Descobrindo-me

Capítulo 33 - Poderia ser pior?

STELLA

Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso.

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa.

Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir.

preso em marcha-ré.

E as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

Quando você perde algo que não pode substituir.

Quando você ama alguém, mas isso se desperdiça, poderia ser pior?

Eu não sabia explicar o que aconteceu. Eu vi tudo ruir e mesmo assim ainda estava sentada tentando conter as minhas lágrimas. Eu deveria me conformar e seguir adiante como se nada tivesse acontecido, porque era só mais uma perda, mais uma história que não teve tempo de dar certo. Eu deveria estar conformada porque tudo era assim desde que eu me lembrava. Eu deveria estar acostumada a perder pessoas. Minha cabeça doía como se um martelo estivesse me atingindo a cada instante, minha visão estava por demais turva ocupada pelas muitas lágrimas que ainda caiam sem previsão para cessar. Meus pulmões já não queriam trabalhar mais. Faziam um esforço enorme para puxar o ar, devido a minha curvatura naquele chão frio. Pela primeira vez eu não estava conformada em perder, me parecia errado ver todo o meu amor por ela se escorrer assim. Ela era a minha garota de um milhão de dólares, a melhor coisa que me aconteceu na vida. E agora o meu coração estava partido por tê-la visto ir sem que eu conseguisse falar ou impedi-la.

Minha destra segurava o celular e eu o apertava como se aquilo fosse aplacar algo dentro de mim, seria estúpido se eu ligasse? Eu deveria dar tempo ao tempo? Sinceramente acho isso uma grande bobagem, o tempo não resolve nada, faz com que fiquemos acomodados e nos força a esperar algo que talvez possa acontecer, a ferida sempre vai estar lá e você escolhe se quer se lembrar ou não. Então quando alguém lhe falar que o tempo cura tudo, mande essa pessoa ir á merda e continue andando. Se eu desse tempo, com certeza a mente dela trabalharia em cima daquilo que ela presenciou e aí seria o meu fim de fato. Comecei a discar o número decorado, lentamente esperando segundos para o próximo, um de cada vez. Minha mente trabalhava a procura de palavras que não soassem mentirosas ou conhecidas demais. Eu não queria dizer um discurso de filme romântico clichê, eu só queria que ela escutasse a verdade que eu tinha para contar. Essa parte era difícil. Mas eu deveria mostrar a bagunça que é minha vida, a bagunça que eu deixei para trás e todo o tormento? Ela merece mais, muito mais. Talvez eu não seja o suficiente, talvez devesse ser assim. Parei de discar o número, via as muitas notificações de Ali, desde a minha festa não falei com ela, mas não dei importância, bloqueei o celular, ela não me atenderia, estava óbvio.

Eu deixei Elizabeth fazer o que queria como sempre, deixei que me invadisse e me tomasse, éramos irmãs, mas ela nunca pensou dessa maneira, eu era um brinquedinho que ela brincava e quando enjoava largava-o de mão até que sentisse falta novamente. Porque eu achei que dessa vez fosse diferente? Ela queria me ver sofrer desde o instante em que começou os telefonemas, queria ser superior desde o instante que me negou aquele patrocínio nunca se interessou pelo setor de tecnologia e agora, de repente era sócia majoritária de uma empresa de software.

Elizabeth possuía uma empresa de grande porte no ramo da moda, sempre quis ser modelo e quando foi embora disse que eu a atrasaria, que a passarela a esperava. E então ela foi e me deixou esquecida naquele orfanato.

Dois dias se passaram, suportei-os com a ajuda do álcool, abençoado seja! Mas mesmo assim não surtiu muito efeito, eu chorei e solucei como uma criança. Dormi e acordei no corredor, não entrei no meu quarto porque o cheiro dela estava concentrado ali e isso me tirava a estrutura, a mesa do café que preparei estava intocada e a sala totalmente destruída, o corredor parecia a alternativa menos dolorosa. Ouvi a campainha tocar, o interfone tocar, mas mesmo assim não me levantei, eu não estava bem e não queria ser julgada por ser rude com ninguém depois.