Capítulo 27

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~~~ 5 ANOS DEPOIS

A minha vida estava maravilhosa.
A clínica ia de vento em popa, a Associação também.
Tínhamos a casa lotada de crianças.   Os 20 quartos ocupados.
Tínhamos crianças dos três ao 10 anos entre rapazes e raparigas.

A Ju dedicou-se apenas a administrar a Associação.   Por hora a Psicologia está de lado.

Muito por falta de tempo.  Os nossos filhos dão-lhe muito trabalho.  Temos a Sofia com 6 anos e os gémeos Filipe e Frederico que têm 4.

São muito traquinas e a Ju nunca quis ajuda para tratar deles.  Passam grande parte do tempo com ela e com as crianças da associação.

Eu ainda arriscaria mais um filho.  Quem sabe convenço a Ju.

Na clínica estamos, eu e o Sérgio de clínicos gerais, a  Carla que é pediatra e a Ruth que é obstetra.  Pensamos ampliar para mais especialidades mas por enquanto são só estas.

Ainda não esquecemos o nosso casamento religioso e agora temos três filhotes para levar as alianças.

A nana faleceu há 2 anos.  A minha sogra sente muito a falta dela.  Tanto ela como a minha mãe se sentem muito sós.
A dona Isa deixou de leccionar e está em casa.

Chegámos a acordo com as duas para vivermos todos numa casa só.  É muito cansativo andar de uma casa para a outra.
A minha mãe concordou e fomos todos para casa da mãe da Ju.  A casa é enorme e cada um tem a sua privacidade.

De vez em quando rola um ciuminho das avós mas deixamos elas resolver.

A Sofia estava prestes a começar a escolinha.  Fomos comprar os materiais.
Já nos arrependemos.  Quem inventou de fazer compras com as crianças?  Por elas levam tudo e as meninas então!  Tudo é direccionado para o consumo.  Caderno de princesa- 10 diferentes,  de desenho- 1 milhão, mochila- dezenas,  lápis, lapiseira, borracha, régua, se deixar eles querem um de cada.

Tentámos explicar que tem meninos que não podem comprar nem um, por isso, ela não precisava de tanto.

Ficou amuada mas logo passa. Comprámos um caderno e lápis de cor para ela dar aos gémeos e deixámos escolher.
Eles adoram rabiscar e para não haver confusão com os materiais da mana é melhor prevenir.

Chegou o tão esperado dia 1 de escolinha.

A Sofia estava tão ansiosa que acordou de madrugada, vestiu a roupa que juntas tínhamos escolhido de véspera e foi ao nosso quarto.

- Mamãe,  acorda.  Está na hora.

- Olhei o relógio.  6 horas.

- Pelo amor de Deus, Sofia!  São 6 horas.   Daqui à escola demoras 10 minutos e só começas às 9 horas.

- Mas eu já estou pronta, mamãe!

- Está bem.  Vai lá no teu quarto brincar um bocadinho até a mamãe e o papai se arrumarem e arrumar os manos.  Depois vamos tomar café.

Olhei para o lado e vi um Rodolffo ensonado tentando decifrar qual era o assunto.

- Depois, vem assanhadinho pro meu lado e diz que queres mais filhos!

- Ué!  Que é que eu fiz.  Entendi foi nada.

- Sorri para ele e beijei-o.  Como sempre, né?  Levanta, vai preparando o café enquanto eu trato dos gémeos.

- Sim, chefa.

Entregámos a nossa menina na escola.  Era o início de uma jornada.
Tivemos um perrengue com os gémeos que não queriam deixar a irmã.  Foi necessário uma  chantagem para terminar a birra.

- A mamãe e o papai levam vocês ao parque.  Depois, logo, vimos buscar a mana, está bom?

- Sim, disseram os dois.

Fizemos uma paragem de 15 minutos num parque para eles brincarem antes de irmos para o trabalho.  Temos um parque na instituição mas só é frequentado no final do dia depois das várias actividades.

Hoje eu iria para a clínica mais tarde.  A Ju está com um dilema.

Os pedidos para aceitar crianças são muitos.  Já não temos vagas aqui. Podemos por mais uma cama em cada quarto pois eles são grandes e não causa transtorno mas nós temos uma lista de espera de perto de 30 crianças.

- Ju!  Tens que ter noção de que não é possível atender todos.  Infelizmente há muitos casos e não falamos dos casos de maus tratos.  São só orfãos.

- Mas, olha a minha ideia.  Temos a tua casa fechada.  Nela cabem à vontade 10 crianças mais 2 adultos.
Podemos contratar 2 responsáveis que fiquem com as crianças à noite.  De manhã vêm para aqui participam em tudo.  No final do dia vão lá dormir e jantar.   O jantar vai daqui.

Pomos lá os mais velhinhos que não precisam de tanta ajuda.
São mais 10 que ajudamos. 

- Vamos debater o assunto e ver que remodelações fazer, disse beijando minha esposa.

- Vou trabalhar que os meus pacientes esperam-me.

- Vai amor,  e olha!  Vai pensando em comprar outro terreno igual a este.  Logo vamos precisar.

Olhei para ela, sorri e fiz que não com a cabeça.

Saí com o pensamento lá atrás.

♡ eu, um simples médico, sossegado na minha vidinha, até que um dia uma jovem resolve atropelar a minha mãe.  Hoje, cá estou eu com 3 filhos e uma esposa adoráveis e mais 40 filhos emprestados com perspectivas de serem 50 e por aí adiante.♡

Quando não se tem sarna, arranjamos algo para coçar.

Fim






Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora