O estado de saúde da Ju não apresentava evolução. Muita febre que nem os poderosos antibióticos conseguiam combater.
Os meus dias resumiam-se ao plantão e quarto com a Ju
Mesmo durante o meu plantão eu aproveitava e ia passando lá para a ver.Hoje precisava ir falar com a mãe dela. As visitas estavam proibidas mas era necessário um pouco de conforto.
- Bom dia dr. Rodolffo. Entre por favor.
- Bom dia dona Isa.
- Vim trazer notícias da Ju. Não são agradáveis mas pelo menos o estado de saúde não se agravou. Nós acreditamos que nos próximos dias o quadro clínico poderá sofrer alterações .
Ela é forte, vai sair dessa.- Obrigada por estar com ela neste momento em que a família não pode. De todas as pessoas possíveis o dr. seria o menos provável em virtude dos acontecimentos passados.
- Passado é passado dona Isa. Não podemos sofrer as dores dos nossos pais e apesar de nos termos conhecido através de uma tragédia, aprendemos a superar e hoje queremos estar juntos.
- Soube que foi o dr. que cuidou do meu ex marido. Esse então, merecia o seu ódio e só teve ajuda.
- Deixe pra lá. Ele nem sabe disso.
Agora preciso de voltar ao hospital. Se houver novidades eu ligo.- Obrigada, meu filho. Deus te abençoe.
Voltei ao hospital e a febre da Ju começava a ceder. As notícias eram animadoras. Os colegas já tinham desligado os aparelhos e ela estava dormindo serena.
O Dr. Sérgio chegou com os resultados dos exames.
- Rodolffo! Estamos no bom caminho. A infecção está controlada, os pulmões felizmente não foram afectados assim como outros órgãos.
Precisamos apenas de controlar essa febre.Fiquei contente com as informações.
Fiz um carinho na face da Ju e ela começou a despertar.
Abriu os olhos, olhou à sua volta tentando perceber onde estava.
Olhou para mim mas não me conheceu devido ao equipamento e máscara.- Sou eu amor! Vai ficar tudo bem, disse segurando a mão dela.
Ela olhou para mim e uma lágrima apareceu nos seus olhos.
- Euuuuuuu....
- Calma, amor. Não te canses. Precisas de ganhar força. Eu estou aqui contigo.
Ela apontou para a máscara e o fato.
- É só precaução, amor. Desconfiamos que possa ser contagioso. Por isso a tua família não está aqui.
Estamos à espera de um último exame para tirar dúvidas.Ela pediu àgua e eu ajudei-a a beber.
- Tens fome? Vou pedir alguma coisa para comeres.
Saí por um momento e pedi à enfermeira que providenciasse uma sopa.
Ajudei ela a comer e comeu tudo.
Já mais recomposta ela diz:
- Há quantos dias estou aqui?
- 10 dias amor.
- Meu pai e mãe?
- Eles estão informados de tudo.
- Estou cansada. O corpo dói.
- Então volta a dormir. Descansa.
Passei a mão no seu rosto e dei um beijo na testa.
" só quem já teve paludismo sabe as dores que dá assim como o cansaço e esta autora já teve"
O resultado do exame de contágio chegou em 2 dias e felizmente era negativo. As visitas à Ju foram liberadas mas só autorizei uma de cada vez e em cada dia.
Hoje encontrei uma Ju mais animada. A cor estava voltando ao seu rosto.
- Bom dia, amor! Como te sentes hoje? Cheguei e dei-lhe um selinho.
- Bem melhor, agora que te vejo sem equipamento.
Conversei um pouco com ela sem lhe dar muita informação de tudo quanto se passou durante a sua ausência.
Ela queria falar. Pedi para ela ir com calma. Estava frágil. Teríamos muito tempo para conversas, mas tinha uma coisa que precisava ser feito.
- Ju! Nos dois meses que estiveste fora muita coisa passou na minha cabeça. Revi a minha infância, o nosso primeiro encontro, os nossos dias aqui e depois que regressaste, esta angústia durante estes dias ao ver-te aqui nesta cama, por vezes temendo o pior.
A conclusão a que cheguei é de que não tem mais jeito.- Dona Juliette de Bragança! Dá-me a honra de ser minha namorada?
Ela sorriu para mim e disse:
- Ué! Pensei que já era.
Tirei uma caixinha do bolso e colocámos nossas alianças de compromisso.
- Já éramos mas eu não tinha pedido. E dei-lhe um beijo.
Ficámos de chamego por alguns minutos.
- Amor! Liberei as tuas visitas, mas só uma pessoa por dia.
Hoje vem a tua mãe às 14 horas.
Promete não se cansar muito. Tem tempo para fofocar.- Prometo, senhor doutor. Posso ter outro beijinho?
- Os meus pode ter os que quizer. Foram liberados.
- Vou iniciar o meu turno agora ao meio dia. Vou mandar o teu almoço. Depois da hora das visitas eu passo cá para saber como correu a conversa com a dona Isa.
- Como sabe o nome dela? Eu nunca te disse.
- Eu e minha sogra? Somos Best friends.
Eu conversei com ela algumas vezes.- E meu pai?
- Também. Mas não lhe disse quem era. A tua mãe sabe.
- O meu pai é mais difícil.
- A vida às vezes muda a gente. É só necessário um abanão.
O certo é que depois da cirurgia e das duas vezes que falei com o pai da Ju o achei uma outra pessoa.
O Matias confidenciou-me que após a cirurgia ele resolveu deixar para trás a vida boémia e cuidar da saúde.
Por conta disso a maioria dos "amigos " afastaram-se. Tinha até conhecido uma senhora humilde e os dois estavam se conhecendo.- Já vou indo e nada de paquerar com os doutores e enfermeiros que vierem aqui. Lembre-se de que a senhorita é comprometida.
- Se tu me abandonares muito tempo eu me garanto.
- Juliette, Juliette!
Dei-lhe um beijo e saí.