CAPÍTULO 3 A MANIPULADORA

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Não foi assim que imaginei passar a minha sexta à noite. Investigando as paredes de uma casa velha com Deus sabe que tipo de criaturas presas dentro.

Estou apenas esperando que um esquilo raivoso pule e agarre meu braço estendido, enlouquecido de fome e disposto a comer qualquer coisa por causa de tantos anos preso nas paredes, com nada além de insetos para se alimentar.

Meu braço está afundado no maldito buraco que Greyson criou, uma lanterna bem apertada em minhas mãos. Há apenas espaço suficiente para encaixar meu braço e parte da minha cabeça em um ângulo estranho para olhar ao redor.

Isso é estúpido. Eu sou estúpida.

No segundo em que ouvi a porta se fechar quando Greyson saiu, inspecionei o dano. Não é um buraco enorme, mas o que me preocupou foi o grande espaço entre as duas paredes. Pelo menos um metro de espaço. E por que mais construiriam dessa forma se não houvesse uma razão?

Parece que um ímã está me puxando para aquele espaço. E toda vez que tento me afastar, uma vibração profunda atravessa os meus ossos. As pontas dos meus dedos fervilham com a necessidade de estender a mão. Para apenas dar uma olhada dentro do vazio insondável e encontrar o que está chamando meu nome.

Agora aqui estou, curvada e me enfiando em um buraco. Acho que, como não consegui preencher o meu hoje à noite, eu poderia muito bem ter alguma ação dessa forma.

A lanterna do meu celular revela vigas de madeira, teias de aranha grossas, poeira e carcaças de insetos no interior da parede. Viro na outra direção e aponto a luz para o outro lado. Nada. As teias são muito grossas para ver direito, então uso meu telefone como um bastão e começo a derrubar algumas delas.

Juro que se eu deixá-lo cair, eu vou ficar puta. Não haverá como recuperá-lo e terei que comprar um novo.

Eu estremeço com a sensação das teias finas iguais fios de cabelo roçando a minha pele, imitando a sensação de insetos rastejando em mim. Eu me viro para a esquerda e aponto a luz mais uma vez.

Eu derrubo mais algumas teias de aranha, pronta para desistir e ignorar o canto de sereia que me colocou nessa situação idiota em primeiro lugar.

Ali.

Um pouco mais adiante no corredor há algo reluzindo na luz. Apenas uma pequena pista de algo, mas é o suficiente para eu pular de emoção, batendo minha cabeça no gesso grosso e derrubando lascas pelo meu cabelo.

Ai.

Ignorando o latejar na parte de trás da minha cabeça, tiro o meu braço e corro pelo corredor, estimando a distância até onde vi o objeto misterioso.

Agarrando um porta-retrato, eu o desengancho de seu prego e o coloco de modo suave no chão. Faço isso várias vezes até encontrar uma foto da minha bisavó sentada em uma bicicleta retrô, com um buquê de girassóis na cesta. Ela tem um sorriso largo, e mesmo que a foto seja em preto e branco, eu sei que ela está usando batom vermelho. A vovó disse que passava seu batom vermelho antes mesmo de colocar seu café.

Eu puxo o porta retrato da parede e sufoco um arquejo quando vejo um cofre verde estilo militar na minha frente. É antigo, com uma simples trava de segredo como fechadura. A excitação queima em meus pulmões enquanto meus dedos deslizam sobre ela.

Descobri um tesouro. E acho que devo agradecer a Greyson por isso. Embora eu goste de pensar que eu teria tirado esses retratos eventualmente para não ter mais meus ancestrais menosprezando minhas decisões bastante questionáveis.

Estou encarando o cofre quando uma brisa fria passa pelo meu corpo, congelando meu sangue. A súbita mudança de temperatura me faz virar, meus olhos vasculhando o corredor vazio.

1°  Livro| Assombrando Jiwoo (G!P Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora