Capitulo 27

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ATENÇÃO!

Algumas frases ou palavras ditas podem gerar gatilhos..
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Rafaella
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— Hoje não é um dia fácil.- Comecei encarando o grupo de repórteres por de trás dos meus óculos escuros. — Durante a madrugada os policiais encontraram o corpo de Deborah Loreto sem vida e muito maltratado na beira de um lago, como já ouviram.- Senti a mão de Gizelly nas minhas costas, aquele pequeno toque me deu força para continuar. — Ela foi assassinada pelo seu ex-marido, um homem que não entendia que uma mulher não é uma propriedade. Que uma esposa deve ser amada e protegida. Que bater em alguém de forma tão injusta, não é certo, é
cruel, principalmente se essa pessoa não puder se defender.

Só Deus sabia como eu queria correr para casa e me esconder por horas, ou dias enquanto a dor que eu estava sentindo não se dissipasse. Deborah não foi a primeira cliente que perdi e infelizmente não será a ultima, mas de alguma forma sentia que aquele teria sido o meu futuro, se eu não tivesse ficado viúva antes. Seus machucados, seu depoimento, a vida que levava, tudo... era tão parecido com o meu
passado, que o trágico resultado daquele caso tirou-me de meus pés.

Engoli em seco e respirei mais fundo do que o normal antes de voltar a falar.
— Deborah não é a primeira, e nem será a última mulher a morrer nas mãos de um homem enlouquecido e egoísta.- Lembrei-me de todas as minhas clientes que foram assassinadas e doeu, doeu tanto que ficou difícil me concentrar. — Eu a conheci em um restaurante, estava almoçando, ela me abordou e me entregou um bilhete pedindo ajuda. Tanto eu, quanto a doutora Gizelly a acolhemos debaixo de nossa proteção e a ajudamos naquele dia. O senhor Loreto foi preso e dias depois ameaçou minha vida, mas isso não nos parou.- Endureci a voz. — O impressionante é que desta vez a Lei estava sendo cumprida, no entanto, ainda assim esse homem conseguiu encontrar um ponto fraco e fugiu. Infelizmente, sua ação mostrou que não somente as leis são frágeis como também a segurança pública, pois ela foi
sequestrada em plena luz do dia.- Balancei a cabeça frustrada. — A morte dela não será esquecida, eu não vou permitir!

Todos aqueles repórteres me encaravam com muita atenção e não me interromperam em nenhum momento.

Não tinham perguntas.

Não precisavam.

A história estava ali junto com todos os fatos.

— Não vou parar de lutar pelas mulheres.- Afirmei. — Não vou parar de lutar contra a violência doméstica e  a violência contra nós mulheres.- Encarei as câmeras com mais determinação. — Você, mulher, que esteja me
ouvindo e que sofre qualquer tipo de violência, entenda que você não está sozinha.- Suavizei minha voz. — O Grupo de apoio "Sentinela Delas" e o Grupo "Por Elas" trabalham juntos para oferecer ajuda a quem precisar, basta entrar em contato. Se não
conseguir falar, desenhe um "X" vermelho na sua mão, mostre para alguém e peça ajuda. E se não for o suficiente, ligue para a polícia e finja ser para algum restaurante. Nós
Vamos dar um jeito. Vamos te ajudar. Não deixe que a coragem de Deborah Loreto em pedir ajuda tenha sido em vão.- A emoção estava subindo em minha garganta. — Não é o fim. Não é aceitável a violência.- Afirmei. — Vamos buscar por justiça, todos os responsáveis pela fuga e pelo sequestro serão punidos. Não descansarei até que a justiça realmente seja feita.

Encerrei aquela entrevista emocionada com o respeito que aqueles profissionais estavam oferecendo a todas as mulheres vítimas de violência. Eles se mantiveram em silêncio, e não me impediram de sair acompanhada por Gizelly e seguir direto para o carro.

Foi quase impossível não chorar, mas segurei o mais firme que consegui durante todo o caminho de volta para o escritório. Meu coração estava partido em tantos pedaços que era difícil dizer como me recuperar.
Fiquei muito agradecida por Gizelly não insistir em conversar, ela somente me manteve presa ao redor de
seus braços dando-me conforto enquanto me permitia sentir aquelas emoções tão cruas.

Quando o amor acontece (Girafa) G!P (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora