Quando a Ju estava totalmente restabelecida, levei-a à minha nova casa.
A minha mãe ficou muito feliz em vê-la bem.Ela gostou imenso da casa e do quarto que eu decorei para nós dois.
- Está lindo amor, mas se eu morar aqui vou mudar algumas coisas.
- Tudo o que a senhorita quiser. Disse dando-lhe um beijo.
Os dias foram passando. A Ju voltou ao seu posto no hospital mas as coisas tinham mudado.
Várias vezes a encontrei de conversa animada com o Sérgio. Os dois riam de alguma situação. Qual o grau de amizade para tanta conversa? Eu sei que os dois estiveram na missão mas nada mais.
Hoje durante a minha hora de almoço desci para a cafetaria do hospital.
Numa mesa lá estavam os dois de conversa.
Assim que me viram o Sérgio despediu-se e saiu.Peguei o meu almoço e segui até à mesa dela?
- Posso?
- Concerteza. Fica à vontade.
- Que tanto assunto tens com o Sérgio? Vivem de conversinha.
- O Sérgio é meu amigo. Não pode?
Ficámos mais amigos durante a viagem a Angola.- Sei.
- Inclusive estávamos a combinar sair amanhã à noite. Toda a equipe da missão.
- Amanhã tenho plantão. Hoje também. Não podemos ver-nos.
- Sim. Mas ninguém vai levar parceiro. Só mesmo os integrantes da missão.
- Entendi.
- Preciso ir. Vejo-te depois de amanhã.
- Cuidado com a condução. Não bebas muito.
- Sem problema. O Sérgio vai me apanhar em casa e depois regresso com ele. Não levo o meu carro.
Engoli seco e não respondi.
Ela saiu e eu fiquei ali feito bôbo morrendo de ciúmes. Aqui tem coisa.
Não falámos mais durante os dois dias.
A Ju tinha iniciado as aulas na faculdade. Por esse e outros motivos os nossos encontros eram raros. Chocávamos às vezes num corredor do hospital, trocávamos meia dúzia de palavras mas nada mais.
À noite era difícil. Ou eu tinha plantão ou ela estava cansada da faculdade.
Eu sentia-me desgastado com a situação. Queria conversar com ela mas ao mesmo tempo não queria fazer julgamentos precipitados.
Eu queria confiar nela. Era só uma má fase.
Encontrei o Sérgio no gabinete dele. Trocámos ideias sobre um paciente.
A nossa relação mantinha-se a mesma.
Eu não deixo que os meus ciúmes interfiram no meu trabalho e pode muito bem ser coisa da minha cabeça.Hoje a Ju não veio ao hospital. Mandou-me uma mensagem se eu pudesse para ir lá.
A qualquer hora pois também não ia à faculdade.Assim que terminei meu turno segui para casa dela.
- Boa tarde, dona Isa. A Ju?
- Boa tarde. Está lá no quarto. Ainda não saiu de lá hoje.
- Cheguei, bati à porta e já fui entrando. Ela estava deitada.
- Que se passa? Na cama a esta hora?
- Vem cá. Só me abraça.
Abracei-a e afagando o seu cabelo disse.
- Conta-me o que te incomoda. Há um tempo que te acho diferente. Até comigo. Mais fria e distante.
- Sinto-me perdida. Não sei explicar.
Desde a minha doença nada faz sentido. Nem da faculdade estou a gostar, já pensei cancelar a matrícula.- Eu acho que tu devias apostar na Psicologia clínica. Fizeste o curso e terminaste com boas notas. Não foi só porque calhou, alguma coisa aí no teu interior te levou para esse caminho. Consulta um colega da àrea.
- Não sei. Estou sem ânimo, depressiva, mal humorada.
- E nós? Como estamos?
- Não sei. Estou confusa. Preciso de tempo.
- Tempo? Pra quê? É muito fácil. Ou estamos juntos ou não.
- Para ti tudo é fácil.
- Queres terminar? Perguntei.
- Não quero empatar a tua vida. Preciso de alinhar as ideias.
- Há outra pessoa? Se houver prefiro saber já e por ti do que por terceiros.
- Não há mais ninguém.
Já vou indo. Se precisares de um amigo eu estou aqui, disse dando-lhe um beijo na testa.
Já na porta olhei para ela que chorava mas o meu orgulho fez-me sair sem dizer mais nada.
Entrei no carro e soquei o volante de raiva. Em vez de ir para casa conduzi sem destino. Fui para na beira de um lago e ali fiquei até me acalmar.
Uma semana se passou e ela não me procurou. Liguei à mãe dela e contou-me que tinha cancelado a matrícula na faculdade. Fez um intervalo no voluntariado também.
Agora vivia entre a casa da mãe e do pai. O pai cobrava muito a presença dela lá em casa.
A saúde dele tinha sofrido uma alteração. Apesar de todos os cuidados ele não estava bem. A Ju praticamente vivia lá.
Hoje para minha surpresa ela estava no meu gabinete à espera. Eram 8 horas da manhã.
- Bom dia.
- Bom dia. Precisamos conversar.
- Deve ser grave para vires aqui a esta hora.
- Estou grávida disse sem rodeios.
- Olhei para ela. Noutro tempo eu pularia de alegria. Hoje eu só consegui dizer:
- É meu?
Ela olhou para mim com cara de ódio e disse:
- Repete isso mas pensa antes de responder.
- Não tem que pensar. É meu?
Ela olhou fixamente nos meus olhos, tacou a mão na minha cara, virou as costas e saiu.
Eu fiquei ali com a mão na face tentando entender o que tinha acontecido.
Juliette chegou a casa da mãe a chorar.
- Que foi filha?
- O Rodolffo é um idiota. Não quero mais ele aqui.
- Que fez ele?
- Deixa mãe. Vou para o meu quarto.
Dona Isa encolheu os ombros e pensou:
" filhos criados, trabalhos dobrados"