O assunto da gravidez povoou a minha mente durante todo o dia.
- E se eu for realmente o pai? E se estou a ser imbecil?
Fui ter com o Sérgio. Se ela me traiu de certeza foi com ele.
- Sérgio! Somos amigos há anos. O que vou perguntar é muito importante para mim.
- Tu e a Juliette tiveram algum envolvimento?
- Como assim? A Ju é só uma grande amiga. Nem era possível ser outra coisa.
- Porquê? Tens alguém?
- Não mas nunca seria a Ju.
Rodolffo! Eu sempre senti os ciúmes que tu tinhas em ver- nos juntos e isso era divertido.- Não sei onde está a graça.
- Amigo. Vou contar-te algo que aqui no hospital só a Ju sabe. Nunca contei a ninguém porque a minha vida privada não diz respeito a ninguém. A Ju descobriu e perguntou.
Eu sou gay por isso a Ju não passa de grande amiga. Em Angola ficámos mais íntimos.
Pára de ciúmes.- Obrigado pela sinceridade. Preciso concertar uma coisa.
Saí do hospital e telefonei à Ju que recusou a minha chamada.
Segui em direcção à casa dela.
- Dona Isa. Preciso muito de falar com a Ju.
- Ela disse que não te queria ver. Vou lá ver se já mudou de ideias.
Ela foi e eu segui atrás dela.
- Mãe! Já disse que não quero ver essa pessoa nunca mais.
Dona Isa saiu e logo eu entro no quarto.
- Qual a parte que não entendeste que não te quero ver.
- Não olhes para mim mas vais-me ouvir.
- Ainda vem com graça.
- Hoje de manhã fui um imbecil, sem coração. Um ser que nem eu reconheci. Mesmo que eu tivesse alguma dúvida não podia ter-te tratado assim.
- Claro que o filho é meu e estou muito feliz com isso. Perdoa-me. Vamos encarar juntos o nosso bébé.
- Eu amo-te tanto. Falei movido pelos ciúmes de ti com o Sérgio.
- Não tem bébé. Eu estava atrasada mas minha menstruação veio. Eu é que me iludi.
- Não faz isso. Eu sei que mereço mas não me castiga.
- É verdade. Podes seguir a tua vida que eu sigo a minha. Agora vai embora. Eu quero ficar só.
Ele saiu. Ouvi ele conversar vou a minha mãe mas depois tudo em silêncio.
2 semanas depois a saúde do meu pai piorou bastante e ele acabou por falecer.
Pedi ao Matias que providenciasse um funeral simples.
O Rodolffo ligou disponibilizando-se para o que fosse preciso.
Não houve muita gente no cemitério.
Os poucos amigos que restaram, alguns funcionários, o Matias e a esposa, a pessoa que vivia agora com o meu pai eu, Rodolffo e a mãe. A minha mãe não se sentiu à vontade para comparecer e eu compreendi.Durante a cerimónia eu senti uma tontura a ponto de quase desmaiar.
Rodolffo, ao meu lado percebeu e segurou-me nos braços tendo-me trazido para o exterior da capela.
- Senta aqui. Vou buscar uma àgua.
Trouxe àgua com açúcar pois calculei que ela não tivesse comido nada.- Obrigada. Foi porque hoje não comi.
- Calculei, disse apertando-a num abraço.
Ela encostou a cabeça no meu peito.
Ficámos assim até que chegou o padre para iniciar a cerimónia.
Afaguei-lhe os cabelos e beijei a cabeça.
- Vamos? Estás com força?
- Vamos terminar isto para que o meu pai descanse.
Entrámos abraçados na igreja.
Uma semana depois Matias veio ter comigo. Ia regressar à terra dele.
Reuni com ele e minha mãe.
Era de meu gosto que a casa que foi última morada do meu pai ficasse para o Matias. Uma outra casa noutra cidade seria para a actual companheira de meu pai pois era muito perto da cidade dela.
O Matias continuará a receber o salário como actualmente. O património do meu pai é suficiente para comportar esta despesa e ele é merecedor por tantos anos dedicados à família.
A minha mãe concordou com tudo pois disse que todo o resto do património seria meu e eu podia fazer o que quisesse.
O Matias chorou ao receber esta notícia.
- Confesso menina Juliette que não saberia o que fazer lá na minha terra pois já não tenho lá família nem qualquer bem.
Agradeço a sua bondade e fico à disposição de si e sua mãe como sempre.- Eu é que agradeço Matias.
Juliette resolveu todas estas questões e falou para sua mãe.
- Mãe! Estou esgotada. Vou passar um tempo naquele chalé que temos na montanha. Preciso de paz para analisar bem a minha vida.
- Mas filha! Estás grávida. E se te acontece alguma coisa? Vais estar sozinha.
- Se acontecer é porque era vontade de Deus.
- Filha! Conta ao Rodolffo. Está na cara que os dois estão sofrendo.
- Deixa mãe. Melhor assim.
- Dois turrões.
Aproveitei estes dias para fazer pré natal e resolver alguma burocracia.
Contratei uma empresa para dar uma geral lá no chalé para estar pronto quando chegasse.
O chalé nem era tão longe. Ficava a apenas 4 horas daqui. Fiz algumas compras de alimentos para uma primeira necessidade.
- Podias levar a Clara. Eu ficava mais descansada.
- Não mãe. Eu quero estar sózinha. Preciso muito.
Dei um beijo na minha mãe, entrei no carro e parti.
Não sei quanto tempo vou ficar mas por agora é ali que quero estar.