PAULA
Passado alguns dias o meu estado beirava o mesmo. O almoço e o jantar se passaram lentamente sem que eu interagisse com ninguém da mesa, não preciso dizer que não comi nada, mamãe preparou meu prato preferido: frango com quiabo e polenta, mas eu não senti a menor vontade e me desculpei diversas vezes. Eu estava completando 25 anos de carreira e para comemorar essa data fui convidada a participar de um festival, seria o meu primeiro show desde a volta ao Brasil.
Estavam todos animados para a volta aos palcos tanto a banda quanto minha família. Aquilo deveria me ajudar e colocar meu ânimo lá em cima, mas isso não aconteceu. Eduardo Amarantes meu estilista e amigo juntamente com o namorado Victor foram me prestigiar e matar a saudade, ainda não tínhamos nos encontrado. O show seria em uma arena de Belo Horizonte aberto ao público, também gravado por uma emissora norte-americana para um festival chamado Brazilian Day que acontece em Nova York. Portanto o meu show passaria em um telão nos Estados Unidos e em outros países. Cerca de 30 nomes da música brasileira foram escolhidos. O festival dura um dia inteiro e minha apresentação seria no começo da noite, havia uma pesquisa sobre cada um dos escolhidos sendo assim consultaram as entrevistas recentes da quais participei e no meio de tantas que poderiam escolher viram uma em que dancei juntamente com o dançarino Dynho, eu precisava fazer a performance outra vez, para o encerramento do meu show, não pude negar. Então, mesmo sem astral, eu estava lá.
Enquanto Edu me ajudava no camarim notei seu jeito inquieto e logo veio o que era de se esperar; questionou-me sobre a viagem e sobre o ocorrido, levei algumas broncas por não contar meu namoro, mas não me importei muito. Levei mais broncas depois que ele soube de tudo disse-me que relacionamento homoafetivo era um dos piores de se sofrer e também um dos mais verdadeiros, essa segunda confissão me deixou ainda pior. Era evidente que com Stella eu me sentia mais solta, livre e desimpedida, o sentimento era diferente, algo que eu nunca havia experimentado antes. Contudo, quando rompemos lê-se; quando eu fugi. eu sofri e ainda estou sofrendo como nunca antes também.
― Tem um rímel novo na minha bolsa, vamos testá-lo. ― eu disse apontando para minha bolsa do outro lado do cômodo. Ele se calou e eu soltei o ar que estava preso nos pulmões.
Foi até minha bolsa, porém demorou em sua busca e eu me lembro de ter deixado no estojo de maquiagem bem a vista, o olhei através do espelho e ele tinha uma expressão contida olhando para dentro da minha bolsa.
― Não me diga que tem um monstro aí, vamos logo com isso, não posso entrar atrasada. ― eu disse sorrindo.
Ele retornou, mas em sua mão não havia só o estojo, mas também o livro que eu tanto temia. Olhou a capa e a contracapa, parou os olhos na primeira folha e depois revirou as páginas como se procurasse algo, fechou e quando me encarou com um olhar questionador.― Não tem marcador de texto, e não estaria na sua bolsa caso já o tivesse lido, ou seja, ela te escreveu um livro e você ainda não leu. Por quê? ― perguntou segurando o livro bem próximo a mim. ― Paula, você me mostrou fotos dela, da empresa, dos programas que fizeram, me contou sobre a carta. Quando fala dela é como se sonhasse, ela se desculpou, ela prometeu se explicar e escreveu um livro e você não o lê. Deu uma olhada na dedicatória pelo menos? ― neguei com a cabeça e seus olhos se arregalaram ainda mais. ― Deveria, até eu estou apaixonado por ela, e olha que eu não gosto da fruta!
Puxei o livro de suas mãos e abri na primeira página, a dedicatória dizia:
Você sabe que é para você, mas mesmo assim quero tornar oficial. Dedico à única pessoa que consegue fazer com que eu me livre de mim mesma só com o cheiro do seu perfume a quilômetros de distância. Para minha garota de um milhão de dólares.
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Descobrindo-me
Hayran KurguPaula acaba de terminar o namoro com o dentista Henrique do Valle, ainda não sabe definir seus sentimentos em relação ao término. Mas não está triste, esta mais para esperançosa, acha que agora é a hora de uma nova descoberta quer explorar seus lim...