Capítulo 19

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Depois do funeral do pai da Ju nunca mais a vi nem falei com ela.

Hoje recebi um telefonema da mãe dela. Precisava de falar comigo.

- Rodolffo! Quando puderes podes passar cá em casa?

- Passo, sim.  Algum problema com a Ju? Ela está bem?

- Falamos pessoalmente.

- Está bem.  Vou ver aqui se posso ir hoje.

Aquele telefonema deixou-me preocupado. Eu e a Ju não nos falamos mas não é por isso que eu deixei de a amar.
Estou dando o tempo que ela quizer mas não desisto dela.

Hoje tinha o dia muito ocupado. Depois do hospital preciso passar na minha antiga casa.   Como a minha mãe não se quis desfazer dela vamos reformá-la e transformar em algo que mais para a frente conto.

Se puder realizar os planos que tenho para ela serei o homem mais realizado deste planeta.

A minha colega Matilde, licenciada em pediatria, veio convidar-me para um café.

- Hoje o dia está muito corrido, Matilde.  Nem tive tempo de almoçar.

- Mais uma razão. Anda lá, comes qualquer coisa e conversamos um pouco.

- Mas bem rápido.

Pedimos os nossos lanches e sentámos numa mesa.

- Só te vejo trabalhar.  Nunca te diverte-se, Rodolffo?
Precisamos sair um dia para a balada.

- Não tenho tempo para baladas. Nas horas livres preciso de descanso.

- Nada melhor para descansar que uma boa noite de sexo. Um vinho,  uma cama e sexo são três ingredientes para uma longa vida.

- Mas, tu és safada!

- Podia mostrar-te a minha safadeza.

- Estou fora. Não estou afim desse tipo de relacionamento.

- Vejo que usas aliança.  Quem é a sortuda.

- Neste momento ninguém.  Estamos um pouco cada um para o seu lado.

- Anda sair comigo hoje?

- Sem chance Matilde.  Não seria boa companhia.

- Pelo menos tentei.

- Vamos?

Directa e desavergonhada, pensei eu quando nos separámos.

Apesar de não ter compromisso com a Ju estava fora de questão.
O nosso caso ainda não terminou.

Terminou meu dia.  Passei em casa,  tomei um banho e jantei com a minha mãe.

Já tinha enviado uma mensagem à mãe da Ju. Ia lá a seguir ao jantar.

- Filho! Precisas de férias.  Trabalhas de mais, alimentas-te mal.  Olha essas olheiras.
Quando é que tiveste uma noite de sono decente?

- Há muito tempo mãe.  Mas o trabalho  ajuda a esquecer algumas coisas.

- Algumas coisas ou alguém?  Não te iludas.  Pensas que esqueces mas lá no fundo está bem presente.

- Se tu e a Ju não fossem tão orgulhosos estariam os dois felizes.

- Eu fui um besta.

- Então vai à luta e resolve ou então esqueçam-se de vez.

- É mãe. Deixa eu ir lá falar com a mãe dela.

Chegando lá dona Isa terminava de jantar.

- Entra aí para a salinha.   Vou buscar um café para nós.

- Dona Isa! A Ju não está?

- Meu filho,  faz mais de 10 dias que ela foi embora.  Eu estou muito preocupada.

- Embora para onde?  Com quem?

- Eu sei onde ela está, mas, ela não quer ninguém com ela. Diz que precisa de estar sozinha mas eu tenho muito medo, principalmente pelo estado dela.

- Que estado?  Onde está?

- A gravidez Rodolffo.   Sózinha naquele fim de mundo.   Ela está no nosso chalé da montanha, mas aquilo lá é isolado.  Se ela precisar não tem ajuda.

- Dona Isa.  A Ju disse que não havia gravidez,  que tinha sido alarme falso.  Ela não podia ter feito isso.

- Rodolffo,  vocês precisam se resolver.  Ficam nessa competição de egos e só se magoam.

- Eu prometo resolver isso.  Ela tem falado consigo?

- Sim. Todos os dias.  Diz sempre que está feliz mas eu sinto que não é verdade.

- Vou pedir férias no hospital e vou lá  buscá-la.  Vou precisar de dois ou três dias.  Depois passo aqui e pego a morada.

- Faz isso filho.  Ela é orgulhosa mas eu tenho a certeza que vai gostar de te ter lá.
Vou comprar umas comidinhas que ela gosta para tu levares.

- Tá.  Depois eu volto.   Até amanhã.

- Adeus filho.   Deus te abençoe.

No dia seguinte  de regresso ao hospital entreguei à Administração um pedido de antecipação de férias por motivos pessoais.  
Precisava iniciar as férias no máximo em 3 dias.

A Administração analisou a situação  e rápidamente concedeu os 30 dias de férias que ele tinha direito.
Aliás ele já devia ter tirado as férias há 2 meses atrás.

Começo depois de amanhã.   Hoje é amanhã cumpro a minha agenda e depois passo para o colega substituto.

Liguei à mãe da Ju para preparar tudo que em três dias ia ter com ela.

- Que alívio meu filho.  Agora espero que se entendam.

Na saída do trabalho passei numa loja.  Tinha algo importante para comprar.

Se é para fazer tem que ser bem feito.







Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora