CAPÍTULO 37 A SOMBRA

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Não há nada que você poderia ter feito.

Você não pode mudar o que já aconteceu, Yves.

Você não pode salvar todos.

Sou grata a Jinsol. Eu realmente sou. Não confio em muitas pessoas nessa área, especialmente para fazer uma parte do trabalho que tenho dificuldade em abrir mão, mas não posso estar na ativa e ficar grudada em um computador ao mesmo tempo. E Jinsol tem sido mais que eficiente em ajudar nesse lado do trabalho.

Mas a filha da puta não sabe fazer eu me sentir melhor.

Ela está tentando. Eu entendo.

Mas tenho dificuldade em apreciar seu esforço quando estou gastando todas as minhas forças para não entrar no Savior e explodir o lugar inteiro. Se não fosse o fato de que existem pessoas inocentes que trabalham lá – ou melhor, estão sendo mantidas como reféns – eu faria isso.

Eu estava lá.

Eu os vi beber o sangue de um garotinho. Um garoto de oito anos foi sacrificado em algum altar de pedra para receber os novos membros de um clube pedófilo adorador do diabo e bebedores de sangue.

Nunca vou entender o porquê. Nunca vou entender o desejo de machucar alguém tão jovem, tão puro, tão inocente. Mas são essas qualidades que os atraem. Isso é o que atrai o diabo para o anjo.

Eles querem corromper, ferir e contaminar. Causar dor e sofrimento àqueles que nunca pediram por isso. Essa é a emoção doentia nisso.

— Ele tinha oito anos, Jinsol — resmungo com os dentes cerrados. — Ele tinha uma família. Duas mães, três irmãos e uma irmã. Ele era amado. Ele foi criado em um bom lar por mães que o amavam. E eles o sequestraram na porra de uma mercearia, o venderam para o tráfico humano e o usaram como um sacrifício de merda.

Jinsol fica calada, parecendo perceber que suas respostas padrão para fazer eu me sentir melhor são insuficientes.

Eu estava lá.

E não fiz nada para impedir.

Abro a boca, pronta para mudar de assunto quando recebo outra chamada. Olho para o celular e um rosnado feroz toma conta do meu rosto.

— Tenho que desligar — falo irritada, desligando o telefone na cara da Jinsol e imediatamente atendendo a ligação.

— Daniel. Tão bom ouvir você — saúdo. Como um cobertor sendo jogado sobre o fogo, meu tom é frio e controlado.

— Adam, desculpe ligar tão do nada. Queria te pedir uma coisa.

Eu me encosto na cadeira, rolando meu pescoço, os músculos estalando ruidosamente. Meus olhos não se desviam do computador, que mostra a foto do garotinho morto no último vídeo.

Nunca vou esquecê-lo, mas colar meus olhos em seu rosto me lembra haver mais por aí na mesma situação. E agora, esse lembrete é a única coisa que me impede de enlouquecer.

Preciso ser inteligente. Se enlouquecer agora, vou arruinar tudo pelo qual tenho trabalhado tanto.

— O que posso fazer por você?

— Considere isso uma iniciação preliminar. Estamos decididos sobre o que vamos jantar nesse sábado, e é realmente especial. Queremos ter certeza de que não haja problemas, então decidimos ter um aperitivo na sexta-feira, se você quiser.

Minhas sobrancelhas franzem e um poço de pavor se forma em meu estômago, como o céu se abrindo e liberando uma chuva torrencial em uma cidade que está se afogando.

1°  Livro| Assombrando Jiwoo (G!P Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora