O pai da Ju não tinha previsão de alta.
Todos os dias eu fazia uma visita ao seu quarto e ficava a conversar com ele e com Matias.- Quando me vai dar alta doutor?
- Quando o cardiologista indicar. Ainda tem alguns exames a fazer. E não se esqueça que deverá ser visto pelo menos daqui a 6 meses.
- Matias! Providencie para que alguém se lembre. Talvez quando a filha do senhor regressar possa ter isso em atenção.
- Concerteza doutor. A menina Juliette é muito responsável.
As obras de restauro da minha casa estavam avançadas. Faltava apenas a àrea externa e limpar a piscina.
Os jardineiros prometeram acabar em dois dias.
Em dois dias faríamos a mudança e quando a minha Ju chegasse era lá que eu a receberia.Mas o destino às vezes prega-nos partidas.
O pai da Ju teve alta na véspera da sua chegada.
O Matias veio buscá-lo e eu recomendei que alguém se responsabilizasse pela toma correcta da medicação.
- Pode deixar doutor. A minha esposa agora trabalha lá em casa e vai encarregar-se de tudo.
Hoje chegava a delegação da missão a Angola.
Questionei sobre o facto de terem pedido uma ambulância à chegada ao aeroporto.- Quem vem doente?
- Não sabemos, mas vem uma pessoa em estado grave. Pode nem ser da delegação. É possível que seja um natural que precisasse de vir receber assistência médica aqui.
Tinha terminado o meu plantão mas fiquei aguardando a chegada da Ju. Estava acordado que todos os elementos vinham directamente ao hospital para realizar exames de despistagem de doenças.
Vi a ambulância chegar e a agitação por parte das equipas que estavam todos com fatos anticontágio incluindo os que vinham de Angola.
Procurei a Ju naqueles rostos todos e não a vi.
Uma maca foi tirada da ambulância e pela figura em temi o pior. A minha Ju. Fui em direcção ao local mas não me deixavam passar.Procurei saber e ninguém dizia nada.
- Ninguém sabe. É preciso exames.
Pode ser contagioso, era só o que diziam.Um dos médicos da delegação, meu amigo, falou de longe.
- É a voluntária Juliette de Bragança. Pode ser paludismo ou malária.
Fiquei desesperado. Entraram todos pela mesma porta que se fechou imediatamente.
Só seriam liberados após sair o resultado das análises.As horas passavam e nada. Nenhuma informação. Na recepção eu andava de um lado para o outro.
- Doutor! Vá tomar um café, uma àgua. Estas coisas demoram. Deixe o seu telefone que quando houver notícias eu ligo.
Segui o conselho e aproveitei para ligar à minha mãe para não se preocupar que eu tinha substituído um colega e talvez ficasse no hospital.
Liguei ao Matias e expliquei a situação mas para não dizer nada ao pai por conta da saúde frágil.
Liguei à Clara para alertar a mãe, mas, que ninguém viesse ao hospital que não a conseguiam ver. Eu daria notícias.
Por fim liga a recepcionista
- Dr. Rodolffo! Está aqui o Dr. Sérgio com novidades.
Corri para lá. Cheguei ofegante, sinal de que preciso de academia.
- Sérgio! Conta tudo.
- Amigo! Estávamos todos bem felizmente mas na última noite a Juliette desenvolveu uma febre altíssima que não baixava por nada. Nem antipiréticos nem banho frio. Nada faz baixar a febre. No avião veio a soro e agora está a fazer exames.
- Qual achas que é o diagnóstico?
- Eu penso em paludismo. Mas ainda que te pergunte. Qual a vossa relação?
- É minha namorada.
- Lamento, amigo. Mas tudo vai ficar bem. Todos os outros elementos da missão fizeram os testes e estão negativos.
- Eu quero estar com ela.
- Deixa terminar os testes. Eu vou lá ver.
O Sérgio voltou ao fim de meia hora.
- Já está no quarto mas tens que te equipar para estares lá com ela. Vem.
O Sérgio levou-me. Vesti o fato, máscara, botas e luvas e entrei no quarto.
Doeu-me o coração ao vê-la ali, pálida, ligada a vários aparelhos, tomando soro. Soltei uma lágrima e fiz-lhe um carinho.
A febre tinha baixado um pouco. Confirmava-se o diagnóstico de paludismo.
Puxei uma poltrona para a sua cabeceira e fiquei ali a velar-lhe o sono.
Uma enfermeira mais tarde trouxe uma cama extra pois o quarto era enorme e cabiam duas camas mas eu não consegui dormir.
De madrugada veio um colega verificar a situação. Estava tudo igual. Conversámos um pouco sobre a doença da qual eu tinha pouca informação.
O resto da noite pesquisei tudo o que encontrei sobre paludismo. Causas, efeitos, sintomas, tratamento, e consequências.
Foi pesquisar a taxa de mortalidade e fiquei muito aflito e preocupado.Deus não pode querer que eu passe por isso. Nem eu nem ela merecemos.