Juliette acordou de manhã e foi falar com o motorista do seu pai.
- Matias! Levas-me ao hospital?
- Concerteza menina. Algum problema com o seu carro?
- Não. Não me apetece conduzir. E preciso de conversar contigo.
- Vou na frente Matias.
- Mas menina Juliette! O seu pai.
- O meu pai não está a ver.
Seguimos em direcção ao hospital. Matias estacionou e preparava-se para me abrir a porta.
- Espera aí Matias. Eu disse que preciso conversar contigo.
- Conheceste a minha mãe, certo?
- Sim.
- E como era ela com toda a gente?
- Era excelente. Toda a gente gostava dela. Ficámos todos tristes por ela ter ido embora mas aliviados por ela deixar de ser maltratada.
- Achas que ela foi infiel ao meu pai?
- A senhora? Nunca.
- Matias! Eu sei que como motorista ouves muita coisa dentro deste carro.
O que falarmos aqui morre aqui. Ninguém saberá desta conversa.Ouviste alguma vez falar de um negócio com um Albuquerque. Uma dívida de jogo ou outra coisa entre o meu pai e o advogado?
- Menina! Eu não posso dizer o que oiço aqui.
- Por favor Matias. Eu encontrei a minha mãe. Preciso de ajudá-la. Ela vive sem recursos e não é justo com tanto que o meu pai tem.
- Que bom menina Juliette. Ela merecia outra vida.
- Então ajuda-me a proporcioná-la.
- Eu ouvi o seu pai falar para o advogado que a sua mãe o tinha traído com o Albuquerque e que os dois se iam arrepender.
Numa outra vez eles comemoravam o facto do plano armado contra ele ter dado certo.- Todas as escrituras e ações pertencentes ao Albuquerque já estão na minha mão, disse o seu pai.
- Agora é só fazer a troca de nome.
Numa outra altura eles conversavam sobre ainda não terem agilizando a papelada. Foi quando o Albuquerque faleceu.
- Deixamos assim, por enquanto. A trouxa da mulher não percebe de negócios e o filho é uma criança.
- Obrigada Matias por confiares em mim.
- Quer que a venha buscar depois?
- Não é preciso. Eu cá me desenrasco.
Na minha cabeça o plano começava a ganhar forma.
Cumpri o meu horário e fui a casa de dona Vera.
Deitei a cabeça no seu colo e chorei.- Que foi minha filha?
- Todos os dias me decepciono com pessoas que eu achava exemplares.
Rodolffo acabara de acordar, vinha em direcção à sala mas ao ouvir as duas conversando, parou e não entrou.
Voltou para trás dando tempo para que Juliette se acalmasse.Ao fim de uma meia hora veio à sala.
- Oi Juliette! Mãe, tem almoço?
- Tem filho. Deixa que eu ponho na mesa.
- És servida Juliette?
- Não, obrigada.
Ficámos os três a conversar à mesa.
Juliette tinha olhos de choro mas estava mais animada.
- Juliette! Vou sair à noite. Um barzinho. Queres vir comigo?
Ela olhou para mim, confusa e demorou a responder.
- Vai filha! Vai fazer-te bem distraíres.
- Está bem. Vou a casa. A que horas?
- 19 horas. Jantamos em qualquer sítio e depois barzinho.
- Ok. Eu venho ter aqui e depois vamos só num carro.
- Deixa. Eu apanho-te na tua casa.
- Não. Eu prefiro vir aqui.
Aquilo fez-me confusão mas decidi não questionar.
- Então já vou. Até logo.
A minha mãe olhava para mim sem dizer nada.
- Que foi mãe? Fala.
- Gostas dela?
- Como assim, gosto dela?
- Gostar, gostar...
- Gosto.
- Muito.
A minha mãe só abanou a cabeça.
- Eu também.
Às 18,45 h, Juliette chegou. Entrou em casa e estava deslumbrante.
Vestido preto de alcinhas, bem acima do joelho, sapatos stiletos, uma simples correntinha no pescoço e cabelos soltos e ondulados. Pelos ombros um agasalho pois a noite prometia estar fresca.Demos um beijo na minha mãe e saímos.
Eu vesti apenas uma calça jeans escura, camisa social preta e uma jaqueta de couro.
Deixámos o carro dela e fomos no meu.
Boa parte do caminho fomos em silêncio até que eu resolvi falar.
- Juliette! Passa-se alguma coisa? Não dizes nada.
- Podes tratar-me por Ju como os meus amigos. Não se passa nada. Tenho tido algumas decepções nestes últimos dias.
Talvez hoje não seja boa companhia.- Isso decidimos no fim da noite. Chegámos ao restaurante. Comidinha melhora o humor.
Ela sorriu.
- Vês! Falei em comida já sorriste.
O jantar correu maravilhosamente. A conversa fluía, não sei se pela companhia ou pelo vinho.
A Ju estava mais leve e eu... bem eu passei o jantar a admirar cada gesto dela.No barzinho pedimos um coquetail sem àlcool, afinal viemos de carro.
Uma música suave começou a tocar e eu convidei-a para dançar.
Com ela nos meus braços, inspirei o perfume dos seus cabelos. A meio da dança ela encostou a cabeça no meu peito. Ficámos assim no nosso mundinho até que percebemos que a música tinha acabado e agora tocava um forró.
Rimos um para o outro e seguimos no forró.Como tudo o que é bom acaba, estava na hora de ir embora.
- E agora Ju! O teu carro? Questionei quando saímos do bar.
- Vou buscar amanhã.
Abri a porta para ela entrar mas segurei-a pelos ombros e fiz um carinho na bochecha.
- Não queria que a noite acabasse.
- Foi muito bom, disse ela.
Com as duas mãos segurei o rosto dela e dei-lhe um beijo.
Ela colocou as mãos à volta da minha cintura aconchegando-se a mim.
O beijo intensificou-se e quando nos separámos tomei coragem e pedi:
- Dorme lá em casa hoje.
Ela beijou-me de novo e disse:
- Vamos.