CAPÍTULO 1 A MANIPULADORA

197 12 18
                                    


Às vezes eu tenho pensamentos muito sombrios sobre minha mãe, pensamentos que nenhuma filha sensata deveria ter.

Às vezes, nem sempre sou sensata.

— Jiwoo, você está sendo ridícula — diz minha mãe através do altofalante do meu telefone. Eu o encaro em resposta, recusando-me a discutir com ela. Quando não digo nada, ela suspira alto. Eu franzo o nariz. Fico surpresa com o fato de que essa mulher sempre chamou minha vó de dramática, mas não consegue enxergar seu próprio talento para a dramaticidade.

— Só porque seus avós lhe deram a casa, não significa que você tem que realmente viver nela. É velha e você estaria fazendo um favor para todos naquela cidade se ela fosse demolida.

Eu bato a cabeça contra o apoio do banco, revirando meus olhos e tentando encontrar a paciência, escondida no teto manchado do meu carro.

Como é que eu consegui manchar de ketchup lá em cima?

— E só porque você não gosta, não quer dizer que eu não possa viver nela — retruco em um tom seco.

Minha mãe é uma vadia. Simples assim. Ela sempre teve rancor, e por mais que eu tente, não consigo entender.

— Você viverá a uma hora de nós! Será muitíssimo incômodo para você vir nos visitar, não é?

Oh, como eu vou sobreviver?

Tenho certeza de que minha ginecologista também está a uma hora de distância, mas eu ainda faço um esforço para vê-la uma vez por ano. E essas visitas são muito mais dolorosas.

— Não — respondi com ênfase. Estou farta desta conversa. Minha paciência não dura um minuto quando converso com a minha mãe. Após isso, estou por um fio e não tenho mais vontade de me esforçar para manter o diálogo.

Se não é uma coisa, é outra. Ela sempre encontra algo para reclamar. Desta vez, é pela minha escolha de morar na casa que meus avós me deram. Eu cresci no Casarão Peaches, correndo ao lado dos fantasmas nos corredores e assando biscoitos com a minha avó. Tenho boas lembranças daqui, lembranças que me recuso a abandonar só porque a minha mãe não se dava bem com a vovó.

Nunca entendi a tensão entre elas, mas à medida em que fui crescendo, comecei a compreender a ironia da minha mãe e os insultos dissimulados pelo que realmente eram, então tudo fez sentido.

A vovó sempre teve uma perspectiva positiva e otimista sobre a vida, via apenas o lado bom do mundo. Ela estava sempre sorrindo e cantarolando, enquanto a minha mãe está amaldiçoada a permanecer com uma carranca perpétua no rosto, sempre olhando para a vida como se seus olhos tivessem sido danificados quando fora atirada para fora da vagina da vovó. Eu não sei por que sua personalidade nunca se desenvolveu para além da de um porco-espinho, ela não havia sido criada para ser uma vadia espinhosa.

Quando eu era criança, minha mãe e meu pai tinham uma casa a apenas 1,5 Km de distância do Casarão Peaches. Ela mal conseguia me tolerar, então passei a maior parte da minha infância nesta casa. Não foi até eu sair da escola que a minha mãe se mudou a uma hora de distância da cidade. Quando desisti da faculdade, fui morar com ela até eu me recompor e a minha carreira de escritora decolar.

E quando isso aconteceu, decidi viajar pelo país, nunca me estabelecendo em um só lugar.

A vovó morreu há cerca de um ano, presenteando-me com a casa em seu testamento, mas a dor da perda me impediu de mudar para o Casarão Peaches. Até agora.

Mamãe suspira novamente pelo telefone.

— Eu só queria que você tivesse mais ambição na vida, em vez de ficar na cidade em que cresceu, querida. Faça algo mais com a sua vida do que definhar naquela casa como sua avó fez. Eu não quero que você se torne inútil como ela.

1°  Livro| Assombrando Jiwoo (G!P Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora