Capítulo 15

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O estado de saúde da Ju não apresentava evolução.   Muita febre que nem os poderosos antibióticos conseguiam combater.

Os meus dias resumiam-se ao plantão e quarto com  a Ju
Mesmo durante o meu plantão eu aproveitava e ia passando lá para a ver.

Hoje precisava ir falar com a mãe dela.  As visitas estavam proibidas mas era necessário um pouco de conforto.

- Bom dia dr. Rodolffo.  Entre por favor.

- Bom dia dona Isa.

- Vim trazer notícias da Ju. Não são agradáveis mas pelo menos o estado de saúde não se agravou.  Nós acreditamos que nos próximos dias o quadro clínico poderá sofrer alterações .
Ela é forte, vai sair dessa.

- Obrigada por estar com ela neste momento em que a família não pode.  De todas as pessoas possíveis o dr. seria o menos provável em virtude dos acontecimentos passados.

- Passado é passado dona Isa. Não podemos sofrer as dores dos nossos pais e apesar de nos termos conhecido através de uma tragédia,  aprendemos a superar e hoje queremos estar juntos.

- Soube que foi o dr. que cuidou do meu ex marido.  Esse então, merecia o seu ódio e só teve ajuda.

- Deixe pra lá.  Ele nem sabe disso.
Agora preciso de voltar ao hospital.  Se houver novidades eu ligo.

- Obrigada, meu filho. Deus te abençoe.

Voltei ao hospital e a febre da Ju começava a ceder.  As notícias eram animadoras. Os colegas já tinham desligado os aparelhos e ela estava dormindo serena.

O Dr. Sérgio chegou com os resultados dos exames.

- Rodolffo! Estamos no bom caminho.  A infecção está controlada, os pulmões felizmente não foram afectados assim como outros órgãos.
Precisamos apenas de controlar essa febre.

Fiquei contente com as informações.

Fiz um carinho na face da Ju e ela começou a despertar.

Abriu os olhos, olhou à sua volta tentando perceber onde estava.
Olhou para mim mas não me conheceu devido ao equipamento e máscara.

- Sou eu amor! Vai ficar tudo bem, disse segurando a mão dela.

Ela olhou para mim e uma lágrima apareceu nos seus olhos.

- Euuuuuuu....

- Calma, amor.  Não te canses. Precisas de ganhar força. Eu estou aqui contigo.

Ela apontou para a máscara e o fato.

- É só precaução,  amor. Desconfiamos que possa ser contagioso. Por isso a tua família não está aqui.
Estamos à espera de um último exame para tirar dúvidas.

Ela pediu àgua e eu ajudei-a a beber.

- Tens fome? Vou pedir alguma coisa para comeres.

Saí por um momento e pedi à enfermeira que providenciasse uma sopa.

Ajudei ela a comer e comeu tudo.

Já mais recomposta ela diz:

- Há quantos dias estou aqui?

- 10 dias amor.

- Meu pai e mãe?

- Eles estão informados de tudo.

- Estou cansada. O corpo dói.

- Então volta a dormir.  Descansa.

Passei a mão no seu rosto e dei um beijo na testa.

" só quem teve paludismo sabe as dores que dá assim como o cansaço e esta autora já teve"

O resultado do exame de contágio chegou em 2 dias e felizmente era negativo.  As visitas à Ju foram liberadas mas só autorizei uma de cada vez e em cada dia.

Hoje encontrei uma Ju mais animada. A cor estava voltando ao seu rosto.

- Bom dia, amor! Como te sentes hoje? Cheguei e dei-lhe um selinho.

- Bem melhor, agora que te vejo sem equipamento.

Conversei um pouco com ela sem lhe dar muita informação de tudo quanto se passou durante a sua ausência.

Ela queria falar. Pedi para ela ir com calma.  Estava frágil.  Teríamos muito tempo para conversas, mas tinha uma coisa que precisava ser feito.

- Ju! Nos dois meses que estiveste fora muita coisa passou na minha cabeça.  Revi a minha infância, o nosso primeiro encontro, os nossos dias aqui e depois que regressaste, esta angústia durante estes dias ao ver-te aqui nesta cama, por vezes temendo o pior.
A conclusão a que cheguei é de que não tem mais jeito.

- Dona Juliette de Bragança! Dá-me a honra de ser minha namorada?

Ela sorriu para mim e disse:

- Ué! Pensei que já era.

Tirei uma caixinha do bolso e colocámos nossas alianças de compromisso.

- Já éramos mas eu não tinha pedido. E dei-lhe um beijo.

Ficámos de chamego por alguns minutos.

- Amor! Liberei as tuas visitas, mas só uma pessoa por dia.
Hoje vem a tua mãe às 14 horas.
Promete não se cansar muito. Tem tempo para fofocar.

- Prometo, senhor doutor. Posso ter outro beijinho?

- Os meus pode ter os que quizer. Foram liberados.

- Vou iniciar o meu turno agora ao meio dia.  Vou mandar o teu almoço.   Depois da hora das visitas eu passo cá para saber como correu a conversa com a dona Isa.

- Como sabe o nome dela? Eu nunca te disse.

- Eu e minha sogra? Somos Best friends.
Eu conversei com ela algumas vezes.

- E meu pai?

- Também.  Mas não lhe disse quem era. A tua mãe sabe.

- O meu pai é mais difícil.

- A vida às vezes muda a gente. É só necessário um abanão.

O certo é que depois da cirurgia e das duas vezes que falei com o pai da Ju o achei uma outra pessoa.

O Matias confidenciou-me que após a cirurgia ele resolveu deixar para trás a vida boémia e cuidar da saúde.
Por conta disso a maioria dos "amigos " afastaram-se.  Tinha até conhecido uma senhora humilde e os dois estavam se conhecendo.

- Já vou indo e nada de paquerar com os doutores e enfermeiros que vierem aqui.  Lembre-se de que a senhorita é comprometida.

- Se tu me abandonares muito tempo eu me garanto.

- Juliette, Juliette!

Dei-lhe um beijo e saí.

Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora