Capítulo 12

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Rodolffo iniciou o plantão eram 8 horas. Passou por um corredor e verificou um ajuntamento ao pé de uma vitrine de parede onde estavam as escalas do pessoal.

- Alguma coisa interessante aí?

- Saiu a lista dos integrantes da missão humanitária para Angola.

- Interessante.  E quem vai? Perguntou ele pois havia recusado o convite por sua mãe se encontrar ainda em reabilitação.

Leu a lista e não queria acreditar.
Juliette de Bragança

Como? Ela ia 2 meses para Angola.

Foi para o seu gabinete.

Poderíamos ir juntos.  Porque eu recusei?
Ah! Mas agora pouco interessa. Não temos mais nada ou nunca tivemos.  Apenas fui uma transa acasional.

Neste pensamento entra o primeiro paciente para ser consultado.

Já passava das 12 horas. Informei a enfermeira auxiliar que ia sair durante 30 min. Vou comer qualquer coisa.

Fui até à cantina e a Ju estava a almoçar sózinha.
Fiz o meu pedido e fui na direcção dela.

- Posso sentar-me aqui?

- Como queira.

- Já sei da novidade. Porquê missão Angola?

- Porque neste momento a minha vida está sem objectivos.  A faculdade só começa daqui a mais ou menos 3 meses e o  que me prenderia aqui não faz mais sentido.

- Que era? Se é que não é segredo.

- Deixe. Não interessa.

- Tudo em ti me interessa.

- Não foi o que eu entendi há dias.

- Há dias estava muito zangado.

- Já viu os documentos que dei à sua mãe?

- Não.  Ainda não tive disposição.  Outros assuntos têm ocupado os meus pensamentos.  Obrigada pelo que fizeste.

- Era o meu dever.  Já  vou indo.

- Ju! Saio às 16 horas. Posso esperar por ti para conversar.

- Sobre quê? Já dissemos tudo.

- Por favor.

- Está bem.

Seguimos cada um para o seu andar.

Hoje de manhã antes de sair de casa o meu pai veio ter comigo e disse:

- Já estou velho para guerras por isso vou aceitar o que pediste.

- Vou morar numa das casas aqui da cidade porque não quero ficar longe de ti.  A tua mãe pode ocupar o lugar dela.
Ando meio adoentado e sem forças.

- Pai, precisas ir ao médico ver o estado da tua saúde.  A vida boémia que levas não é saudável.  As mulheres dão-te cabo da saúde.

- Prometo ir ao médico  nos próximos dias.

- Dei-lhe um beijo e saí.

Às 16 horas Rodolffo esperava dentro do seu carro.

- Vamos para um sitio sossegado.

Rodolffo estacionou o carro num local isolado.

- Vamos conversar sem cobranças.
Disse Rodolffo.

- Decidiste ir para Angola porquê? Não é nada o teu estilo. Não sabes as dificuldades que vais encontrar.  Vai ser muito difícil.

- Fui convidada o mês passado mas decidi naquele dia em tua casa.  Fiquei magoada e decidi que afastar-me era o melhor.

- Afastares-te de quê ou quem?

- De ti também.

- Porque saíste e não disseste mais nada?

- Porque me sentia culpada.  Porque eu sabia o que o meu pai tinha feito ao teu e tive medo que me odiasses.
Precisava de resolver esse assunto.

- Eu nunca te culparia por um erro do teu pai.

- Mas eu não sabia.

- E agora como ficamos? Vais partir.

- São só 2 meses.

- Que podem mudar tudo.

- Eu quero ir. Quando regressar conversamos.

- Não.  Conversamos agora. Eu amo-te. Segurei nas mãos dela.

Ela olhou para ele com lágrimas nos olhos.

- Eu também te amo mas não quero iniciar uma relação agora.

- Porquê?

- Porque agora estou muito confusa.  O meu pai, a minha mãe,  tudo o que descobri,  tu.  Está tudo enrolado na minha cabeça.

- Quando sai a missão?

- Na próxima semana.

Puxei ela para um abraço e ela encostou a cabeça no meu peito e chorava.

Afaguei-lhe os cabelos, segurei o queixo dela e dei-lhe um beijo.

- Vai tudo ficar bem.

- Ficámos ali mais algum tempo abraçados sem falar.

- Prometes não te esquecer de mim?

- E tu prometes não arranjar lá um moreno?

- Já tenho um moreno aqui, disse ela.

- Quero estar contigo antes  de partires.

- Não tornes as coisas difíceis.

- Porquê? Quem ama quer estar junto.  Vem lá para casa.  A minha mãe foi festejar os anos da mãe da Clara e vai dormir lá.

- Não devemos.

- Porquê? Somos adultos e livres.
Vem por favor.

- O meu carro ficou no hospital.

- Amanhã de manhã eu levo-te.  Entramos à mesma hora.

- Então passa na minha casa para eu ir buscar roupa.

E fomos.  Fizemos o jantar para os dois, vimos um filme e matámos a saudade um do outro.

Amanhecemos ainda abraçados como se não quiséssemos que isso acabasse, mas, precisávamos encarar a realidade de mais um dia de trabalho.

Os dias passaram.  Hoje a Ju ia embora.  O voo dela sairá às 19 horas.  O meu plantão termina às 16 horas.  Espero ter tempo de me despedir.

Eram 14 horas, atendia um paciente difícil quando escutei o sinal de mensagem. Esperei terminar a consulta e fui olhar a mensagem.

...Amor, não deu tempo para nos despedir-mos.  O voo foi antecipado para agora às 14, 30 horas. Não consegui  ligar pois foi tudo muito rápido.  Já estou a caminho do avião.
Fica bem. Amo-te,  volto depressa.

Fiquei com tanta raiva que só me apetecia tacar o telemóvel na parede.

Enviei uma mensagem.  Eu sei que ela só vai ler no destino.

...Que pena, amor! Queria dar-te um cheiro.  Faz boa viagem.  Liga logo que possas. Amo-te muito.

Agora é só contar os dias.




Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora