CAPÍTULO 12 A SOMBRA

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— Aqui está outro vídeo — diz Jinsol ao telefone, sua voz solene. Eu me levanto do meu sofá e vou para o escritório.

Uma série de telas de computador alinhadas na mesa de dez metros de comprimento, e todos os meus outros dispositivos ilegais estão aqui dentro. Jammers, rastreadores, botões que acionam explosivos em vários lugares, caso alguém me traia, e assim por diante.

Só esta sala vale milhões com toda a merda que tenho aqui dentro.

É meu lugar feliz, assim como meu pesadelo vivo.

É aqui que eu faço a diferença no mundo. Onde encontro mulheres e crianças que precisam ser salvas, ao mesmo tempo em que assisto às torturas que aqueles indivíduos doentes as fazem passar.

É preciso dinheiro para infiltrar-se em edifícios de alta segurança, resgatar as meninas e dar-lhes refúgio e segurança fora da rede.

Grandes corporações me pagam uma enorme quantia para invadir os sistemas de seus rivais por qualquer motivo besta, seja porque estão competindo e querem saber o que o outro está planejando, ou porque têm um processo judicial contra o outro e tentam encontrar informações.

Estou me lixando para os problemas que eles têm uns com os outros. Minha preocupação é apenas que eles consigam aquilo para o qual me contrataram.

No final, alguém rico se fode, meu cliente lucra muito com isso, e eu coleto os juros. É sujo, mas eu nunca estive em um ramo em que poderia manter minhas mãos limpas.

E isso me permite dedicar a vida para acabar com o tráfico humano.

— Onde? — ladro, meus dedos já voando sobre o teclado.

— Já encriptado e enviado para o seu e-mail.

Eu inclino meu pescoço, estalando os músculos e me preparando para algo que vai me dar muita indigestão.

O vídeo começa, e apesar dos meus instintos gritando para que não o faça, aumentei o volume para que eu possa ouvir.

É um vídeo granuloso de um fodido ritual satânico. A pessoa que está gravando está respirando pesadamente, muito provável que seja pelo risco de ser pega fazendo algo extremamente perigoso.

Quatro homens de túnica estão de pé sobre um altar de pedra, com um garotinho se contorcendo amarrado a ela.

Repetidamente, ele grita para deixá-lo ir. Sua vozinha falhando, enquanto ele chora por ajuda.

Eu passo a mão por cima do rosto quando eles enfiam uma faca curva em seu peito. Eles enchem taças de metal com seu sangue e bebem a taça inteira de uma só vez.

Eu me forço a observar e suportar a dor, ao lado deste menino. Porque mesmo que esta alma inocente já tenha desaparecido, isso não significa que eu não farei tudo o que estiver ao meu alcance para encontrar justiça para ele.

Quando o vídeo termina, tenho que me virar e respirar fundo apesar da vontade de vomitar.

— Yves? — Eu tinha até esquecido que Jinsol ainda estava na linha.

— Sim? — respondo, minha voz baixa.

— Eu... eu não pude assistir. Não consegui fazer isso.

Fecho os olhos e respiro fundo.

— Está tudo bem — digo. — Você não precisa fazer isso.

Jinsol sabe o quanto me custa ver estas coisas, mas também sabe que eu me recuso a me afastar delas. É o que a maioria das pessoas faz quando se trata de tráfico humano. Todos sabem que isso existe, e a maioria se educa sobre como evitá-lo, mas não conseguem assistir quando se trata da realidade. Não conseguem ouvir. Não conseguem ver a depravação. Porque se não olharem, podem voltar à sua vida normal e continuar vivendo como se não houvesse milhares de pessoas morrendo por isso todos os dias.

1°  Livro| Assombrando Jiwoo (G!P Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora