Problemas?

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Mais um dia chegou e mais uma vez, Dalilia relutou em sair da cama. Por mais que tentasse, não sentia vontade. Todavia, tinha obrigações e uma família para cuidar. Ou pelo menos o que sobrou dela.

Os dias passam sem a mais velha perceber. E quando vê, já é hora de dormir de novo, o que as vezes é uma tortura para conseguir dormir. E quando dorme, não quer acordar. Tem sido sempre assim nos últimos tempos.

A mais velha se arrasta da cama para o banheiro, onde se encara no espelho meio que sem vida. Os olhos fundos e com olheiras. Seu cabelo que antes era volumoso e brilhoso, agora era fino e não importasse o quanto penteasse, sempre saía muito cabelo.

Mas não podia demonstrar nada disso. Durante anos, Dalila reprime tudo o que sente. Mas as vezes, ela se sente drenada. Sem vontade de conversar, de comer... Só quer ficar em um canto e esperar recarregar a sua vontade de novo. Ela sente saudade dos velhos tempos. Quando mesmo que sua vida fosse difícil, ainda assim, ela conseguia ser feliz! Tinha um ótimo marido ao lado e também um pai maravilhoso. Também tinha ao seu lado seu amado irmão. Ele era pentelho as vezes, mas era seu irmão. E não podia faltar seu pai é claro. Que sempre a apoiou e mesmo estando casada não deixou de cuidar da filha. Assim como Dalila, o homem não tinha estudos, mas era cheio de sabedoria e um guerreiro muito valente!

Ás vezes quando deita para dormir parece que seu travesseiro pesa toneladas e ela não consegue relaxar! E para piorar, na calada da noite, sua mente é invadida pelas lembranças de 7 anos atrás quando toda a sua felicidade desmoronou e todos os motivos de risos e alegrias foram embora com o vento. As vezes seu peito apertava tanto que lágrimas escorriam pelo seu rosto. Mas não podia deixar seus filhos verem ou ouvirem, então mordia o seu cobertor o mais forte que conseguia, até se acalmar e no dia seguinte acordava toda desgrenhada e com a mente vazia, como se seu corpo estivesse flutuando e quando menos percebe já está na cozinha ou na sala, sem nem ao menos se lembrar direito de como foi parar lá. Vivendo no piloto automático é o que ela possivelmente descreveria se ao menos conhecesse essa frase.

Sua mente mergulhada em devaneios é despertada pela sua filha chamando seu nome pois tinha que ir para escola. Dalila olha para a sua menina e acena positivo lentamente. Joga uma água no rosto e vai para cozinha fazendo um café da manhã rápido e ao olhar pela janela, o sol nascendo devagar. Agar morava distante da escola, então precisava levantar mais cedo que o normal para chegar no horário.

Enquanto tomava seu café, sua mãe preparava e ajeitava sua mochila. Victor, o filho mais velho, nem se mexia de tão profundo que estava seu sono.

- Agar, já terminou? - Perguntou a mãe.

- Tô terminando... ‐ Respondeu a mais nova.

- Quando terminar, vai escovar os dentes e se arrumar rápido que a gente tem que sair, entendeu? ‐ Disse a mais velha fechando a mochila de sua filha e a colocando perto da entrada e saindo em seguida.

Ah, o sereno da manhã! Aquele misto de madrugada e manhã. Dalila vivia em uma área remota junto com todo o seu bando. Aproveitando o clima calmo, se espreguiçou dando uma leve bocejada no final. Ao se virar viu Adam indo em sua direção. Ele acordava primeiro que todo mundo e fazia uma ronda rápida pelo território. Dalila achou que ele daria um bom dia, mas ele deu muito mais do que isso.

- Está sabendo dos rumores? ‐ Perguntou o homem.

- Que rumores?

- De uma possível guerra entre lobisomens e vampiros. - Respondeu Adam.

- Eu vivo num mundo real Adam e não num mundo fantasioso. Se tiver guerra vai ter e vamos ter que estar prontos para isso. Lucille não tá de brincadeira e ultimamente ela tem estado quieta. Com certeza ela está aprontando alguma coisa. - Respondeu Dalila se balançando um pouquinho devido ao frio que estava fazendo de manhã cedinho.

- Então tudo bem para você se estourar uma guerra? ‐ Perguntou Adam olhando para a mulher ao seu lado que tinha um semblante neutro e um olhar distante.

- Obvio que não tá tudo bem caramba!! - Respondeu a mulher olhando de imediato para Adam e lhe dando um tapinha em seu braço. - Mas que escolha a gente tem no final? A gente precisa se defender e garantir um futuro para nossa raça. Você sabe que nós não fugimos de guerra quando é pra ser. Lutamos até o fim! E talvez dessa vez não seja diferente.

- É verdade...

- Não quero deixar meus filhos órfãos... - Murmurou Dalila desviando seu olhar para o chão.

- E não vai! Não iremos deixar, tá bom? Você vai voltar para eles. - Disse Adam querendo reconfortar sua amiga. Afinal quando tem filhos no meio, as coisas ficam mais delicadas.

Dalila apenas concordou com um aceno de cabeça e então ouve a voz de sua filha ao longe, saindo de casa com a mochila nas costas, indo na direção da mãe.

- Tô pronta!

- Vamos! - Disse a mãe.

As duas entram no carro, Dalila da a partida e vai dirigindo até a escola. O sol já havia nascido, não estava com toda a sua força, mas seus raios se faziam presente.

Ao olhar para o lado, vê Agar dormindo. Isso sempre acontecia já que o caminho para a escola era longo. Pelo menos não tinha trânsito já que era bem cedo. A mais velha da um longo suspiro, passa a outra marcha e acelera.

Ao longo do caminho, a luz do sol se fazia cada vez mais presente. O coração de Dalila, erra umas batidas quando a mesma se lembra do que teria enfrentar, não só fisicamente, mas também mentalmente. Era cansativo claro, mas ela já se acostumou e só torce pro dia acabar e poder voltar para cama.

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