Capítulo 14: Maquiagem

5 1 0
                                    

  Eu estava em total desespero. Como eu daria a volta por cima nessa situação? Me aproximei de Elya e toquei em seus braços, com a intenção de lhe acalmar. Ela começou a se esquivar de meus movimentos, mas insisti. Apoiei sobre meus braços e queria entender o que estava acontecendo. Nesse momento, ela chorou ainda mais.

— DÓI, DÓI MUITO! — Gritou de choro.

— Dói onde, Elya? Me diz logo, se acalme. — Perguntei.

— EM TUDO...! EU NÃO AGUENTO!

— Se acalme, Elya, onde exatamente está doendo?!

  Eu me vi sem encontrar solução. Apenas deixei ela ali e corri para o quarto dos meus pais. Peguei o esparadrapo guardado na gaveta e corri de volta para o quarto dela. Quando voltei, ela já tinha se acalmado um pouco, mas estava coçando ferozmente o braço direito. Aí não tive escolha.

  Puxei o esparadrapo e enrolei em seu braço esquerdo. Ele começou a se manchar de sangue aos poucos quando comecei a enrolar. Ela aparentava não estar sentindo mais dor, mas continuou chorando.

— Está melhor, Elya? Ei, olha para mim. O que foi? Onde está sentindo dor? Diz para mim. — Perguntei novamente.

— Era dentro de mim. — Diz ela ainda choramingando, porém, sem ser muito barulhenta.

— Sentiu essa dor pela primeira vez?

— Não. Senti antes de ficar no hospital, mas foi muito pior.

  Acho difícil não duvidar de Elya nesse momento. Por sorte, ela se acalmou bem rápido, mas foi os 2 ou 3 minutos mais tensos de hoje.

  Depois, liguei para meus pais e contei o ocorrido. Embora Elya já estivesse melhor, nunca se sabe quando sentirá essa dor de novo. Eles me agradeceram por estar em casa, pois eles iam demorar muito mesmo para voltar. Acho que os remédios ou a anestesia do hospital não ajudaram totalmente o problema, mas, ainda assim, é uma incógnita para mim o que realmente ela está sentindo. Ela estava comendo, estando com o esparadrapo no braço que coloquei. Ela ameaça tirar, mas eu alerto.

  Agora preciso vigiá-la, mas se acontecer de novo, o que eu faço? Duvido muito que o esparadrapo resolva o problema.

— Elyinha, está melhor? Está doendo em mais nenhum lugar?

— Uhum. Estou bem. — Disse enquanto comia.

— Tem certeza...?

— Sim. Essa dorzinha é forte, mas é passageira.

— Dorzinha?! Você estava literalmente chorando de dor!

— É porque já me acostumei.

— E você acha isso certo?! Gosta de sofrer essas dores aí do nada? Sabe nem lidar com isso.

— Verdade, mas irei melhorar, prometo.

— Desse jeito, vai mesmo?

— Sim, com fé, eu ficarei boa.

  Aqui diminuiu todas as minhas expectativas. Se sofrimento dependesse da fé para ser exterminado, o mundo não seria tão ruim como imaginamos. Não quero contra-argumentar com ela, pois é com uma criança que estou falando. De qualquer forma, estou ciente do que isso significa para ela, eu acho.

  Horas depois, meus pais chegaram e foram direto para Elya. Eles perguntaram as mesmas coisas que perguntei, e ela deu as mesmas respostas. Minha mãe achou melhor levá-la ao hospital mais uma vez, mas meu pai não viu necessidade. Se ela não tivesse esse surto, nem sequer cogitariam a decidir sobre isso. No fim do dia, acabou muito bem, por obséquio. Preciso me atentar mais com Elya, e entender ao mínimo o que se passa na cabeça dela. Algo está terrivelmente estranho nessa história...

A Linguagem de LiandraOnde histórias criam vida. Descubra agora