Capítulo 11

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Hoje o meu pai regressava de viagem.  Não podia adiar a conversa. Aconteça o que acontecer de hoje a nossa conversa não passava.

- Pai! Vamos conversar.

- O que precisas Juliette?

- Conversar pai! Acertar umas coisas.

- Fala.

- Vou falar e tenta não interromper por favor.

- Primeiro,  encontrei a minha mãe e pretendo retomar o contacto com ela.

- Mas eu não...

- Nem continues. Eu tenho quase 26 anos e não preciso que tu decidas com quem eu falo.

- Segundo, soube de umas coisas que fizeste no passado e não tenho muito orgulho disso, não.

- O quê?

- Sobre o teu amigo Albuquerque.

- Esse traidor? Teve o que merecia.

- Será? E a minha mãe também merecia ser tratada como trataste?

- O que essa vagabunda contou? Por certo mentiras.

- Não são mentiras e não foi ela que contou. Por favor não te refiras a ela dessa maneira.

- E depois.

- Depois que eu estive a ver os documentos do teu cofre e retirei aqueles que não te pertencem.

- Não tinhas esse direito. Devolve tudo o que tiraste!

- Não vou devolver.  Vou sim devolver aos legítimos proprietários.

- Não vais não!

- Vou e nem tentes impedir. E tem mais, esta casa está no nome da minha mãe.  Ela vai retornar aqui e tu podes ocupar uma das mansões que tens aqui nesta ou noutra cidade.
Tens 1 mês para o fazer.  Já chega de injustiça com a mãe.
Os documentos do sr. Albuquerque eu vou devolver à viúva e ao filho.

- Nem quis acreditar que o meu pai era esse monstro mediante o que soube.  Sempre te admirei e quero admirar ainda mais se não contestares esta minha atitude.  Não  ficas desamparado porque a tua fortuna é enorme.

- E se eu não deixar tu fazeres isso?

- Aí é contigo.  Não me atices pai!
Posso contar na roda dos teus amigos as patifarias que fizeste.  Achas que depois disso ainda restariam alguns?  E depois, legalmente os documentos nem te pertencem.

- Precisas tanto dos bens que nem te deste ao trabalho de passar os bens do Albuquerque para teu nome.

- Mas tenho as promissórias.

- Obtidas ilegalmente.

- Já  vi que criei uma cobra dentro de casa.  E de onde conheces a viúva Albuquerque?

- Sabes a senhora que eu atropelei? Pois, ela mesma.
Tu nem ao menos tentaste saber quem era.

- Então foi aí que soubeste isso tudo.

- Não pai.  Felizmente para ti,  nem ela nem o filho sabem da missa a metade.

- Podes devolver isso.  Quanto à tua mãe vou pensar.

- Não há nada a pensar.  1 mês e ela retorna aqui.  Eu ficarei aqui com ela por enquanto pois pretendo morar sózinha mas quero poder ter a liberdade de te poder visitar sempre.  Não me quero afastar de ti se tu não quiseres.

- Era só isso?

- Só isso? Não achas bastante? Tem mais. Não quero saber de retaliações contra ninguém.

Ele saiu de ao pé de mim bufando de raiva.

Eu senti um alívio por ter conseguido dizer tudo e enfrentar o meu pai.  Parece-me que ele não é tão duro como dizem.

Fui para o meu quarto pensar na minha vida. Agora que resolvi a dos outros quero pensar em mim.

No último dia que estive no hospital recebi uma proposta.

2 meses numa missão voluntária a Angola.  A missão integrava médicos, enfermeiros e auxiliares.  Fiquei de pensar no assunto, mas estava decidida a aceitar.

Conviver com outras culturas e outras realidades, eu que sempre tive tudo, deixava-me feliz e ao mesmo tempo apreensiva por não saber o que ia encontrar.

Precisava desabafar.  Fui a casa de dona Vera. Há dias não sabia deles.
Tinha receio de ver o Rodolffo depois do fora que dei nele.

Enchi-me de coragem e fui.  Ela estava sozinha.

Dei-lhe um abraço tão apertado e comecei por lhe contar o porquê de ter desaparecido.

No final entreguei-lhe a pasta com os documentos.

- Aqui tem o que é seu por direito.
Espero que ainda possam usufruir de tudo o que vos foi roubado.

Ela chorava e eu chorava junto e foi assim que Rodolffo nos encontrou quando chegou a casa.

- O que se passa aqui? Questionou ele.

- Precisamos conversar.

- Um pouco tarde, não achas?

- Por favor.  Deixa explicar tudo.

- Ouve ela filho! Pediu dona Vera.
Eu vou para o meu quarto.

Entre lágrimas expliquei tudo novamente.
Rodolffo ouvia sem dizer nada.

- Desculpa por ter sumido assim.

- Desculpa?  Um pouco tarde, não?

- Teve que ser assim.

- É. Eu é que me iludi.  Julguei que a Juliette fútil,  já não existia.
O que fizeste é muito altruísta mas, continuas a usar as pessoas.

- Fui só mais uma transa para ti.  Usado por uma noite e descartado ao amanhecer.

- Isso não é verdade.  Não foste só uma transa.
Nós...

- Não existe nós.  Nunca existiu.
Vou lá dentro chamar a minha mãe se quiseres conversar com ela.
O nosso assunto acabou.

Dona Vera chegou e eu fiquei durante mais algum tempo a conversar com ela.

Por fim saí, nada arrependida do que fiz e decidida a ir para Angola.





Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora