Capítulo 17

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Quando a Ju estava totalmente restabelecida, levei-a à minha nova casa.
A minha mãe ficou muito feliz em vê-la bem.

Ela gostou imenso da casa e do quarto que eu decorei para nós dois.

- Está lindo amor, mas se eu morar aqui vou mudar algumas coisas.

- Tudo o que a senhorita quiser.  Disse dando-lhe um beijo.

Os dias foram passando. A Ju voltou ao seu posto no hospital mas as coisas tinham mudado.

Várias vezes a encontrei de conversa animada com o Sérgio. Os dois riam de alguma situação.  Qual o grau de amizade para tanta conversa? Eu sei que os dois estiveram na missão mas nada mais.

Hoje durante a minha hora de almoço desci para a cafetaria do hospital.

Numa mesa lá estavam os dois de conversa.
Assim que me viram o Sérgio despediu-se e saiu.

Peguei o meu almoço e segui até à mesa dela?

- Posso?

- Concerteza. Fica à vontade.

- Que tanto assunto tens com o Sérgio? Vivem de conversinha.

- O Sérgio é meu amigo. Não pode?
Ficámos mais amigos durante a viagem a Angola.

- Sei.

- Inclusive estávamos a combinar sair amanhã à noite. Toda a equipe da missão.

- Amanhã tenho plantão. Hoje também.  Não podemos ver-nos.

- Sim. Mas ninguém vai levar parceiro.  Só mesmo os integrantes da missão.

- Entendi.

- Preciso ir. Vejo-te depois de amanhã.

- Cuidado com a condução.  Não bebas muito.

- Sem problema.  O Sérgio vai me apanhar  em casa e depois regresso com ele. Não levo o meu carro.

Engoli seco e não respondi.

Ela saiu e eu fiquei ali feito bôbo morrendo de ciúmes.  Aqui tem coisa.

Não falámos mais durante os dois dias.

A Ju tinha iniciado as aulas na faculdade.  Por esse e outros motivos os nossos encontros eram raros.  Chocávamos às vezes num corredor do hospital, trocávamos meia dúzia de palavras mas nada mais.

À noite era difícil.  Ou eu tinha plantão ou ela estava cansada da faculdade.

Eu sentia-me desgastado com a situação.  Queria conversar com ela mas ao mesmo tempo não queria fazer julgamentos precipitados.

Eu queria confiar nela. Era só uma má fase.

Encontrei o Sérgio no gabinete dele. Trocámos ideias sobre um paciente.
A nossa relação mantinha-se a mesma.
Eu não deixo que os meus ciúmes interfiram no meu trabalho e pode muito bem ser coisa da minha cabeça.

Hoje a Ju não veio ao hospital.  Mandou-me uma mensagem se eu pudesse para ir lá.
A qualquer hora pois também não ia à faculdade.

Assim que terminei meu turno segui para casa dela.

- Boa tarde,  dona Isa. A Ju?

- Boa tarde. Está lá no quarto. Ainda não saiu de lá hoje.

- Cheguei, bati à porta e já fui entrando.  Ela estava deitada.

- Que se passa? Na cama a esta hora?

- Vem cá.  Só me abraça.

Abracei-a e afagando o seu cabelo disse.

- Conta-me o que te incomoda. Há um tempo que te acho diferente. Até comigo.  Mais fria e distante.

- Sinto-me perdida.  Não sei explicar.
Desde a minha doença nada faz sentido. Nem da faculdade estou a gostar, já pensei cancelar a matrícula.

- Eu acho que tu devias apostar na Psicologia clínica.  Fizeste o curso e terminaste com boas notas. Não foi só porque calhou, alguma coisa aí no teu interior te levou para esse caminho.   Consulta um colega da àrea.

- Não sei. Estou sem ânimo, depressiva, mal humorada.

- E nós? Como estamos?

- Não sei. Estou confusa. Preciso de tempo.

- Tempo? Pra quê? É muito fácil.  Ou estamos juntos ou não.

- Para ti tudo é fácil.

- Queres terminar? Perguntei.

- Não quero empatar a tua vida. Preciso de alinhar as ideias.

- Há outra pessoa? Se houver prefiro saber já e por ti do que por terceiros.

- Não há mais ninguém.

Já vou indo. Se precisares de um amigo eu estou aqui, disse dando-lhe um beijo na testa.

Já na porta olhei para ela que chorava mas o meu orgulho fez-me sair sem dizer mais nada.

Entrei no carro e soquei o volante de raiva. Em vez de ir para casa conduzi sem destino.   Fui para na beira de um lago e ali fiquei até me acalmar.

Uma semana se passou e ela não me procurou.  Liguei à mãe dela e contou-me que tinha cancelado a matrícula na faculdade.  Fez um intervalo no voluntariado também.

Agora vivia entre a casa da mãe e do pai. O pai cobrava muito a presença dela lá em casa.

A saúde dele tinha sofrido uma alteração.  Apesar de todos os cuidados ele não estava bem.  A Ju praticamente vivia lá.

Hoje para minha surpresa ela estava no meu gabinete à espera.  Eram 8 horas da manhã.

- Bom dia. 

- Bom dia. Precisamos conversar.

- Deve ser  grave para vires aqui a esta hora.

- Estou grávida disse sem rodeios.

- Olhei para ela. Noutro tempo eu pularia de alegria. Hoje eu só consegui dizer:

- É meu?

Ela olhou para mim com cara de ódio e disse:

- Repete isso mas pensa antes de responder.

- Não tem que pensar.  É meu?

Ela olhou fixamente nos meus olhos, tacou a mão na minha cara, virou as costas e saiu.

Eu fiquei ali com a mão na face tentando entender o que tinha acontecido.

Juliette chegou a casa da mãe a chorar.

- Que foi filha?

- O Rodolffo é um idiota. Não quero mais ele aqui.

- Que fez ele?

- Deixa mãe. Vou para o meu quarto.

Dona Isa encolheu os ombros e pensou:

    " filhos criados,  trabalhos dobrados"



Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora