Capítulo 13: Théos

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  Agora é hora de uma das conversas mais bizarras que eu já tive em toda minha vida, sobre uma simples palavra: Deus. Liandra deixou claro que não iremos basear em dogmas ou o que a Bíblia diz ou qualquer livro sagrado. A ideia é pensar racionalmente sobre a existência de Deus, sem a interferência da ciência moderna. Como era uma época em que não existia o conceito de Deus propriamente dito, pelo menos cristão? Como esse conceito influencia em nossa existência?

L: Acho que a pergunta ideal a se fazer não é quem é Deus, e sim o que é Deus. O que é Deus para vocês?

S: Pela nossa conversa sobre princípio, um não-ser...?

L: Perdão, Soren, mas, como você mesmo disse, vamos deixar isso de lado. Vamos fazer de conta que sabemos que a resolução para isso é Deus. Mas, o que procede depois disso? Entendeu?

S: Tá bom, então para mim Deus é um sentido atribuído a nós, e que ele existe.

C: Não tem como dizer o que é Deus, não sabemos como ele é.

E: Cara, para mim, eu não tenho a mínima ideia. Sei não, Deus é tudo.

L: Bom, sabemos que o que é imutável e eterno só levará a ele. É a maneira mais prática que foi pensada. Para Aristóteles, pelo menos, esse mundo para ter significado, precisa falar de Deus.

S: Você disse que ia falar sobre o tempo em relação a Deus. Será que irá clarear um pouco melhor?

L: O que eu ia falar era em dois contextos que são meio distintos, mas tem uma conexão. São baseadas em duas perguntas. A primeira é: o tempo existe? Respondendo, me parece que não.

S: Como assim?

L: Não é no sentido literal, e sim de um sentido que não temos a percepção total da definição de tempo. Para termos uma ideia, por exemplo, a percepção de passado, presente e futuro. O passado não existe, pois já passou, mesmo que fique em nossas memórias. O futuro ainda "existirá", pois ainda não aconteceu. O presente estar deixando de "existir", pois ele está ocorrendo, mas ele não propriamente "existe".

C: Mas como funciona isso? Se tempo é movimento, então ele está passando agora, não é?

L: O presente garante a passagem do tempo para gente, e como ele está mudando, não dá para dizer que ele existe em um certo momento. Logo, não tem como compreender o tempo com clareza. Diante disso, o que criou o tempo tem que ser eterno, pois se ele estivesse dentro do tempo, ele seria temporal, consequentemente ele teria movimento. É outro caminho para se referir a um não-ser imóvel e eterno.

S: Por isso que Deus é eterno, por esse lado?

L: Sim. Naquele dia, acho que iria confundir mais vocês, logo é bom separar as coisas.

C: Interessante, e a outra questão?

L: Sim! A outra questão é: há alguma coisa antes do tempo?

E: Não.

L: E depois?

E: Como assim depois do tempo?!

L: Pois é, se fosse possível existir algo antes do tempo, no mínimo ele seria imóvel. E no depois, ele viria a ser imóvel da mesma forma, certo? Vamos lá. Se tem como haver algo antes e depois do tempo, então ele mesmo é eterno e imóvel, certo? O que causa isso não pode ter começo e nem fim, já que se algo causou esse movimento, ele não pode causar o que não é movimento.

S: Como é?

L: Em outras palavras, como falamos antes, esse algo eterno está fora do tempo, já que ele é imóvel, caso contrário, iríamos regredir ao infinito dos movimentos que geraram tudo. Vamos lembrar que, nesse caso, o infinito não existe.

A Linguagem de LiandraOnde histórias criam vida. Descubra agora