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Sentada desleixada em seu trono, na sua cabeça ainda recapitulava como tudo isso foi acontecer. Como tudo chegou aonde chegou, mesmo que já tenham se passado anos.

Seus pensamentos são interrompidos pelo barulho da porta se abrindo e os passos de alguem andando na sua direção. Levanta o olhar e em seguida a cabeça, prestando atenção ao que a pessoa quer lhe dizer.

- Dalila! Lucille Dracul a aguarda lá fora.

Ah, os Dracul! Descendentes de Vladimir. A mulher se levanta e caminha para fora de sua casa indo de encontro a Lucille que ao ver a mulher abriu um leve sorriso e lhe reverenciou:

- Majestade, me perdoe por lhe perturbar...

Dalila suspira e encara a grande vampira a sua frente.

- Não sou uma rainha, você sabe disso!- Falou a loba soltando um longo suspiro.

Lucille passa a língua em seus dentes, também não gostava de visitar a loba rabugenta. Mas como líder dos Dracul, diplomacia não era uma escolha! Ela conseguia ouvir os batimentos da mulher mais velha a sua frente e sabia que estava cansada. Então talvez fosse uma questão de tempo até conseguir o que realmente queria. Só precisava ser um pouco mais paciente. Afinal, com cachorrinhos é assim, nao é?

- Dalila, você deve saber que a tensão entre nosso povo está aumentando. Eu não quero guerra, seu povo mal sobreviveu a última. - Disse em tom debochado. - Seu povo vai te seguir onde quer que você vá e também vai te apoiar. Pensando nisso, eu tenho outra proposta pra você!

A mais velha olha para ela esperando ela dar continuidade. Mesmo sendo chata e um pé no saco, Dalila não podia negar que uma guerra extinguiria seu povo e após anos tentando estabilizar a situação, tinha que ser cautelosa para não colocar tudo a perder. Afinal, tinha crianças ali. Crianças que não têm noção da guerra e dos perigos do mundo afora. As crianças eram um grande sinal de esperança e cabe a Dalila manter isso.

- Bom, eu só quero a lua vermelha. Só isso! Meu povo vai ficar muito feliz se o poder da lua vermelha voltar para nós!

A mais velha acena positivo com a cabeça sem pestanejar o que surpreendeu Lucille, já que todas as outras tentativas de negociação deram errado. Mas ela sorriu vitoriosa, isso daria mais poder a todos do Reino Dracul.

Só não dá para dizer o mesmo dos outros lobos que estavam ao redor que olharam incrédulos para Dalila. Ela está dando poder ao inimigo, isso não pode estar acontecendo! Ninguém conseguia decifrar o que se passava na cabeça da líder loba. Ela está deixando a todos vulneráveis. A lua vermelha era a garantia que os vampiros não teriam força e nem poder o suficiente para se levantar contra os lobos. E agora eles têm e como tem!

- Até o fim do mês terá sua lua de volta! - Respondeu a mulher lhe dando as costas e voltando para dentro.

Lucille não conseguia parar de sorrir. Os Dracul finalmente vão voltar ao lugar que jamais deveriam ter saído. Agora Dalila tinha que ouvir os outros lobos falando em seu ouvido, descontentes com a decisão.

- Dalila, você assinou uma sentença de morte para nós! - Disse um dos lobos.

- Seu irmão ou seu pai, jamais iriam fazer isso. Não é certo ceder aos vampiros. Eles vão nos aniquilar! - Disse outro.

-A lua vermelha era a nossa única chance e você vai devolve-la? - Disse mais um.

Com tanto falatório Dalila se estressa e solta um alto rosnado, fazendo com que os outros baixassem a voz e prestacem atenção nela, ao que ela iria falar.

- Meu pai e meu irmão não estão aqui! Eles morreram brigando com os vampiros. Muitos aqui lembram daquela noite onde nós enterramos as três pessoas que eu mais amava. -Disse a mulher enquanto andava e falava entre os outros lobos que a seguiam com os olhos e a audição. - Meu pai, meu irmão e meu marido!

Todos em silêncio. Aquela noite, foi noite de eclipse. Choveu luto e a terra se encharcou com o sangue de vários entes queridos. Dalila teve que assumir mesmo sofrendo a perda daquelas três pessoas. Seu povo, sua família, não podiam ficar sem um líder.

- Nossa alcateia, não tem o suficiente pra um exército e vocês querem arriscar guerra? De novo? Vocês agora tem filhos. Já pararam pra pensar neles? - O tom de sua voz era de inconformidade e raiva. - Tenho uma filha mais nova de 10 anos. Acha que não estou pensando nela? Acha que não estou pensando em vocês? - O tom de sua voz subia cada vez mais. -Nós temos a lua azul e somos descendentes de Fenrir. Seja lá o que eles estiverem pensando ou tramando, nós vamos revidar no momento certo! Mas nunca uma guerra!

Ela termina de falar de frente para todos, encarando com um olhar firme e repreendedor. Todos abaixaram a cabeça e um a um foram saindo daquela sala e Dalila se senta em seu trono estressada até que ouve pequenos passos e uma voz infantil. Era Agar, sua filha. A mais velha abre os braços e a recebe em um abraço caloroso seguido de vários beijinhos. Era seu anjinho, sua lobinha de asas.

A pequena mostra a sua mãe um desenho que havia feito. Disse que demorou pois fez com muito carinho. Dalila pega o desenho e o olha com atenção e mesmo estressada, abre um sorriso para sua filha. Ela iria colar na parede junto com os outros desenhos.

A lobinha então sai do abraço de sua mãe e corre para fora para brincar com as outras crianças. Dalila iria construir um mundo de paz para os seus. Não vai voltar a ser como era antes é claro, mas a esperança vai reinar até mesmo quando o sol se pôr!

A FORÇA DO LOBO ESTÁ NO BANDO Onde histórias criam vida. Descubra agora