Capítulo 5

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Segunda-feira, 10 horas da manhã.

Pontualmente Juliette chegou ao local onde cumpriria o seu castigo.   Foi direccionada por outra voluntária mais antiga para o local onde daria apoio.
Por hoje vai só servir as refeições aos sinistrados.

Não era fácil empurrar aqueles carros enormes carregados de bandejas de comida. 

Tudo para ela era novidade.  Havia de tudo. Pessoas sem pernas, braços  com a cabeça enfaixada, acamados, paraplégicos e tetraplégicos.

Juliette observava tudo com atenção e em silêncio.

Rodolffo iniciou o seu plantão e numa das pausas resolveu ir ver como andava a nova voluntária.

Nem ele conhecia ela nem ela ele.

Perguntou a uma voluntária antiga quem era o novo elemento e ela apontou Juliette.

Rodolffo retirou crachá com o nome e ficou por uns momentos observando a moça.

Pela aparência ninguém diria o quão fútil é esta mulher,  pensou.

Juliette reparou nele encostado numa porta e limpando as lágrimas dirigiu-se a ele perguntou:

- Precisa de alguma coisa doutor?

- Não. Está tudo bem. E você porque chora?

- Coisas minhas doutor,  deixe pra lá.

- Às vezes é bom desabafar.

- É.  Vou indo.  Tenho que fazer. E foi.

Rodolffo ficou impressionado. Afinal a valentona tem sentimentos.

Todos os dias Juliette cumpria rigorosamente a sua penitência.  A visão daquele departamento do hospital começou a provocar-lhe sentimentos que ela jamais teve.

A compaixão pelos doentes, o constatar que a maioria deles aceitavam a sua condição sem reclamar, muito pelo contrário, eram gratos por estarem vivos faziam-na olhar o mundo com outros olhos.

Várias  vezes se cruzou com o Dr. Rodolffo.  Trocaram poucas palavras e várias vezes ele a viu chorar.

Juliette saía do hospital confirmando com Clara se o patrão dela estava em casa.  Nos dias que ele não estava ela ia conversar com dona Vera.  Ela tornou-se sua confidente. 
Falavam sobre o dia no hospital, sobre a angústia que sentia ao ver os doentes e dona Vera ouvia e por vezes limpava-lhe as lágrimas.

Foi assim no primeiro mês e nos que se seguiram.

Rodolffo sabia quem era Juliette mas nunca se identificou perante ela.

A mágoa inicial que tinha dela tinha desaparecido.   Hoje ele olha para ela com outros olhos.

Aquela mulher que parecia forte de início parecia agora um ser frágil.
Havia emagrecido e o seu semblante estava mais triste.
Rodolffo teve até pena dela.

Juliette tomou uma decisão.  A par com o voluntariado ia cursar enfermagem.  Era aquilo que queria fazer.
Estava decidido. De manhã faria voluntariado e de tarde faculdade.

O pai como sempre não se opôs e tratou logo de providenciar a inscrição na faculdade.

Outros pensamentos povoavam a cabeça de Ju.  Principalmente quando visitava dona Vera.

A mãe.  Porque é que a minha mãe foi embora?  Será que não gostava de mim?

Questionou o pai e recebeu um violento sermão.

- Falta-te alguma coisa? Não quero ouvir falar dessa mulher.

- Mas eu quero, disse elevando a voz também.

O pai não respondeu.  Virou costas e saiu.

Ninguém me dizia onde estava a minha mãe.  Parece que a única pessoa que sabe é uma ama que eu tive em bébé mas por ter idade já se aposentou.   Ela e minha mãe eram muito amigas.

Procurei saber e descobri a morada.
Não fica muito longe.

Tomou coragem e foi à procura.  Encontrou-a numa casa bem modesta.  Estava sentada no exterior tomando um pouco de sol.  Disse que morava com a filha pois a mobilidade já era pouca.

Não  me reconheceu mas quando disse meu nome deu-me um abraço bem apertado.

- Minha menininha.   Quantas saudades.

Conversámos bastante tempo quando eu pergunto:

- Nana! Sabes da minha mãe?

Ela olhou para mim, fez-me festas no rosto e disse;

- Porquê? Há tanto tempo que ela partiu! 

- Preciso vê-la.  Preciso de respostas para a minha vida.  Que mudar mas preciso começar do zero.  Quero saber porque me deixou.

- Deixa tudo como está.  Vais ressuscitar assuntos mortos que ninguém quer reviver.

- Preciso, nana! Diz-me onde ela está.

- Deixa-me primeiro falar com ela. Dá-me 2 dias.  Hoje é quarta-feira. Volta aqui sábado.

- Eu volto. E tu precisas de alguma coisa nana?

- Não filha, eu já sou muito ajudada graças a Deus.

- Então até sábado.

Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora