Capítulo 41 - Eu passo pela sua mente?

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NARRADOR

O choro agudo, as mãos que se tremiam e a fala entrecortada que nunca conseguia terminar seu relato estavam irritando a loira. Foi uma má ideia decidir ir até lá, para quê afinal? Não estava funcionando ver pessoas contarem seus traumas com abusos e logo em seguidas caírem no choro, é claro que nunca o faria, de forma alguma, não dava. Olhou para cada mulher da roda de conversa ignorando a conselheira que lhe olhava como quem dizia: Vamos Stella, ponha para fora. Levantou-se e estava pronta para ir se não fosse o aperto que recebeu no braço.

― O que foi?! ― ralhou saindo do aperto de Alice. Só estavam ali perdendo tempo porque a amiga insistiu.

― A reunião ainda não acabou. ― a ruiva avisou acenando para que a amiga se sentasse novamente ao seu lado. Pediu desculpas para a mulher ao seu lado que resmungava por conta do barulho das duas.

― Mas a minha paciência já! ― retrucou a loira, saiu tendo o olhar de todas as mulheres e a conselheira que acenava negativamente com a cabeça. A ruiva pediu desculpas e seguiu a amiga.

― Precisava disso? Você está sendo imatura! ― Alice falou quando chegou à calçada e viu a loira comprar um picolé.

― Eu não pedi por isso. ― lambeu o sorvete. ― Centro de apoio, haha! ― soltou uma risada falsa. ― Deveriam trocar o nome para: Centro de apoio para pessoas choronas. ― falou por fim e seguiu andando até seu carro entrando no mesmo. Alice grunhiu de raiva e entrou também.

― Você ainda não me respondeu sobre ser madrinha no meu casamento. ― Alice já não tinha mais raiva, olhou ansiosa para a amiga esperando a resposta.

Stella apertou as mãos no volante, sentiu a espinha arrepiar e o desconforto com a pergunta começar a aparecer, há duas noites quando soube, não fez alarde apenas abraçou a amiga e logo depois Alice sairá apressada. Nessa noite a loira chorou pela sua infeliz vida. Abriu a boca para responder, mas a fechou. Teria que dar uma resposta positiva, pois desde criança as duas planejaram aquilo, Alice era a mais sonhadora das duas e queria tudo o que fosse possível na cerimônia. A loira queria demonstrar felicidade pela amiga, era isso que sentia dentro de si, mas o sorriso mal chegava à boca. Estava passando por momentos difíceis. Não podia virar para a amiga e simplesmente dizer para que a esperasse estar no clima de festa, então se limitou apenas a acenar com a cabeça. Alice a abraçou tão apertado que a loira quase derrapou em uma curva perigosa. Não tinha inveja da amiga, não mesmo, mas seria um casamento onde os seus melhores amigos trocariam votos de amor e fidelidade jurando suas vidas um ao outro enquanto ela só tinha a si mesma no final do dia, lhe parecia injusto. Queria poder dar um sorriso de felicidade sincero quando estivesse perante os noivos no altar.

Deixou Alice no Jornal em que ela trabalhava e foi para casa se afundar em mais bebida, já que decidiu parar com as pílulas para não ter mais alucinações. Ficaria bêbada até que se sentisse confortável para ajudar a amiga a escolher vestidos.

...

O sol entrando pela varanda estava chamativo naquela manhã, as primeiras horas do dia de folga poderiam ser gastas ali sem controversas. Sentou-se no estofado de pernas para cima enrolada no lençol fino segurando o livro, decidiu que não faria a leitura convencional virando página após página, mas que daria atenção á um parágrafo aleatório todos os dias e marcaria os que já havia lido, foi a forma que encontrou de sofrer menos. Sorriu ao ver um casal de passarinhos montando o próprio ninho no topo de uma árvore próxima ao seu quarto, naquele momento desejou ser um daquelas aves, sem problemas de insegurança e toda a paranoia que cerca alguém que ama.

Descobrindo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora