A Sofia completava 6 meses hoje. Está uma bébé linda e saudável. Eu e a Ju não estamos muito bem.
Após o parto a Ju desenvolveu uma depressão e fechou-se numa concha.
Vive para a filha. O nosso relacionamento esfriou por conta disso. Até parece que eu nem existo.
Estou a morar na casa da minha mãe mas faço questão de ir todos os dias vê-las. A minha sogra pede paciência mas eu confesso que estou chegando ao limite.
- Olá bébé do papai. Como estão as minhas meninas? Faço o gesto de pegar na Sofia.
- Deixa a Sofia na cama. Não tem necessidade de colo.
- Ju! Eu sou o pai, e que mal há em pegar na minha filha?
Olha, precisamos conversar a sério.- Conversar o quê? Já tudo foi dito.
- Só preciso de esclarecer como fica a nossa situação. Não sei o que fiz para essa indiferença.
Procura fazer terapia. Isso não é normal e não faz bem nem a ti nem à Sofia.- Nós estamos muito bem assim.
- Pois bem. Eu virei aqui todos os dias ver a Sofia. Se não quiseres falar comigo é só saíres nessa hora.
Dei um beijo na minha filha e saí. Encontrei a minha sogra na sala.
- Ouvi tudo. Não sei mais o que fazer. A Ju vive enfiada no quarto com a filha. Até para tomar um solzinho sou eu que a levo e contra a vontade dela.
- Olhe dona Isa. Se a Ju não se tratar eu peço a guarda da Sofia.
Durante este tempo tínhamos iniciado as obras da casa de acolhimento. Não faz muito sentido agora, mas, ainda tenho esperança na recuperação da Ju.
A clínica estava pronta. Na próxima semana iríamos fazer a festa de inauguração.
Convidei o Sérgio para vir trabalhar comigo na clínica. Ele ainda não respondeu. Ficou de pensar.
Hoje não tinha plantão. Fui convidar a Ju para irmos sair com a Sofia. Não quis.
Saí sózinho com a bébé. Não é por isso que vou afastar-me.A mãe da Ju ficou irritada com ela.
- Ju! Pelo amor de Deus reage. Logo o Rodolffo vai se cansar de ti. Estás disposta a ver ele arranjar outra pessoa para refazer a vida?
Acho que ele tem tido uma paciência que outro não teria.Ela simplesmente me ignorou e não respondeu.
Chegou o dia da inauguração.
- Dona Isa eu gostaria que a senhora estivesse presente junto com minha mãe.
- Eu estarei meu filho. E fico tão contente por te ver realizar o sonho.
- Vou falar com a Ju. Se ela não quiser ir, a senhora leva a Sofia?
Não precisa ficar muito tempo,
mas, eu quero ela lá comigo.- Levo sim.
- Subi e as duas estavam no quarto como sempre. A Sofia dormia.
A Ju estava sentada na cama encostada na cabeceira.
Sentei-me de frente para ela e segurei-lhe nas mãos.
- Ju! Eu adoraria que estivesses comigo hoje. A clínica foi projectada pensando no nosso futuro. Nada faz sentido sem ti. Volta Ju. Vem ser a menina sonhadora de antigamente.
A casa de acolhimento está no bom caminho e logo podemos inaugurá-la e receber crianças.- Amor procura ajuda! Eu e a nossa filha precisamos de ti.
Beijei-lhe as mãos e quando olhei para o seu rosto ela chorava. Abracei-a mas ela não disse uma palavra.
Dei-lhe um beijo na cabeça e saí.A festa já decorria quando a minha sogra chegou com a Sofia. Peguei nela e olhei para a porta.
- Ela não vem diz dona Isa.
- Está ali a minha mãe. Esteja à vontade.
Eu tentava estar alegre e ser simpático para os convidados. Apresentei a minha filhota a todos e depois fui entregar às avós pois todos queriam pegar.
Havia umas médicas e enfermeiras do hospital assim como algumas amigas.
Uma em especial, a Teresa, grudou no meu braço e não largava. Vivia de sorrisos para mim e parecia ter uma intimidade que eu não lhe dera.
Já a festa ia a meio e a lapa não desgrudava. A certa altura veio segredar ao meu ouvido e deu-me um selinho. Fui apanhado desprevenido mas no mesmo instante olhei para a porta e a Ju acabava de entrar vendo a cena.
Soltei-me da Teresa e fui ter com ela.
- Que bom que vieste?
- Para ver o que vi melhor que tivesse ficado em casa.
- Não digas isso. Estou muito feliz por teres vindo e o que viste não significa nada para mim.
- Não foi o que pareceu mas vai lá ficar com a tua amiga.
- Não vou. Quero ficar contigo.
Passei o braço pelos ombros dela e fui apresentá-la a algumas pessoas que ainda não a conheciam.
Principalmente à Teresa fiz questão de a apresentar como minha noiva e mãe da minha filha. Não sei porquê mas a tal saiu da festa. Não a vi mais.
A Ju tentava ser simpática mas eu notava que ela estava tensa. Levei-a para um dos gabinetes mais afastados.
Fiquei de frente para ela segurando nas mãos.
- Desabafa comigo. Xinga-me se for o caso mas não me ignores.
- Euuuu! Não te quero perder.
E encostou a cabeça no meu peito.- Não me vais perder. Nós juntos vamos achar uma solução. Só precisas de ajuda.
- Tu ajudas-me?
- Sim, meu amor. Dei-lhe um beijo apaixonado.
- E aquela lá, toda pendurada em ti?
- És tu quem eu quero pendurada em mim.
- Volta lá para casa.
- Volto sim se é isso que tu queres.
- Eu amo-te mas eu não sei lidar com certas coisas.
- Juntos vamos conseguir.
Agora temos que ir dar atenção aos nossos convidados.- Espera. Ela colocou os braços à volta do meu pescoço e deu-me um beijo apaixonado. As saudades que eu tinha da minha pequena.
- A clínica está linda, disse ela.
- E tu muito mais.
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