Rafaella
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Segunda-feira não deveria ser um dia tumultuado, principalmente depois do fim de semana tranquilo e longo
que tive.Mas antes que eu colocasse meus pés dentro do escritório já tinha recebido três ligações. Nenhum delas vinha com boas notícias. Cada chamada sobre uma cliente diferente.
A primeira, seu irmão foi quem ligou, para me informar que o ex-marido dela, que agora está foragido, havia quebrado a ordem judicial que o obrigava a ficar há cem metros de distância e agredido novamente minha cliente durante o inicio do dia.
Agora, ela estava internada com
sérios ferimentos e mais aterrorizada do que antes.Só Deus sabe como eu gostaria de ser uma louca nesse momento. Tudo o que queria era pegar esse idiota e bater
nele até a morte.A segunda ligação que recebi, era de uma das minhas clientes para dizer que recebeu mais ameaças do ex- marido e ela sentia que estava sendo seguida. O homem não desistia facilmente e infernizaria a vida dela até que uma tragédia acontecesse.
Falando em tragédia, o policial que me ligou informou que uma das minhas clientes havia sido assassinada pelo
ex-noivo. Ele a espancou e a esfaqueou durante a madrugada em seu próprio apartamento.Os vizinhos chamaram a polícia, mas quando chegaram até o prédio, era tarde demais. O ‘suspeito’, como a lei nos obrigava a chamar os assassinos, havia se suicidado, pulando do
decimo andar, logo depois de ter acabado com a vida da mulher que ele dizia amar.Fiquei perturbada com todas aquelas notícias e relatos.
Precisei de muito sangue frio para fazer o meu trabalho, mas antes disto, caminhei pelo meu andar com um café esfriando na mão e passei por minha secretária sem conseguir dar um bom dia.
Sentei na minha cadeira e percebi o quão trêmula estava. Não costumava reagir assim, geralmente buscava por frieza e comandava a situação, mesmo que tivesse pesadelos a noite.
Levei pelo menos meia hora para conseguir me controlar. Fiz várias ligações e pedidos no judiciário.
Adicionei mais páginas aos processos daquelas três mulheres e fui fazer algumas visitas, hospital, delegacia e Fórum.
Aquela parecia uma luta sem fim, uma guerra perdida. As leis são fracas e independente de quantas mulheres
sofra ou morram, nada muda.A violência contra as mulheres só se faz aumentar e por mais que a gente lute por justiça, a própria justiça é frágil ou cega demais para ajudar. Apesar de tanto a Polícia quanto a Lei serem obrigados a prestar assistência a essas mulheres, não tem sido suficiente.
A prova disto era minhas três clientes, uma espancada, outra ameaçada e perseguida, e a última morta.
O feminicídio só aumenta. As mulheres estão sendo coagidas e mortas por todo o mundo pelo abuso constante da força masculina.
Quando isto vai mudar? As décadas tem se passado e em vez de evoluirmos, a população tem se deteriorado.
O machismo não está tão
exposto como antes, mas parece ter se espalhado muito mais do que podemos imaginar. Pois está escondido em
onde menos esperamos e é aí que mora o perigo.Eu como vítima de violência doméstica e hoje como advogada especialista, posso afirmar com muita certeza de
que o abuso nem sempre está a mostra.Nem sempre é feitos por tapas.
O abuso geralmente inicia de forma psicológica. Sua mente é dominada pelas mentiras que escuta e passa a acreditar nelas.
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Quando o amor acontece (Girafa) G!P (CONCLUÍDO)
أدب الهواةSinopse O pior dos machucados são as cicatrizes, elas estão ali para te relembrar constantemente da dor que sofreu, de como sangrou, e principalmente, para mostrar que deve ter cuidado para que isto não aconteça novamente. Rafaella Kalimann estava a...