Capítulo 17 - Encontro estranho

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PAULA

Dois dias depois.

Era fim de tarde e começava a escurecer, tivemos um dia preguiçoso, acordamos tarde, comemos besteira e assistimos a filmes sem parar. Agora eu estava no meio de uma ligação por skype com a minha mãe enquanto Stella estava no banho.

― Nil já voltou para casa e a Cintia está passando um tempo com suas primas. ―ela me sorriu sem humor. ― Eu estou com saudades, minha filha. Quando você vem? ―Minha mãe limpou uma lágrima no cantinho dos olhos e a saudade que eu sentia se multiplicou.

― Mamãe, por favor, não chore. Eu volto logo. ―levei minhas mãos à tela e Dona Dulce fez o mesmo, ficamos ali com as palmas estendidas até que nos duas conseguíssemos respirar direito. Essa era a primeira viagem de férias que eu fazia sem minha mãe. Eu sentia uma saudade enorme, mas Stella estava cuidando disso melhor do que ninguém.

― Só mais dois meses e pronto. ―Eu disse com receio, ela ainda não sabia que eu ficaria todo esse tempo, e se eu dissesse conhecendo-a com eu conheço, ela viria atrás.

― O que? ―ela me olhou indignada. ― Ta, ta faça o que é melhor, aproveite! ―eu sorri, notei que mamãe olhava em direção aos meus seios e olhei em questionamento pra ela.

― Jóia nova? ―ela me perguntou sorrindo e eu instintivamente levei as mãos até o colar e não pude conter o sorriso enorme que atravessou os meus lábios.

― Stella me deu, é lindo e fofo não é. ―eu tinha os olhos no colar admirando a aliança.

― É lindo mesmo, vocês estão namorando agora? Ela vai vir para cá, ou vai ser a distância como na época do Henrique? ― Mamãe tinha um olhar diferente, vi que estava preocupada comigo. Eu abaixei a cabeça. ― Estamos juntas apenas, não quero por rótulo em nada e, por favor, não me lembre do Henrique. Está bem? ―ela assentiu para cada palavra que eu disse. Eu estava com fome e meu estômago resolveu dizer isso alto demais.

― Paula? ―Recebi um olhar confuso da minha mãe. ― Isso foi seu estômago, ou eu não estou sabendo distinguir som nenhum? ―Eu fiquei vermelha.

― Sim, foi meu estômago mamãe. ―passei as mãos no abdômen.

― Oh, essa moça está deixando meu bebê sem comer, tem certeza que não quer voltar? ― Mamãe gargalhava. ― Você adora comer, minha filha, vai vim logo correndo para casa. ―eu sorri dessa vez.

― Para mãe, Stella já está vindo fazer o jantar. ―eu disse.

― Céus, ela cozinha também. ―mamãe disse espantada. ― Cadê essa mulher, você não vai me apresentar? ― Mamãe dizia esperançosa e eu ponderei, deveria ou não? Balancei a cabeça e ignorei qualquer pensamento.

― STELLA? ―eu gritei chamando-a.

Virei para mamãe que falava sobre os lugares que visitou nessas férias.

De repente mamãe se calou e depois soltou um 'Oh' a olhei sem entender e ela apontou para trás de mim. Virei devagar e Stella estava ali, petrificada e com os seios de fora, os cabelos loiros úmidos, só de calcinha. Eu sorri, ela estava com os olhos arregalados e a boca aberta olhando para a tela do computador. Minha vontade foi de agarrá-la ali mesmo e beijá-la inteirinha, mas lembrei-me do que se passava naquele exato momento.

― Belos seios querida! ―disse minha mãe saindo do transe.

― MAMÃE ―eu disse espantada. Olhei para Stella que parecia um pimentão e tentava cobrir os seios de qualquer maneira. ― Essa é minha mãe, amor. ―eu disse a Stella.

― Oi ―ela disse envergonhada para minha mãe. Que encontro estranho eu pensava.

― Prazer em conhecê-la! ―mamãe disse.

― O prazer é todo meu, eu... eu vou me vestir e já volto. ―Stella saiu da sala como um foguete. Virei-me para mamãe envergonhada.

― Parabéns minha filha.

Logo depois Stella veio, ainda estava vermelha e mamãe ainda estava ali.

― Quer ajuda com o jantar? ―eu disse querendo deixar tudo mais calmo.

― Não se preocupe meu amor. ―eu a olhei com uma carinha triste. ― Não queremos pôr fogo na casa, não é? ―Stella disse e mamãe gargalhou, minha loira veio me dar um beijo no alto da cabeça e eu me conformei. Na semana passada eu tentei fazer uma omelete e a panela pegou fogo, se não fosse Stella eu teria queimado junto com a cozinha.

Enquanto Stella cozinhava, ela e mamãe iam conversando, as duas sorriram uma para outra. Minha loira era falante e mamãe a adorou e a conversa estava boa demais. O celular de Stella tocou, ela pediu licença para atender e sumiu por entre os cômodos.

― Ela é adorável, minha filha! ―mamãe disse-me sorrindo. ― O que pretende fazer quando chegar a hora de ir? ―mamãe tocou em um ponto delicado e eu abaixei a cabeça.

― Eu não sei. ―eu disse baixinho.

― Vou deixar você pensando, eu preciso desligar. Diga a Stella que mandei um beijo e a mamãe te ama. ―ela disse e logo depois encerrou a ligação.

De noite meu pensamento não me deixou dormir, eu estava apaixonada por uma mulher extremamente linda e doce que também sentia o mesmo por mim. Aquilo era muito para o meu coração e como se não bastasse todo aquele sentimento em demasia, morávamos em países diferentes. Eu sempre li que a vida é curta e temos que curtir o presente, curti ao máximo tudo o que nós temos, mas como eu posso curtir e viver tudo isso aqui e agora, se eu sei que há uma despedida me aguardando? É difícil pra cacete, e eu não sei como parar de pensar nisso. Eu sempre resolvi tudo na minha vida com soluções exatas, eu não ficava em cima do muro nunca.

Mas a vida te traz surpresas e desafios, Stella era minha surpresa e o meu desafio. Eu me entreguei a ela como nunca antes, meu último relacionamento não foi assim eu não consegui cruzar a linha tênue. Dizem que quando é verdadeiro você sente, pois então eu sentia tanto que às vezes me causava falta de ar. A vida não facilita mesmo e o grande desafio seria dizer adeus.

Respirei fundo senti Stella me abraçar mais forte e me dar um beijo no ombro, um simples toque dela me fazia suspirar.

― Estou com saudades do meu apartamento, amor. ―me disse baixinho. ― Podemos passar o dia lá amanhã? ―Stella dormia em minha casa sempre e eu me acostumei tanto a isso que me esqueci de que ela também tinha um lar, me senti totalmente egoísta.

― Como quiser, meu amor. ―virei para ela. Escondi meu rosto no seu peito quente e ouvi as batidas do seu coração, uma lágrima escorreu dos meus olhos eu gostaria de dormir sempre assim, nos seus braços ouvindo seu coração bater, e o seu peito subir e descer de leve como a respiração lenta. Eu gostaria de tê-la sempre comigo.


Minha loucura está à solta.

E, correndo, em cima de você,

Por favor, me leve a lugares que ninguém vai,

Você me tem ligada no sentimento.

Você me deixa pendurada no teto,

Me tem tão louca que eu mal respiro.

Então não me deixe,

não me deixe, não me deixe,

não me deixe ir .

Descobrindo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora