Capítulo 3

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Hoje era a minha folga no hospital.  A minha mãe teria alta ao final do dia mas antes de ir buscá-la vou passar na delegacia.

O agente de serviço mostrou-me o relatório do acidente ainda incompleto pois falta o relatório do perito da seguradora.

- Decididamente há aqui 2 contradições nas declarações das ocupantes do veículo,  disse ao agente.

- É.  Mas acreditamos no depoimento  da moça que estava ao lado da motorista.   A senhora que conduzia o carro enrolou-se um pouco nas explicações.

- E quando posso ter acesso ao relatório completo?

- Creio que na próxima semana.

Saí dali em direcção ao hospital.

Tratei da alta na secretaria e dirigi-me ao quarto da minha mãe.

- A senhora sua mãe está com visita.

Como visita? Ela praticamente não se dá com ninguém!

Entrei  e uma moça loira estava sentada conversando com ela.

- Filho! Esta moça estava no carro.  Foi ela que me ajudou.

- Boa tarde, doutor.  O meu nome é Clara.  Lamento o que aconteceu à sua mãe. Estou aqui para ajudar no que puder.

- Podiam era andar com mais cuidado na estrada. Cambada de irresponsáveis.

- Entendo doutor.

- E quem é a doida que ia a conduzir?

- A minha amiga Juliette de Bragança.

Senti a minha mãe desconfortável ao ouvir o nome.  Eu tinha lido o mesmo no relatório da delegacia mas não consigo associar a ninguém.

- Que foi mãe? Conheces esse nome?

- Não, respondeu ela mas isso deixou-me com a pulga atrás da orelha.

A Clara despediu-se e deixou o telefone, caso precisasse de algo.

- De momento eu não trabalho, então se precisar de ajuda com a sua mãe pode ligar.   Nem que seja só para fazer companhia.

- Obrigada.  Ainda se encontram pessoas conscientes, respondi eu.

Na casa de Juliette

- Pai! O que vai acontecer agora?

- Nada. Vou pagar o que tiver que pagar.

- Tens noção que podias ter morto a senhora e agora estavas presa?

- Tu não deixavas.

- Filha! Há coisas que nem eu posso controlar.  Já estou farto de acobertar as tuas irresponsabilidades. Quando vais crescer?
Desta vez foste um pouco longe demais.

- Prometo mudar.

- Tal como das milhentas vezes que já prometeste.

Juliette encolheu os ombros e foi em direcção ao quarto.

Clara deixou o hospital e dirigiu-se à casa da amiga.

- Telefonei e não atendeste, disse Juliette.

- Estava no hospital.  Fui visitar a senhora que atropelaste.

- E ela recebeu-te?

- Muito bem.  É um amor de pessoa.  Conheci o filho.  Que homem gato.  É médico lá no hospital.

- Bom pra ele.  Não quero saber mais desse assunto.  O meu pai vai pagar as despesas e eu vou esquecer.

- Como podes ser tão insensível.

- Assim não sofro.

- Sabes que eles são sozinhos? Quando o doutor for trabalhar a mãe fica em casa sem ninguém.

- O seguro do carro pode pagar uma companhia para a ajudar.  É só eles pedirem.

Ali ficámos numa conversa que não levava a lugar algum.

Na casa de Rodolffo

Levei a minha mãe para casa e fui pesquisar o tal nome de Bragança.

...família abastada, possui diversas propriedades e uma enorme fortuna.  Há que diga que a mesma não foi adquirida de forma muito legal mas faltam provas.
Até agora ninguém soube como é que de repente apareceu boa parte dos bens.

Perante a reacção que a minha mãe teve,  vou querer saber mais.

Preciso de uma ponte de ligação à essa família.   Já sei a Clara.  Se ela é amiga da tal Juliette deve saber muito.

Liguei e pedi para ela vir falar comigo.

- Clara, pensei na sua proposta e gostaria de saber se poderia ser dama de companhia da minha mãe.
A troco de um salário, claro.

- Com muito gosto.   Eu tenho muito tempo livre e é uma maneira de compensar,  apesar de não me sentir responsável pelo acidente.  Mas eu estava lá também.
Quanto ao salário,  eu só aceito se for o seguro do carro a pagar.  De vocês eu não quero nada.

- Combinado.   Eu vou ter que acertar também a conta do hospital.

Os dias passaram, eu e a mãe do Rodolffo estávamos mais ligadas.  Ele vivia dentro do hospital.
Às vezes a mãe do Rodolffo fazia-me perguntas sobre a família Bragança.
Como eram, se eram muito ricos, quem compunha a família.

- Porque está tão interessada?

- Só curiosidade mesmo.  Achei a menina muito fria lá no dia do acidente.

- É. E é mesmo.  Pensa que o dinheiro compra tudo. Por isso não tem amigos.

- Gostava de a conhecer.

- Quer que eu a traga aqui? Não deve ser fácil mas posso tentar.

- Sem o Rodolffo saber, está bem?

- Sim.  Sem ninguém saber.




Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora