Capítulo 20

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Despedi-me da minha mãe.

Passei na mãe da Ju para buscar os bens que ela tinha comprado.

Coloquei a morada do chalé no GPS e dei tchau a dona Isa.

- Deus te acompanhe.  Cuida da minha menina.

Parti já passava das 15 horas.  Chegaria por volta da hora do jantar.

Espero que a Ju não se assuste ao ver chegar uma pessoa aquela hora.

Ao fim de 2 horas de viagem fiz uma pequena paragem para um café.  Comprei àgua e uns biscoitos que comi de seguida logo que reiniciei a viagem.  Estava deveras ansioso.

E se ela não me aceitar lá.

Mil e uma pergunta passou na minha mente.  Mil e uma situações conjecturei que pudessem acontecer.

Revi todo o meu percurso com a Ju.  Os bons e maus momentos, os momentos difíceis da minha infância,  as dificuldades da minha mãe,  o acidente, a doença da Ju.  Tudo isto veio à tona durante a viagem.

O GPS do carro mandava-me sair da via rápida e entrar numa estrada, estreita de uma única via.

A estrada além de estreita, era de terra e mal iluminada.  Fiquei confuso.
Será que vou na direcção certa?  Como é que aquela mulher se vem enfiar neste fim de mundo.

Finalmente à minha frente vejo alguns pontos de luz mas distantes uns dos outros.  O GPS indicava que o destino era já em frente a 50 mts.

Parei o carro, saí e olhei em volta.  Um chalé muito bonito e cuidado tinha um alpendre  na zona frontal.
2 redes penduradas e 2 cadeiras de baloiço.

A noite estava agradável.  Corria uma brisa mas estava quente.

Aproximei-me da entrada e vi a Ju numa das cadeiras de baloiço.  Parecia estar a dormir.

Fiquei sem saber como me aproximar com medo do susto que ela vai apanhar.

Tentei fazer barulho ao andar mas ela não se moveu.

Sentei-me num lugar meio escondido e comecei a cantar uma canção que ela gostava muito.

    " da àgua pró lixo "
                De
          Israel & Rodolffo

Do local onde estava vi ela mover-se e olhar em volta prestando atenção de onde vinha o som.

Levantei-me e caminhei na direcção dela.

Ela não se moveu e eu ao chegar ao pé dela baixei-me e segurei nas suas mãos.

- Vim para ficar.  Não vou embora.  E beijei as mãos.

Ela olhou para mim já com lágrimas nos olhos, passou as mãos no meu rosto e respondeu:

- Estava a sonhar contigo.

Abraçámo-nos num abraço tão apertado como querendo matar a saudade de uma vez.

Sentei-me na cadeira e coloquei-a no colo.  Iniciámos um beijo  carregado de amor e falta.  Ela recostou a cabeça no meu peito e colocou a minha mão na sua barriga.

- Tem aqui o nosso bébé.

- Eu sei amor! Perdoa-me por eu ter duvidado mas naquele dia eu morria de ciúmes de ti e do Sérgio.

- Mas nós nunca tivemos nada um com o outro.

- Eu sei agora, mas naquela altura não sabia.  Tu estavas distante.

- Eu estava confusa.  Mas nunca te traí.

- Não vamos falar disso agora.  Deixa eu aproveitar para matar a saudade, disse apertando-a contra mim.

- Foi a minha mãe que me dedurou, não?

- Ela estava preocupada contigo aqui só.

- Aqui é bonito à noite.  Tão calmo.

- De dia também.   Tem uma cachoeira aqui perto, mas, eu ainda não fui lá.  Estava com medo de cair e me machucar.  E também pelo bébé.

- E como tens passado.  Enjoo?

- Muito bem.  Não estou enjoando.  Só fome mesmo.  No final da gravidez vou virar baleia.

- A minha baleiazinha linda.

- Por falar em fome...

- A tua mamãe mandou jantar e coisas gostosas.

- Oba!  Bora comer.

- Vou buscar tudo ao carro.

- Ela puxou o meu braço para me parar.

- Amor!  Vais ficar quantos dias?

Dei-lhe um selinho. - só saio daqui contigo. - estou com 30 dias de férias.

- 30 dias só nós dois aqui?  Coisa gostosa,  disse abraçando-me pela cintura.

Descarreguei o carro e levá-mos tudo para dentro.

- Amor!  O chalé é lindo.  Eu quero vir aqui muitas vezes.

- É nosso.  Vimos sempre que quisermos.

A minha mãe realmente tinha mandado imensas coisas.  Várias comidas prontas, queijos, frutas, chocolate,  biscoitos,  cereais,  pão,  yogurtes e tantas outras coisas.

- Oh tanta comida.   Parece que ela quer que a gente fique aqui muito tempo.

Jantámos e fomos para a varanda com o café.  A Ju quis chocolate.

- Está uma noite tão agradável que dá para dormir aqui.

- É mesmo mas hoje eu quero tudo menos dormir e isso é mais confortável lá na cama.  Não que estas redes e estas cadeiras não sejam tentação mas hoje eu quero poder beijar esse corpinho bem feito, antes de virar baleiinha.

Ela deu-me um tapa no braço. - Parvo.

- Desculpa, não resisti.  Mas foste tu que disseste!

- Eu vou entupir essa tua boca de comida até tu virar cachalote.  Tu vais ver.

- Vamos para dentro, amor. 

- Vamos sim.   Estou com sono.

- Sono.  Sei que sono é esse.

Levei-a ao colo para o interior da casa.





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