Rodolffo iniciou o plantão eram 8 horas. Passou por um corredor e verificou um ajuntamento ao pé de uma vitrine de parede onde estavam as escalas do pessoal.
- Alguma coisa interessante aí?
- Saiu a lista dos integrantes da missão humanitária para Angola.
- Interessante. E quem vai? Perguntou ele pois havia recusado o convite por sua mãe se encontrar ainda em reabilitação.
Leu a lista e não queria acreditar.
Juliette de BragançaComo? Ela ia 2 meses para Angola.
Foi para o seu gabinete.
Poderíamos ir juntos. Porque eu recusei?
Ah! Mas agora pouco interessa. Não temos mais nada ou nunca tivemos. Apenas fui uma transa acasional.Neste pensamento entra o primeiro paciente para ser consultado.
Já passava das 12 horas. Informei a enfermeira auxiliar que ia sair durante 30 min. Vou comer qualquer coisa.
Fui até à cantina e a Ju estava a almoçar sózinha.
Fiz o meu pedido e fui na direcção dela.- Posso sentar-me aqui?
- Como queira.
- Já sei da novidade. Porquê missão Angola?
- Porque neste momento a minha vida está sem objectivos. A faculdade só começa daqui a mais ou menos 3 meses e o que me prenderia aqui não faz mais sentido.
- Que era? Se é que não é segredo.
- Deixe. Não interessa.
- Tudo em ti me interessa.
- Não foi o que eu entendi há dias.
- Há dias estava muito zangado.
- Já viu os documentos que dei à sua mãe?
- Não. Ainda não tive disposição. Outros assuntos têm ocupado os meus pensamentos. Obrigada pelo que fizeste.
- Era o meu dever. Já vou indo.
- Ju! Saio às 16 horas. Posso esperar por ti para conversar.
- Sobre quê? Já dissemos tudo.
- Por favor.
- Está bem.
Seguimos cada um para o seu andar.
Hoje de manhã antes de sair de casa o meu pai veio ter comigo e disse:
- Já estou velho para guerras por isso vou aceitar o que pediste.
- Vou morar numa das casas aqui da cidade porque não quero ficar longe de ti. A tua mãe pode ocupar o lugar dela.
Ando meio adoentado e sem forças.- Pai, precisas ir ao médico ver o estado da tua saúde. A vida boémia que levas não é saudável. As mulheres dão-te cabo da saúde.
- Prometo ir ao médico nos próximos dias.
- Dei-lhe um beijo e saí.
Às 16 horas Rodolffo esperava dentro do seu carro.
- Vamos para um sitio sossegado.
Rodolffo estacionou o carro num local isolado.
- Vamos conversar sem cobranças.
Disse Rodolffo.- Decidiste ir para Angola porquê? Não é nada o teu estilo. Não sabes as dificuldades que vais encontrar. Vai ser muito difícil.
- Fui convidada o mês passado mas decidi naquele dia em tua casa. Fiquei magoada e decidi que afastar-me era o melhor.
- Afastares-te de quê ou quem?
- De ti também.
- Porque saíste e não disseste mais nada?
- Porque me sentia culpada. Porque eu sabia o que o meu pai tinha feito ao teu e tive medo que me odiasses.
Precisava de resolver esse assunto.- Eu nunca te culparia por um erro do teu pai.
- Mas eu não sabia.
- E agora como ficamos? Vais partir.
- São só 2 meses.
- Que podem mudar tudo.
- Eu quero ir. Quando regressar conversamos.
- Não. Conversamos agora. Eu amo-te. Segurei nas mãos dela.
Ela olhou para ele com lágrimas nos olhos.
- Eu também te amo mas não quero iniciar uma relação agora.
- Porquê?
- Porque agora estou muito confusa. O meu pai, a minha mãe, tudo o que descobri, tu. Está tudo enrolado na minha cabeça.
- Quando sai a missão?
- Na próxima semana.
Puxei ela para um abraço e ela encostou a cabeça no meu peito e chorava.
Afaguei-lhe os cabelos, segurei o queixo dela e dei-lhe um beijo.
- Vai tudo ficar bem.
- Ficámos ali mais algum tempo abraçados sem falar.
- Prometes não te esquecer de mim?
- E tu prometes não arranjar lá um moreno?
- Já tenho um moreno aqui, disse ela.
- Quero estar contigo antes de partires.
- Não tornes as coisas difíceis.
- Porquê? Quem ama quer estar junto. Vem lá para casa. A minha mãe foi festejar os anos da mãe da Clara e vai dormir lá.
- Não devemos.
- Porquê? Somos adultos e livres.
Vem por favor.- O meu carro ficou no hospital.
- Amanhã de manhã eu levo-te. Entramos à mesma hora.
- Então passa na minha casa para eu ir buscar roupa.
E fomos. Fizemos o jantar para os dois, vimos um filme e matámos a saudade um do outro.
Amanhecemos ainda abraçados como se não quiséssemos que isso acabasse, mas, precisávamos encarar a realidade de mais um dia de trabalho.
Os dias passaram. Hoje a Ju ia embora. O voo dela sairá às 19 horas. O meu plantão termina às 16 horas. Espero ter tempo de me despedir.
Eram 14 horas, atendia um paciente difícil quando escutei o sinal de mensagem. Esperei terminar a consulta e fui olhar a mensagem.
...Amor, não deu tempo para nos despedir-mos. O voo foi antecipado para agora às 14, 30 horas. Não consegui ligar pois foi tudo muito rápido. Já estou a caminho do avião.
Fica bem. Amo-te, volto depressa.Fiquei com tanta raiva que só me apetecia tacar o telemóvel na parede.
Enviei uma mensagem. Eu sei que ela só vai ler no destino.
...Que pena, amor! Queria dar-te um cheiro. Faz boa viagem. Liga logo que possas. Amo-te muito.
Agora é só contar os dias.