Capítulo 9

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Juliette acordou de manhã e foi falar com o  motorista do seu pai.

- Matias! Levas-me ao hospital?

- Concerteza menina. Algum problema com o seu carro?

- Não. Não me apetece conduzir. E preciso de conversar contigo.

- Vou na frente Matias.

- Mas menina Juliette! O seu pai.

- O meu pai não está a ver.

Seguimos em direcção ao hospital.  Matias estacionou e preparava-se para me abrir a porta.

- Espera aí Matias.  Eu disse que preciso conversar contigo.

- Conheceste a minha mãe, certo?

- Sim.

- E como era ela com toda a gente?

- Era excelente.  Toda a gente gostava dela. Ficámos todos tristes por ela ter ido embora mas aliviados por ela deixar de ser maltratada.

- Achas que ela foi infiel ao meu pai?

- A senhora? Nunca.

- Matias! Eu sei que como motorista ouves muita coisa dentro deste carro.
O que falarmos aqui morre aqui.  Ninguém saberá desta conversa.

Ouviste alguma vez falar de um negócio com um Albuquerque.  Uma dívida de jogo ou outra coisa entre o meu pai e o advogado?

- Menina! Eu não posso dizer o que oiço aqui.

- Por favor Matias.   Eu encontrei a minha mãe.  Preciso de ajudá-la.  Ela vive sem recursos e não é justo com tanto que o meu pai tem.

- Que bom menina Juliette.  Ela merecia outra vida.

- Então ajuda-me a proporcioná-la.

- Eu ouvi o seu pai falar para o advogado que a sua mãe o tinha traído com o Albuquerque e que os dois se iam arrepender.
Numa outra vez eles comemoravam o facto do plano armado contra ele ter dado certo.

- Todas as escrituras e ações pertencentes ao Albuquerque já estão na minha mão, disse o seu pai.

- Agora é só fazer a troca de nome.

Numa outra altura eles conversavam sobre ainda não terem agilizando a papelada.  Foi quando o Albuquerque faleceu.

- Deixamos assim, por enquanto.  A trouxa da mulher não percebe de negócios e o filho é uma criança.

- Obrigada Matias por confiares em mim.

- Quer que a venha buscar depois?

- Não é preciso. Eu cá me desenrasco.

Na minha cabeça o plano começava a ganhar forma.

Cumpri o meu horário e fui a casa de dona Vera.
Deitei a cabeça no seu colo e chorei.

- Que foi minha filha?

- Todos os dias me decepciono com pessoas que eu achava exemplares.

Rodolffo acabara de acordar,  vinha em direcção à sala mas ao ouvir as duas conversando,  parou e não entrou.
Voltou para trás dando tempo para que Juliette se acalmasse.

Ao fim de uma meia hora veio à sala.

- Oi Juliette! Mãe, tem almoço?

- Tem filho.  Deixa que eu ponho na mesa.

- És servida Juliette?

- Não,  obrigada.

Ficámos os três a conversar à mesa.

Juliette tinha olhos de choro mas estava mais animada.

- Juliette! Vou sair à noite. Um barzinho.  Queres vir comigo?

Ela olhou para mim, confusa e demorou a responder.

- Vai filha! Vai fazer-te bem distraíres.

- Está bem.  Vou a casa. A que horas?

- 19 horas.  Jantamos em qualquer sítio e depois barzinho.

- Ok. Eu venho ter aqui e depois vamos só num carro.

- Deixa.  Eu apanho-te na tua casa.

- Não.  Eu prefiro vir aqui.

Aquilo fez-me confusão mas decidi não questionar.

- Então já vou. Até logo.

A minha mãe olhava para mim sem dizer nada.

- Que foi mãe? Fala.

- Gostas dela?

- Como assim, gosto dela?

- Gostar, gostar...

- Gosto.

- Muito.

A minha mãe só abanou a cabeça.

- Eu também.

Às 18,45 h, Juliette chegou.  Entrou em casa e estava deslumbrante.
Vestido preto de alcinhas, bem acima do joelho, sapatos stiletos, uma simples correntinha no pescoço e cabelos soltos e ondulados.  Pelos ombros um agasalho pois a noite prometia estar fresca.

Demos um beijo na minha mãe e saímos.

Eu vesti apenas uma calça jeans escura, camisa social preta e uma jaqueta de couro.

Deixámos o carro dela e fomos no meu.

Boa parte do caminho fomos em silêncio até que eu resolvi falar.

- Juliette! Passa-se alguma coisa? Não dizes nada.

- Podes tratar-me por Ju como os meus amigos.  Não se passa nada. Tenho tido algumas decepções nestes últimos dias.
Talvez hoje não seja boa companhia.

- Isso decidimos no fim da noite. Chegámos ao restaurante.  Comidinha melhora o humor.

Ela sorriu.

- Vês! Falei em comida já sorriste.

O jantar correu maravilhosamente.  A conversa fluía, não sei se pela companhia ou pelo vinho.
A Ju estava mais leve e eu... bem eu passei o jantar a admirar cada gesto dela.

No barzinho pedimos um coquetail sem àlcool, afinal viemos de carro.

Uma música suave começou a tocar e eu convidei-a para dançar.

Com ela nos meus braços, inspirei o perfume dos seus cabelos.  A meio da dança ela encostou a cabeça no meu peito.  Ficámos assim no nosso mundinho até que percebemos que a música tinha acabado e agora tocava um forró.
Rimos um para o outro e seguimos no forró.

Como tudo o que é bom acaba, estava na hora de ir embora.

- E agora Ju! O teu carro? Questionei quando saímos do bar.

- Vou buscar amanhã.

Abri a porta para ela entrar mas segurei-a pelos ombros e fiz um carinho na bochecha.

- Não queria que a noite acabasse.

- Foi muito bom, disse ela.

Com as duas mãos segurei o rosto dela e dei-lhe um beijo.

Ela colocou as mãos à volta da minha cintura aconchegando-se a mim.

O beijo intensificou-se e quando nos separámos tomei coragem e pedi:

- Dorme lá em casa hoje.

Ela beijou-me de novo e disse:

- Vamos.













Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora