Descobrindo-me

Capítulo 27 - Quebrada

STELLA

Abaixei a cabeça e respirei todo o ar que me fosse possível. Tirei sua mão do meu ombro e me afastei virando de costas, indo em direção a minha mesa.

― A única coisa que você ainda tem é os trinta dias, mas posso providenciar sua saída de imediato. ― Sentei no tampo da mesa e alcancei o telefone com a intenção de resolver logo o assunto. Ela veio a passos rápidos, mas cautelosos até mim.

― Não precisa ser assim. ― disse ao mesmo tempo em que pegou o telefone da minha mão e pôs de volta a base. ― Você pode não achar, mas... ― se aproximou do meu rosto, seu olhar caindo para meus lábios. Engoli seco. ― Eu ainda posso ser útil de outras formas, eu não entendo só de design. ― sussurrou e sua mão subiu até meu rosto. Sorri com todo aquele teatrinho.

Ela passou as mãos pelo próprio corpo, levou aos seios e os apertou, logo depois as mãos foram para seu o quadril e ela desferiu um tapa e o apertou em seguida. Olhou pra mim e lambeu os lábios piscando o olho. Eu me indignei com tudo aquilo não parecia a Verônica séria e de nariz empinado, parecia uma mulher vulgar e sem escrúpulos.

― Para de se insinuar para mim. ― contornei minha mesa, para sentar. ― Volte para o seu setor. Caso contrário, você terá sua demissão hoje mesmo. ― falei de forma categórica.

Ela sorriu de forma cínica e veio até mim. O telefone já se encontrava de novo em minha mão, pronta pra discar para a segurança.

― Sinceramente... ― ela alisou a camisa, abriu os primeiros dois botões descaradamente e caminhou em minha direção. ― Eu garanto que sou bem melhor que aquelazinha. ― piscou para mim, no mesmo instante meus punhos se fecharam. ― Ela é tão magra e sem sal, não sei o que viu nessa cantorazinha de quinta. ― deu uma risada diabólica e um revirar de olhos.

Abriu mais botões e caminhou para cima da minha mesa, tão rápido quanto um veneno. Meu sangue ferveu, pensei que pudesse me controlar, mas assim que ela disse aquelas coisas, eu não me contive. Avancei em sua direção e fiquei frente a frente bufando toda a minha repulsa sobre o seu rosto. A olhei de cima a baixo, medindo sua blusa aberta com certo enjoou. Como um ser humano poderia se rebaixar de tal forma? Voltei os olhos para encará-la com decepção. Ela me olhava assustada e eu podia me imaginar para entender seu olhar de medo.

Ela abaixou o olhar e eu acompanhei, só agora havia me dado conta de que segurava o seu braço com extrema força; encarei a vermelhidão na região e respirei fundo. Vários flashes passaram na minha cabeça, mas eu os ignorei.

― Nunca mais repita essas palavras, muito menos fale o que não sabe! ― Minha voz saiu um tom mais alto, firme e veemente. . ― Se recomponha, pegue suas coisas e saia. Não precisa voltar amanhã. ―falei por fim soltando o seu braço.

Ela fez o que eu pedi apressada, alisou o braço avermelhado. Eu a encarava e analisava cada movimento com os braços cruzados e o semblante sério, com a respiração pesada.

― Você vai se arrepender por isso! ― gritou enraivecida, ― Pensei que fosse esperta querida. ― soltou caminhando para a porta. ― Mas creio que Elizabeth vai gostar de saber disso. ― dito isso ela saiu soltando uma risada estridente.

Eu tremi assim que ouvi o nome. Encarando a porta por míseros segundos antes de gritar.

Gritei até sentir a garganta arranhar, logo depois os objetos de cima da mesa foram ao chão; os papéis, o computador, o telefone e todo o resto. Caminhei até o pequeno bar que havia ali e me servi de uísque, sentindo-o descer de uma vez Servi mais uma dose e andei até minha mesa, agora vazia. Abri a última gaveta e peguei a única coisa que havia ali, o frasco transparente de cor laranja e arredondado, com pílulas vermelhas. Não pensei muito, apenas levei duas até a boca e as engoli com a ajuda da bebida. Relaxei na cadeira com os pés por cima da mesa, não passou 10 segundos e a porta se abriu revelando uma Marcela assustada assim que viu o estado da minha sala. Devia ter voltado do almoço há pouco, pois ainda segurava uma garrafinha de suco entre as mãos.