Capítulo 25

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A Sofia completava 6 meses hoje.  Está uma bébé linda e saudável.  Eu e a Ju não estamos muito bem.

Após o parto a Ju desenvolveu uma depressão e fechou-se numa concha.

Vive para a filha.  O nosso relacionamento esfriou por conta disso.  Até parece que eu nem existo.

Estou a morar na casa da minha mãe mas faço questão de ir todos os dias vê-las.  A minha sogra pede paciência mas eu confesso que estou chegando ao limite.

- Olá bébé do papai.  Como estão as minhas meninas?  Faço o gesto de pegar na Sofia.

- Deixa a Sofia na cama.  Não tem necessidade de colo.

- Ju!  Eu sou o pai, e que mal há em pegar na minha filha?
Olha, precisamos conversar a sério.

- Conversar o quê? Já tudo foi dito.

- Só preciso de esclarecer como fica a nossa situação.  Não sei o que fiz para essa indiferença.
Procura fazer terapia.  Isso não é normal e não faz bem nem a ti nem à Sofia.

- Nós estamos muito bem assim.

- Pois bem.  Eu virei aqui todos os dias ver a Sofia.  Se não quiseres falar comigo é só saíres nessa hora.

Dei um beijo na minha filha e saí.  Encontrei a minha sogra na sala.

- Ouvi tudo.  Não sei mais o que fazer.  A Ju vive enfiada no quarto com a filha.  Até para tomar um solzinho sou eu que a levo e contra a vontade dela.

- Olhe dona Isa.  Se a Ju não se tratar eu peço a guarda da Sofia.

Durante este tempo tínhamos iniciado as obras da casa de acolhimento.   Não faz muito sentido agora, mas, ainda tenho esperança na recuperação da Ju.

A clínica estava pronta.  Na próxima semana iríamos fazer a festa de inauguração.

Convidei o Sérgio para vir trabalhar comigo na clínica.  Ele ainda não respondeu.   Ficou de pensar.

Hoje não tinha plantão.  Fui convidar a Ju para irmos sair com a Sofia.  Não quis.
Saí sózinho com a bébé.   Não é por isso que vou afastar-me.

A mãe da Ju ficou irritada com ela.

- Ju!  Pelo amor de Deus reage.  Logo o Rodolffo vai se cansar de ti.  Estás disposta a ver ele arranjar outra pessoa para refazer a vida?
Acho que ele tem tido uma paciência  que outro não teria.

Ela simplesmente me ignorou e não respondeu.

Chegou o dia da inauguração.

- Dona Isa eu gostaria que a senhora estivesse presente junto com minha mãe.

- Eu estarei meu filho.  E fico tão contente por te ver realizar o sonho.

- Vou falar com a Ju.  Se ela não quiser ir, a senhora leva a Sofia?
Não precisa ficar muito tempo,
mas, eu quero ela lá comigo.

- Levo sim.

- Subi e as duas estavam no quarto como sempre.  A Sofia dormia.

A Ju estava sentada na cama encostada na cabeceira.

Sentei-me de frente para ela e segurei-lhe nas mãos.

- Ju!  Eu adoraria que estivesses comigo hoje.  A clínica foi projectada pensando no nosso futuro.  Nada faz sentido sem ti.  Volta Ju. Vem ser a menina sonhadora de antigamente.
A casa de acolhimento está no bom caminho e logo podemos inaugurá-la e receber crianças.

- Amor  procura ajuda!  Eu e a nossa filha precisamos de ti. 

Beijei-lhe as mãos e quando olhei para o seu rosto ela chorava.  Abracei-a mas ela não disse uma palavra.
Dei-lhe um beijo na cabeça e saí.

A festa já decorria quando a minha sogra chegou com a Sofia.  Peguei nela e olhei para a porta.

- Ela não vem diz dona Isa.

- Está ali a minha mãe.  Esteja à vontade.

Eu tentava estar alegre e ser simpático para os convidados.  Apresentei a minha filhota a todos e depois fui entregar às avós pois todos queriam pegar.

Havia umas médicas e enfermeiras do hospital assim como algumas amigas.

Uma em especial, a Teresa, grudou no meu braço e não largava.  Vivia de sorrisos para mim e parecia ter uma intimidade que eu não lhe dera.

Já a festa ia a meio e a lapa não desgrudava.  A certa altura veio segredar ao meu ouvido e deu-me um selinho.  Fui apanhado desprevenido mas no mesmo instante olhei para a porta e a Ju acabava de entrar vendo a cena.

Soltei-me da Teresa e fui ter com ela.

- Que bom que vieste?

- Para ver o que vi melhor que tivesse ficado em casa.

- Não digas isso.  Estou muito feliz por teres vindo e o que viste não significa  nada para mim.

- Não foi o que pareceu mas vai lá ficar com a tua amiga.

- Não vou.  Quero ficar contigo.

Passei o braço pelos ombros dela e fui apresentá-la a algumas pessoas que ainda não a conheciam.

Principalmente à Teresa fiz questão de a apresentar como minha noiva e mãe da  minha filha.  Não sei porquê mas a tal saiu da festa.  Não a vi mais.

A Ju tentava ser simpática mas eu notava que ela estava tensa.  Levei-a para um dos gabinetes mais afastados.

Fiquei de frente para ela segurando nas mãos.

- Desabafa comigo. Xinga-me se for o caso mas não me ignores.

- Euuuu!  Não te quero perder.
E encostou a cabeça no meu peito.

- Não me vais perder.  Nós juntos vamos achar uma solução.  Só precisas de ajuda.

- Tu ajudas-me? 

- Sim, meu amor.  Dei-lhe um beijo apaixonado.

- E aquela lá, toda pendurada em ti?

- És tu quem eu quero pendurada em mim.

- Volta lá para casa.

- Volto sim se é isso que tu queres.

- Eu amo-te mas eu não sei lidar com certas coisas.

- Juntos vamos conseguir.
Agora temos que ir dar atenção aos nossos convidados.

- Espera.  Ela colocou os braços à volta do meu pescoço e deu-me um beijo apaixonado.   As saudades que eu tinha da minha pequena.

- A clínica está linda, disse ela.

- E tu muito mais.

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Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora