Capítulo 15: Emily

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Ambas chegam no lado mais de convivência da escola. Emily folheia um livro sem contexto que trouxe para o intervalo. Elas sentam em um banco e, para aproveitar que ainda tinham um bom tempo do intervalo, não estavam com pressas em retornar para a sala de aula.

Por uma vista direta para o lado de fora da escola, com carros, caminhões, motos e pessoas passando, Liandra introduz seu pensamento exclusivo para Emily.

L: Então, Emily, por que acha que está tudo estranho?

E: Não sei, eu tenho essa sensação. Viemos para cá só para falar disso? Não precisava.

L: Sim, mas acho mais tranquilo do que a biblioteca, tendo esse contato com a natureza, esse vento relaxante, tudo isso para nos fazer sentir bem.

E: Tá bom, você parece bem relaxada hoje, comparado a antes.

L: Nem me fale. Aquela não era eu, sinceramente. Não sei por que eu falo aquelas coisas. Às vezes é péssimo falar o que pensamos, pois pode pegar mal para a pessoa.

E: Me diz uma coisa, você sempre gostou desses papos viajados?

L: É uma longa história, mas dizer que eu gosto já é demais. Só digo que tenho facilidade, apenas.

E: É porque é muito esquisito... tanto Carlo quanto Soren têm total ideia do que queriam falar sobre os assuntos que você propõe.

L: Acho isso interessante, eles têm tanto conhecimento quanto eu sobre as pessoas. Na verdade, é incrível como funciona a linha de raciocínio deles.

E: Mas enfim, eles são iguais. Acho que o Soren foi acolhido por Carlo nesse sentido. Quer dizer, Carlo brigava muito ano passado, e justamente por Soren, já que ele parecia muito fraco diante de toda agressão. Só que ele virou um babaca completo, começou a usá-lo como "escudo" de suas merdas. Era muito recorrente, mas agora não tem mais isso.

L: Ele entendeu que não precisa se prender a isso, ou que tem coisas mais importantes para ele se preocupar.

E: É por isso que ele te conheceu?

L: Não sei, talvez seja tudo uma coincidência. Eu estava no lugar certo e na hora certa quando isso ocorreu.

E: Mudando de assunto, por que temos esse sentimento de que algo está diferente, quando, na verdade está tudo em ordem?

L: Não tenho a mínima ideia, mas diria que você está preocupada com eles dois.

E: Oi?

L: Para notar que eles não estão do jeito que costumava pensar deles, mostra que você se preocupa com eles e que quer entender isso, não é?

E: É... talvez. Mas quem sabe seja mentira, eu posso estar delirando sobre isso.

L: Por que trouxe isso a mim? Acho que não sou ideal para responder justamente essa ideia.

E: Não, é que... depois da conversa sobre a alma e sobre o Ikigai, percebi que você não parece nada com que eu tinha imaginado.

L: Está falando o que pensa de mim?

E: Acho importante fazer isso, eu faço com meus amigos. Não é uma maneira de esculhambar, e sim mostrar, nem que seja um pedaço do que você se apresenta diante dos outros. Você já me viu com maquiagem, por exemplo, mas não completa.

L: O que isso tem a ver, exatamente?

E: A maquiagem é mais como um "tampão" da nossa imagem. Ela nos faz bem, mas não nos faz ser o que somos.

L: Tem certeza? Eu uso e nunca me senti assim.

E: É como vejo, por isso cogitei muito em vir toda produzida, mas, sei lá, os outros estão tão acostumados que, se me ver assim, vão achar que estou sendo muito vaidosa.

A Linguagem de LiandraOnde histórias criam vida. Descubra agora