CAPÍTULO 5 A MANIPULADORA

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A brisa força o meu corpo para frente, como se me incitasse a pular. A dar o salto e mergulhar para a minha morte.

Você não vai se arrepender.

Esse pequeno e intrusivo pensamento permanece. No entanto, de alguma forma, sinto que colidir com rochas afiadas seria lastimável, para dizer o mínimo. E se eu não morrer imediatamente? E se eu milagrosamente sobreviver à queda e for forçada a ficar deitada ali, quebrada e ensanguentada, até que meu corpo finalmente ceda?

Ou se meu corpo se recusar a ceder e eu for forçada a viver o resto da minha vida como um vegetal?

Tudo isso é lastimável.

Sou tirada de minhas reflexões quando ouço alguém tossindo.

— Senhora?

Viro a cabeça para ver um homem alto e mais velho com uma suavidade em seu semblante que quase me conforta. Seu cabelo grisalho e ralo está emaranhado na testa por causa do suor, e suas roupas estão manchadas de sujeira e lama.

Seus olhos saltam entre mim e a beira do penhasco em que estou, emanando uma energia nervosa. Ele acha que eu vou pular. E enquanto continuo olhando para ele, percebo que não estou dando nenhum motivo para pensar o contrário.

Ainda assim, não me movo.

— Estamos indo embora por hoje — o homem me informa.

Ele e sua equipe estiveram reconstruindo minha varanda da frente o dia todo, dando-lhe a reforma de que tão desesperadamente precisava. Além de garantir que meu pé não atravessasse a madeira podre e provavelmente me desse uma infecção.

Ele me olha de cima a baixo, sua sobrancelha abaixando enquanto sua preocupação parece se aprofundar. A brisa sopra forte, girando em torno de nós e agitando o meu cabelo. Eu afasto os fios e vejo que ele ainda está me olhando atentamente.

Quando eu era mais jovem, vovó se recusava a me deixar chegar perto do penhasco. Ele fica a apenas uns bons quinze metros do casarão e a vista é de tirar o fôlego, especialmente quando o sol se põe. Mas à noite, é impossível ver onde fica à beira do penhasco sem uma lanterna.

Neste momento, o sol está se pondo no horizonte, lançando este solitário pedaço de terra em sombras escuras. Estou a um metro de distância do perigo, a vida e a morte separadas por uma borda rochosa. Em breve, ele desaparecerá.

E se eu não tomar cuidado, também irei.

— Você está bem, senhorita? — ele pergunta, dando um único passo à frente. Por instinto, dou um passo para trás, em direção à beira do penhasco. Os olhos castanhos do homem se arregalam, ele imediatamente para e levanta as mãos, como se estivesse tentando me impedir de reagir. Ele estava apenas tentando ajudar, não me assustar. E eu fui e dei um susto nele em troca.

Suponho que estive fazendo isso a todo esse tempo.

Eu olho para trás, meu coração se alojando na garganta quando vejo o quão perto eu estava de cair. Tudo o que posso sentir naquele momento é puro terror. E como um relógio, o sentimento inebriante e familiar se instala no meu estômago, como água circulando pelo ralo.

Algo está claramente errado comigo.

Envergonhada, eu me afasto alguns passos do penhasco e dou a ele um olhar de desculpas.

Estou no limite.

Rosas vermelhas aparecem em todos os lugares que eu vou agora. Já se passaram três semanas desde que encontrei o copo de uísque e a rosa na minha bancada.

Depois que Jungeun foi embora, tomei um banho quente e demorado e, durante esse tempo, decidi que precisava começar a registrar o que está acontecendo. Deixar algum tipo de evidência para trás. Dessa forma, se eu for morta ou desaparecer, saberão exatamente o porquê.

1°  Livro| Assombrando Jiwoo (G!P Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora