Capítulo 18

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O assunto da gravidez povoou a minha mente durante todo o dia.

- E se eu for realmente o pai?  E se estou a ser imbecil?

Fui ter com o Sérgio.  Se ela me traiu de certeza foi com ele.

- Sérgio! Somos amigos há anos.  O que  vou perguntar é muito importante para mim.

- Tu e a Juliette tiveram algum envolvimento?

- Como assim? A Ju é só uma grande amiga.  Nem era possível ser outra coisa.

- Porquê? Tens alguém?

- Não mas nunca seria a Ju.
Rodolffo! Eu sempre senti os ciúmes que tu tinhas em ver- nos juntos e isso era divertido.

- Não sei onde está a graça.

- Amigo. Vou contar-te algo que aqui no hospital só a Ju sabe. Nunca contei a ninguém porque a minha vida privada não diz respeito a ninguém.  A Ju descobriu e perguntou.
Eu sou gay por isso a Ju não  passa de grande amiga.  Em Angola ficámos mais íntimos.
Pára de ciúmes.

- Obrigado pela sinceridade. Preciso concertar uma coisa.

Saí do hospital e telefonei à Ju que recusou a minha chamada.

Segui em direcção à casa dela.

- Dona Isa. Preciso muito de falar com a Ju.

- Ela disse que não te queria ver. Vou lá ver se já mudou de ideias.

Ela foi e eu segui atrás dela.

- Mãe! Já disse que não quero ver essa pessoa nunca mais.

Dona Isa saiu e logo eu entro no quarto.

- Qual a parte que não entendeste que não te quero ver.

- Não olhes para mim mas vais-me ouvir.

- Ainda  vem com graça.

- Hoje de manhã fui um imbecil, sem coração.  Um ser que nem eu reconheci.  Mesmo que eu tivesse alguma dúvida não podia ter-te tratado assim.

- Claro que o filho é meu e estou muito feliz com isso.  Perdoa-me. Vamos encarar juntos o nosso bébé.

- Eu amo-te tanto. Falei movido pelos ciúmes de ti com o Sérgio.

- Não tem bébé.  Eu estava atrasada mas minha menstruação veio.  Eu é que me iludi.

- Não faz isso.  Eu sei que mereço mas não me castiga.

- É verdade. Podes seguir a tua vida que eu sigo a minha. Agora vai embora. Eu quero ficar só.

Ele saiu.  Ouvi ele conversar vou a minha mãe mas depois tudo em silêncio.

2 semanas depois a saúde do meu pai piorou bastante e ele acabou por falecer.

Pedi ao Matias que providenciasse um funeral simples.

O Rodolffo ligou disponibilizando-se para o que fosse preciso.

Não houve muita gente no cemitério.
Os poucos amigos que restaram, alguns funcionários,  o Matias e a esposa, a pessoa que vivia agora com o meu pai eu, Rodolffo e a mãe.  A minha mãe não se sentiu à vontade para comparecer e eu compreendi.

Durante a cerimónia eu senti uma tontura a ponto de quase desmaiar.

Rodolffo, ao meu lado percebeu e segurou-me nos braços tendo-me trazido para o exterior da capela.

- Senta aqui. Vou buscar uma àgua.
Trouxe àgua com açúcar pois calculei que ela não tivesse comido nada.

- Obrigada.  Foi porque hoje não comi.

- Calculei, disse apertando-a num abraço.

Ela encostou a cabeça no meu peito.

Ficámos assim até que chegou o padre para iniciar a cerimónia.

Afaguei-lhe os cabelos e beijei a cabeça.

- Vamos? Estás com força?

- Vamos terminar isto para que o meu pai descanse.

Entrámos abraçados na igreja.

Uma  semana depois Matias veio ter comigo.   Ia regressar à terra dele.

Reuni com ele e minha mãe.

Era de meu gosto que a casa que foi última morada do meu pai ficasse para o Matias.  Uma outra casa noutra cidade seria para a actual companheira de meu pai pois era muito perto da cidade dela.

O Matias continuará a receber o salário como actualmente.  O património do meu pai é suficiente para comportar esta despesa e ele é merecedor por tantos anos dedicados à família.

A minha mãe concordou com tudo pois disse que todo o resto do património seria meu e eu podia fazer o que quisesse.

O Matias chorou ao receber esta notícia.

- Confesso menina Juliette que não saberia o que fazer lá na minha terra pois já não tenho lá família nem qualquer bem.
Agradeço a sua bondade e fico à disposição de si e sua mãe como sempre.

- Eu é que agradeço Matias.

Juliette resolveu todas estas questões e falou para sua mãe.

- Mãe! Estou esgotada.  Vou passar um tempo naquele chalé que temos na montanha.  Preciso de paz para analisar bem a minha vida.

- Mas filha! Estás grávida. E se te acontece alguma coisa? Vais estar sozinha.

- Se acontecer é porque era vontade de Deus.

- Filha! Conta ao Rodolffo.  Está na cara que os dois estão sofrendo.

- Deixa mãe.  Melhor assim.

- Dois turrões.

Aproveitei estes dias para fazer pré natal  e resolver alguma burocracia.

Contratei uma empresa para dar uma geral lá no chalé para estar pronto quando chegasse.

O chalé nem era tão longe. Ficava a apenas 4 horas daqui.  Fiz algumas compras de alimentos para uma primeira necessidade.

- Podias levar a Clara. Eu ficava mais descansada.

- Não mãe.  Eu quero estar sózinha.  Preciso muito.

Dei um beijo na minha mãe,  entrei no carro e parti.

Não sei quanto tempo vou ficar mas por agora é ali que quero estar.

Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora