Capítulo 1

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— Aí está você! — Arthur passou as mãos pelos cabelos ao ver a esposa passar pela porta da frente. — Me deixou desesperado, você não pode sumir dessa forma Sophia! — Deu bronca, mas a verdade é que estava aliviado. 

— Por que está gritando? — Perguntou com a voz embolada e ele franziu a testa, finalmente reparando nela. — Não precisa disso tudo. — Fungou diversas vezes e passou as mãos no nariz. 

Sophia tinha os olhos vermelhos e as pupilas dilatadas, seu nariz também estava vermelho. A roupa estava suja e o cabelo desgrenhado. A loira tinha saído de casa quatro dias atrás após uma briga com o marido por conta de um motivo que nem se lembrava.  

— Você está drogada de novo? — Constatou agora completamente irritado, se esquecendo do alívio momentâneo. — Até imaginava já que você passou dias fora de casa, mas uma parte de mim achou que você resistiria dessa vez, como me prometeu. 

— Foi só um pouquinho, não precisa fazer drama. — Ela disse caminhando pra dentro. — Cadê a Liz? Eu quero ver a minha filha. 

— Vai tomar um banho e deitar, não vou deixar você chegar perto da minha filha no estado em que se encontra. — Disse baixo, tentando controlar a raiva, afinal não adiantava nada brigar com ela enquanto estava daquele jeito. 

— Estou com saudade da minha filha e estou muito bem. Você não pode me impedir de vê-la. 

— Tá com saudade porque estava na rua cheirando sei lá o quê. — Avisou novamente. — Vai tomar um banho e se recuperar, só vai ver a menina quando estiver bem. — Disse por fim com um tom bem forte. 

Mas ela não obedeceu, estava agitada, andava de um lado para o outro, inquieta. Arthur segurou em seu braço e a levou pra cima quase que arrastada. Enfiou a mulher debaixo da ducha como se fosse milagrosa, quando sabia que não era. Sophia protestou, mas no final, acabou cedendo e finalizou o banho sem mais reclamações. Vestiu um pijama de verão e se deitou na cama, Arthur saiu de perto sem dizer mais nada e foi para sala, onde chorou em completo desespero. 

Sophia e Arthur se conheceram no estágio, no quarto período da faculdade de jornalismo. Se encantaram quase que a primeira vista e logo engataram um namoro. Quando terminaram a faculdade, após arranjarem seus primeiros empregos, os dois se casaram e logo tiveram Liz, única filha do casal, atualmente com quatro anos. 

Nos últimos três anos tudo desandou, a pequena tinha apenas um ano quando Sophia foi levada a experimentar maconha pela primeira vez. Tinha feito uma amizade com Luara, Arthur nem sabia de onde tinha surgido aquela mulher, mas só apareceu pra levar Sophia até o fundo do poço. A loira acabou se deixando levar, e não muito tempo depois tinha evoluído pra algo mais forte, como cocaína. 

Desde então uma luta começou dentro de casa, Sophia sumia dias e Arthur não sabia mais o que fazer pra ajudá-la. Já internou a mulher algumas vezes, ela sempre dava um jeito de sair e dizer que nunca mais ia usar novamente, mas bastava um gatilho pra tudo acontecer novamente. Ela estava há dois meses limpa, pelo menos até a briga dos dois. 

Arthur já não aguentava mais aquela situação, ele não podia expor a filha a viver daquele jeito, precisava dar um basta, amava tanto Sophia, mas não era possível continuar daquela forma. 

Ele pensou bastante no que faria enquanto Sophia estava no quarto apagada, aquilo era o fim, ele teria que dar um basta, mesmo sem querer.

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— Você tem certeza que vai fazer isso, Arthur? — Lua estava sentada diante dele, horas mais tarde. — É uma decisão bem drástica, sei que você ainda a ama.

— Não dá pra viver dessa maneira, Lua! — Estava a ponto de chorar. Lua havia sido sua primeira namorada, aos quinze anos. Os dois acabaram terminando e suas vidas tomaram rumos diferentes, quando se reencontraram, acabaram virando amigos. — Eu não aguento mais!

— Ela precisa de ajuda!

— Ela não quer ajuda! — Insistiu, passando as mãos pela cabeça. — Eu tento ajudá-la desde o começo, tento fazer com que enxergue que está não só acabando com a sua vida, mas com a minha e da Liz também, mas parece impossível, ou ela não vê, ou finge que não vê.

— Vício é complicado, não é tão simples escapar dele! — Lua insistia com a voz doce. — Dê à ela uma última chance!

— Eu já dei à ela muitas últimas chances, eu sempre digo que vou dar um basta e sempre desisto porque a amo, mas chega! — Disse bravo e Lua não o respondeu. — Eu já tentei internar, eu já tentei ir a reuniões com ela, eu fiz tudo que estava ao meu alcance, não dá mais.

— E você pretende fazer o quê? Largar ela na rua sem nada? Isso é loucura, Arthur, voce não pode fazer isso.

— Lua, você entendeu que ela é uma viciada? Se eu der a ela dinheiro ela vai cheirar tudo, se eu der a ela uma casa mobiliada ela vai vender e cheirar tudo! Ela precisa de ajuda, mas só vai conseguir quando entender que está doente, antes disso vai ser impossível.

— E a filha de vocês?

— Não vai ter contato nenhum com a menina. — Disse sem dó. — Eu cansei de expor minha filha a esse tipo de situação. Eu a mandei pra casa da minha mãe em outra cidade desde que a Sophia sumiu, porque por mais que eu quisesse acreditar que ela não faria de novo, eu sabia que faria sim.

— Estou com pena dela. — Lua disse baixo, encarando Arthur que parecia triste. — Sua filha vai sofrer muito com essa separação brusca.

— Ela está sofrendo com as coisas do jeito que estão. Achei que ficaria casado pra sempre, é difícil admitir que acabou. Principalmente se ainda tem sentimento. — Suspirou cansado. Havia arrumado uma mala pra Sophia e estava prestes a expulsar a loira de sua vida, a única coisa que estava esperando era que acordasse.

— Sinto muito, de verdade. — Se levantou para lhe dar um abraço e Sophia apareceu ali os olhando de cara feia, sempre teve ciúmes de Lua e não a suportava dentro de casa.

— Que pouca vergonha é essa? — Reclamou chamando atenção para si. — O que essa mulher está fazendo dentro da minha casa e agarrada em você, Arthur?

— Você não está em posição de dar chilique por ciúmes. — Ele disse seco. — Lua é uma grande amiga e está me confortando numa hora difícil.

— Eu imagino bem o tipo de conforto que essa daí quer te dar. — Disse com um tom maldoso e Arthur rolou os olhos, sem paciência pra isso. — Sai da minha casa, Lua.

— Ei, nada disso! Pode parar de graça. — Saiu em defesa da amiga. — A única pessoa que vai embora dessa casa é você. — Sophia foi pega desprevenida e abriu a boca em surpresa.

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora