Capítulo 5: Carlo

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  Em paralelo à isso;

  É, cara, tanto dia para eu ir à casa da minha avó e meus pais decidiram que seria hoje. Eu tinha que inventar uma desculpa para o povo da escola, já que tenho uma leve vergonha de dizer que faltei por que visitei minha avó. Nem parece convincente e compreensível. Enfim, Soren acabou falando comigo e ficou por isso mesmo, acabei deixando-o no vácuo até agora. Ele deve estar se divertindo na escola, sei lá.

  Na casa da mãe do meu pai, ela estava acompanhada com outros tios meus e alguns tio-avôs que eu nem sabia que eu tinha. Diz meu pai que vó, mesmo estando meio debilitada, ainda consegue andar e falar, mas é bem breve. Elya não perde tempo em relação a vó, que sempre gostou de crianças iguais a ela. Lhe deu um abraço bem apertado ambas felizes. 

— Carlo, como cresceu. Mal lembro de você desde que Elya nem era nascida. — Disse minha avó ao me ver em seguida.

— Vó, eu vim aqui faz uns 4 meses, já esqueceu? — Exclamei.

— A vovó é esquecida... — Disse vó um pouco assentida. Depois Elya começou a pular de alegria assim que vovó falou.

— Vovó! Eu lembrei que você contava histórias para mim, tem mais uma?! — Disse Elya encarando ela, pressionando seus braços em cima de seu colo.

— É melhor contar logo. Do jeito que ela está, só volta para casa se ouvir a tal história.

  Lembrando que já era meio da manhã, e essa menina já queria ouvir histórias dela. A vovó contava histórias com um teor meio "duvidoso" para uma criança, ou seja, não parecia muito infantil a meu ver. Só para ter uma ideia, ela contou uma sobre um bicho:

  "Era uma vez um bicho, um bicho muito feio que, onde ele morava, conhecia outro bicho igual a ele, porém, mais bonito na visão do feio.

  O bicho feio, se sentindo inferior, foi conversar com o bicho bonito, para saber como consegue ser mais bonito que ele.

  O bicho bonito diz que ele não fez nada para ser assim, apenas nasceu assim. Isso magoou o bicho feio. Ele ainda complementou que não se preocupasse com isso.

  O bicho feio, logo, se vê mais feio. Afirma que nunca poderá alcançar a beleza, já que não foi atribuída a ele. 

  O bicho bonito, ao ouvir isso, conforma-o dizendo que ele pelo menos tem uma beleza interior. Em seu corpo. Em sua alma.

  O bicho feio, já bem desacreditado sobre sua ausência de beleza, queria ter certeza de que ele tem uma beleza dentro de si. Precisaria de alguma forma para ver essa beleza. 

  O bicho bonito encerra dizendo: 'Nenhuma pode ser vista, apenas sentida. Veja que somos iguais, somos feitos do mesmo material. O que me faz bonito é como sou visto pelos outros. 

  Por fim, não posso confirmar, sendo que eu nunca vi a mim mesmo. Então a beleza nunca terá certeza pela visão do coletivo, mas a beleza interior pode ser buscada e compreendida pela fé do indivíduo.' "

  Por que raios ela contou isso para Elya?! Na verdade, ela contou isso ainda mais me enfatizando. Ficava me olhando todo o tempo enquanto ela contava. Essa história foi uma indireta para mim? Vó faz isso às vezes, se não me engano.

— No final, ele conseguiu buscar a beleza interior dele? — Pergunta Elya ainda animada. Aquela história foi tudo para ela, pelo visto.

— Essa história é muito longa... mas, sim, ele reconhece a beleza interior dele. Agora, ele não se importa pelo que os outros dizem sobre sua beleza aparente. — Disse vovó alisando os cabelos de Elya.

A Linguagem de LiandraOnde histórias criam vida. Descubra agora