Correntes

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- Está calado demais hoje, aconteceu alguma coisa?- sua voz genuína e aveludada me fez sair dos meus devaneios. Seus olhos verdes me fitavam a espera de uma resposta.

Quando foi que ficamos tão próximos assim?

- Nossa, Shouto. Só de olhar em seus olhos da pra perceber que está acontecendo algo.- ele suspira sorrindo. - é por causa do kirishima? Está preocupado com ele, não é?- ele ri baixinho.- deve estar preocupado mesmo, é seu irmãozinho, afinal. Deve ser a primeira vez que ele sai de casa por dias seguido. O ruim disso é que a pessoa que o levou não é um dos melhores para ficar dias fora de casa.- suspira coçando a bochecha, talvez pensando em alguma coisa.

Ele esqueceu alguma palavra? Sua face está contorcia, pensando, e pensando. O que tanto Midoriya pensa?

- Ah, sinto que não é o kirishima, está preocupado com outra coisa. Não é mesmo?- enfim suspiro pesado, por ver que, mesmo não usando nenhuma palavra, Midoriya tinha acertado novamente. Grunho chateado por perceber que minhas mais fortes muralhas estavam desmoronando diante dos seus olhos apreensivos.

Quando foi que, minhas muralhas ficaram tão frágeis assim?

- Me desculpe. Eu... não me sinto bem.- murmurei fitando o sorvete em minha frente. O caldo de chocolate estava derretendo assim como o próprio sorvete dentro do copo. Eu não consegui toca-lo desde que foi posto na mesa. Eu não consigo focar desde aquela ligação.

Ele.

Está voltando.

Será, que dessa vez eu teria força e coragem, para enfrentar-lo? Ou... Eijirou lidaria com ele sozinho novamente?!

- Quer voltar pra casa? Parece que ir a sorveteria não foi uma boa ideia.- Midoriya sorri quando encontro novamente seus olhos. Seu semblante estava sereno, sua voz que mesmo firme continha preocupação e no fundo, mas bem no fundo do seu olhar, eu poderia vê-lo perdido e totalmente preocupado comigo.

Nosso contanto ficou decorrente, depois do ocorrido que Kirishima desmaiou naquele campo, quando eu tive que decidir o que era melhor pra ele. E ver a preocupação e dedicação de Bakugou em seus olhos, eu vi que o melhor seria ele a fazer a marca temporária. Depois disso, fiquei cada dia mais preocupado com o ruivo, minha mente se perdia fácil e era por isso que Midoriya decidiu se aproximar. Sua presença, me fazia ficar presente e sua voz, sempre repetia-me que Bakugou cuidaria de Eijirou. E que dessa vez estaria tudo bem.

Ele estava em boas mãos. E eu sabia disso, até porque. Era de Bakugou que Janny se referia.

Assim, deixei minhas preocupações de lado e confiei nas palavras de Midoriya. Confiei em seu sorriso, em sua presença, que, quando eu menos percebi estávamos tão próximos quando eu podia imaginar. Deixei meu meio-irmão para cuidar da minha vida, e agora encontro-me em um tanto quanto, apavorado. Eu sequer pensei que poderia estar vivendo tal situação.

Eu nunca senti tal sentimento, quanto aos demais que Midoriya fez aflorarem em meu ser. A única sensação que eu tinha conhecimento era: ira, medo, preocupação, angústia e as demais que destrói qualquer pessoa por dentro.

Por ser um alfa lúpus, não é normal se sentir amendrontado a todo tempo, mas... isso não é minha culpa.

- Todoroki?- ouço ele me chamar, mais uma vez tirando-me dos devaneios.

Sinto meu peito vibrar e meu lobo arranhar minha carne. Posso sentir meu corpo queimando e meu coração errando as batidas, elas eram fortes e dolorosas. E olhar para os olhos brilhantes de Midoriya fazia com que tudo doesse ainda mais.

Muito mais do que um ômegaOnde histórias criam vida. Descubra agora