uma fofoqueira muito pior do que eu. Jaqueline vê coisas que a gente não quer que ninguém veja.

Senti um arrepio na base da coluna. Eu conhecia Jaqueline, e seu olhar aparentemente desinteressada não me engava de jeito nenhum. O que Gizelly acabou de dizer somente confirmava minhas suspeitas.

- Não se preocupe.- Levou o garfo na boca e mastigou tranquila. - Ela não sai por ai contando o que descobre.

- A menos que seja uma fofoca.- Voltei a brincar.

- Bingo!.- Riu. - Mas ela sabe ser discreta.

- Sei disso.
A encarei com bastante atenção percebendo que ela queria dizer algo a mais, principalmente quando seu sorriso se apagou.

- Sabe que também não adianta se esconder dela?.- Questionou agora séria. - Não é mesmo?

Não respondi, afinal o que eu diria? Chegava a estremecer só de pensar quais conclusões Jaqueline teria tirado ao meu respeito. E pior, o que ela disse a Gizelly sobre o que supôs.

- Eu faço terapia.- Contou e continuou a falar sem se importar com o meu olhar surpreso. - Nos conhecemos há tanto tempo que eu nem consigo me lembrar quando começou a amizade.- Riu. - Mas a Jaqueline, bem, ela é diferente de todos nós e ser amiga dela é um privilegio, principalmente pelas consultas grátis.

Gargalhei com a cara de pau dela.

- Não acredito nisso!.- Exclamei.

- É sério!.- Sorriu. - Qual seria a vantagem de ser amiga de uma psicológa se ela não pode me ouvir? Ela está sempre nos analisando.- Deu de ombros.

- E seus amigos também usam seus serviços gratuitos?.- Provoquei.

- Depende, só quando um deles vai preso.- Respondeu com um sorriso travesso.- A que mais me dá trabalho é a Bianca.

Quando o amor acontece (Girafa) G!P (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora