Capítulo 9: Identidade

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  E a conversa continua sobre a morte de uma forma que não parece natural, ironicamente.

S: "Sem nexo, mas com sentido", é bem engraçado.

L: Mas é. Eu acredito totalmente que, se somos natureza, não iremos sair dela. A morte é mais uma válvula de escape de ser o que está nesse mundo.

C: Perdão, mas já ouvi falar que se soubéssemos o que aconteceria depois da morte, a gente não teria medo.

S: Verdade. Dependendo do caso, as pessoas morreriam mais.

C: Não está pegando meio mal falar de morte logo hoje?

L: Qual o medo de falar sobre morte? Acha que vai acontecer com você?

C: Sai dessa, jogando praga...

L: Estou brincando, relaxe que é só um tabu. É um assunto como qualquer outro, e sim, as pessoas morreriam mais, independentemente do que teria depois.

S: Isso me lembra aquela conversa sobre a alma. Ela está tanto na vida quanto na morte, certo?

L: Na morte, logicamente falando, não. Ela sai do corpo e procura outro para se ocupar. Como já falamos disso, tem tudo a ver com a morte.

C: Mas essa troca de corpos da alma parece que se mantém o que ela conhece, não?

S: Já falamos disso, Carlo. Sim, você tem razão, a alma é o que tem conhecimento de tudo.

C: Perdão se eu faltei no dia...!

L: Gente, mas a alma trocando de corpo não depende da morte. Se fossemos imortais, a alma se libertaria nunca, logo não conseguiria acumular conhecimento de outros corpos, seria limitada. E a alma é rica de identidades.

C: Então alma não teria identidade, pois teria várias para dar conta. Porém, a gente em corpo aqui, temos uma identidade.

S: Mas o que seria identidade?

C: É o que faz você ser você, que nem o RG. Tem características e informações que só cabe a você e mais ninguém. É o que lhe faz um indivíduo.

L: Com essa analogia faz sentido, mas não dizem que somos todos iguais?

C: Como ser humano, mas você, por exemplo, o que te faz Liandra é esse nome que seus pais lhe deram, esse cabelo, esse casaco, essa bolsa, essa estrutura facial, tudo.

S: Se ela fizer uma plástica facial ou qualquer parte do corpo? Se ela pintar o cabelo? Mudar a bolsa ou perder algum membro? Ainda será Liandra?

L: Claro, né?

C: Mas isso que falei é o básico da identidade.

S: Então não é isso que faz Liandra ser Liandra, pois isso aí todo mundo tem. Será que a identidade está na alma?

C: Sei lá, pensei até nas ações dela, mas também não daria certo.

L: Se está na alma, pode até fazer algum sentido, mas a alma é rica de identidades, então não tem como atribuir tudo a um só corpo.

S: Então a alma colocaria uma identidade na gente? É tipo: eu sou o que sou agora, pois minha alma aderiu outra identidade de outra pessoa e atribuiu a mim nesse corpo. Então eu não tenho identidade própria...?!

C: Então não é a alma... ou pelo menos não é essa explicação.

L: Gente, se identidade é o que faz eu ser eu, como que isso funciona se estou mudando a todo momento? A identidade das pessoas muda com o tempo, então ninguém tem identidade fixa.

C: Verdade, a alma vai trocando a identidade de cada um por outras?

L: Esquece a alma, ela não está nos facilitando...

A Linguagem de LiandraOnde histórias criam vida. Descubra agora