Capítulo 32 - Dúvidas

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PAULA

Quanto maior a beleza,

maior a ignomínia

GEORGE BATAILLE


Eu fiz certo em ter fugido antes que tudo viesse a piorar? Eu fiz certo de não ter a deixado se explicar no meio daquele cenário de horror? Foram essas as perguntas que fiz quando cheguei a minha casa, durante o trajeto, dentro do carro minha mente estava limpa, eu apenas chorava. Eu chorava tentando me manter atenta à estrada na minha frente. Pensei que estivesse sonhando e que quando abrisse os olhos tudo seria uma mentira e eu estaria bem de novo, mas não. Eu cheguei em casa e a ficha caiu.

Havia o piano na sala que me lembrava as composições que fiz ali, todas pensando nela. Deixei as chaves no aparador e fui caminhando até meu quarto, a jaqueta preta estava lá, pendurada na poltrona como se olhasse para mim. Eu visualizei Stella sorrindo e as lágrimas vieram novamente. Guardei a jaqueta dentro de um baú que ficava ao pé da cama para não ter que dar de cara com ela de novo, acontece que uma simples peça de roupa mexia comigo era a jaqueta da primeira vez que nos vimos. Porque ela a esquecera ali?

Deitei na cama e fechei os olhos, as imagens do que acabara de acontecer estavam ali sondando cada pensamento. Traída ou amante? Os dois talvez, eu me perguntava também que parte eu perdi, quando comecei a perder o que acontecia à minha volta? As mãos daquela loira a qual eu não sabia nada tocando Stella, beijando sua boca e me olhando como se eu fosse invisível, estava me afetando em grande proporção. Stella não fez nada, absolutamente nada. E eu fugi. Porque eu não tinha estômago o suficiente para ouvir o que ela me diria, e se ela confessasse a traição o que eu faria? Eu não sei também, eu não sei de nada agora.

Também não consegui dormir porque a cada vez que fechava os olhos me lembrava da noite anterior e dos seus olhos em mim. Eu era só o seu passatempo em quanto à esposa estava longe, eu não passava disso.

Eu tentei buscar algo que me fizesse repensar tudo aquilo, mas não havia nada.

 Já era de noite quando saí do quarto e fui andando no breu total até a cozinha, abri a geladeira e lá estava mais um pedacinho dela, a sobremesa e a massa que eu ajudei a preparar, peguei os refratários e joguei tudo no lixo. Comi comida congelada e bebi toda uma garrafa de vinho, zapeei os canais da TV e parei em qualquer um, deixei no mudo e fiquei olhando as figuras passarem enquanto eu tentava organizar meus pensamentos e o que eu faria a partir dali. Dormi de mau jeito no sofá da sala e acordei bem pior, na verdade nem sei dizer se dormir, porque acordei diversas vezes durante a noite procurando pelo braço dela em minha cintura, mas não havia nada além de mim naquele sofá. Mais lágrimas vieram até que o sono me levasse novamente. Fui me arrastando até o banheiro do quarto e ao me deparar com o espelho minha aparência não era das boas, as bolsas embaixo dos olhos e a vermelhidão nas escleras denunciando o tanto que eu havia chorado.

Eu me odiei por ser ingênua demais. Eu pensei duas vezes antes de me envolver com ela e mesmo assim sai machucada. Mas era incrível como ela habitava cada pensamento meu, era inevitável não sorrir ao me lembrar das suas criancices, não havia passado nem 24hs completas e eu estava com saudades. Talvez eu nunca fosse a mulher com quem ela sonhasse, as promessas foram quebradas todas de uma vez, os momentos estavam se perdendo e eu também.

Mais uma garrafa de vinho havia sido esvaziada enquanto eu transformava os meus pensamentos em versos.

Eu não quero falar do que eu não sei. Nem posso descrever o que eu não sinto. Não quero deixar claro o que eu não vejo. Nem posso me queixar do que eu não vivo. Eu não quero negar que eu senti. Nem posso mentir que te esqueci. Eu não quero apagar o que passou. Nem vou perder o que você deixou.

Descobrindo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora