Hoje era a minha folga no hospital. A minha mãe teria alta ao final do dia mas antes de ir buscá-la vou passar na delegacia.
O agente de serviço mostrou-me o relatório do acidente ainda incompleto pois falta o relatório do perito da seguradora.
- Decididamente há aqui 2 contradições nas declarações das ocupantes do veículo, disse ao agente.
- É. Mas acreditamos no depoimento da moça que estava ao lado da motorista. A senhora que conduzia o carro enrolou-se um pouco nas explicações.
- E quando posso ter acesso ao relatório completo?
- Creio que na próxima semana.
Saí dali em direcção ao hospital.
Tratei da alta na secretaria e dirigi-me ao quarto da minha mãe.
- A senhora sua mãe está com visita.
Como visita? Ela praticamente não se dá com ninguém!
Entrei e uma moça loira estava sentada conversando com ela.
- Filho! Esta moça estava no carro. Foi ela que me ajudou.
- Boa tarde, doutor. O meu nome é Clara. Lamento o que aconteceu à sua mãe. Estou aqui para ajudar no que puder.
- Podiam era andar com mais cuidado na estrada. Cambada de irresponsáveis.
- Entendo doutor.
- E quem é a doida que ia a conduzir?
- A minha amiga Juliette de Bragança.
Senti a minha mãe desconfortável ao ouvir o nome. Eu tinha lido o mesmo no relatório da delegacia mas não consigo associar a ninguém.
- Que foi mãe? Conheces esse nome?
- Não, respondeu ela mas isso deixou-me com a pulga atrás da orelha.
A Clara despediu-se e deixou o telefone, caso precisasse de algo.
- De momento eu não trabalho, então se precisar de ajuda com a sua mãe pode ligar. Nem que seja só para fazer companhia.
- Obrigada. Ainda se encontram pessoas conscientes, respondi eu.
Na casa de Juliette
- Pai! O que vai acontecer agora?
- Nada. Vou pagar o que tiver que pagar.
- Tens noção que podias ter morto a senhora e agora estavas presa?
- Tu não deixavas.
- Filha! Há coisas que nem eu posso controlar. Já estou farto de acobertar as tuas irresponsabilidades. Quando vais crescer?
Desta vez foste um pouco longe demais.- Prometo mudar.
- Tal como das milhentas vezes que já prometeste.
Juliette encolheu os ombros e foi em direcção ao quarto.
Clara deixou o hospital e dirigiu-se à casa da amiga.
- Telefonei e não atendeste, disse Juliette.
- Estava no hospital. Fui visitar a senhora que atropelaste.
- E ela recebeu-te?
- Muito bem. É um amor de pessoa. Conheci o filho. Que homem gato. É médico lá no hospital.
- Bom pra ele. Não quero saber mais desse assunto. O meu pai vai pagar as despesas e eu vou esquecer.
- Como podes ser tão insensível.
- Assim não sofro.
- Sabes que eles são sozinhos? Quando o doutor for trabalhar a mãe fica em casa sem ninguém.
- O seguro do carro pode pagar uma companhia para a ajudar. É só eles pedirem.
Ali ficámos numa conversa que não levava a lugar algum.
Na casa de Rodolffo
Levei a minha mãe para casa e fui pesquisar o tal nome de Bragança.
...família abastada, possui diversas propriedades e uma enorme fortuna. Há que diga que a mesma não foi adquirida de forma muito legal mas faltam provas.
Até agora ninguém soube como é que de repente apareceu boa parte dos bens.Perante a reacção que a minha mãe teve, vou querer saber mais.
Preciso de uma ponte de ligação à essa família. Já sei a Clara. Se ela é amiga da tal Juliette deve saber muito.
Liguei e pedi para ela vir falar comigo.
- Clara, pensei na sua proposta e gostaria de saber se poderia ser dama de companhia da minha mãe.
A troco de um salário, claro.- Com muito gosto. Eu tenho muito tempo livre e é uma maneira de compensar, apesar de não me sentir responsável pelo acidente. Mas eu estava lá também.
Quanto ao salário, eu só aceito se for o seguro do carro a pagar. De vocês eu não quero nada.- Combinado. Eu vou ter que acertar também a conta do hospital.
Os dias passaram, eu e a mãe do Rodolffo estávamos mais ligadas. Ele vivia dentro do hospital.
Às vezes a mãe do Rodolffo fazia-me perguntas sobre a família Bragança.
Como eram, se eram muito ricos, quem compunha a família.- Porque está tão interessada?
- Só curiosidade mesmo. Achei a menina muito fria lá no dia do acidente.
- É. E é mesmo. Pensa que o dinheiro compra tudo. Por isso não tem amigos.
- Gostava de a conhecer.
- Quer que eu a traga aqui? Não deve ser fácil mas posso tentar.
- Sem o Rodolffo saber, está bem?
- Sim. Sem ninguém saber.