Juliette conduzia um dos seus luxuosos carros acompanhada de uma amiga das que fez na faculdade.
O pai tinha-lhe destinado um motorista que ela dispensava pois gostava de conduzir.
As duas seguiam a alta velocidade, cantarolando a música que tocava numa das rádios. Por várias vezes Juliette tirou os olhos da estrada para conversar com a amiga.
- Ju! Por favor, reduz a velocidade.
- Ah! Sem isso amiga. Deixa de ser medricas. A vida deve ser vivida com intensidade. Olha! Só vamos a 170 km/h, o carro dá 200.
Eu conduzo muito bem por sinal.Àquela hora o trânsito era mínimo então com a via desimpedida Juliette dava azo à sua falta de consciência e pisava o acelerador.
Ao desfazer uma curva e não conseguindo controlar o veículo, dada a velocidade, Juliette gira num ângulo de 360 graus e galga o passeio batendo num muro e colhendo uma pessoa que ali aguardava a chegada do autocarro.
Em virtude da abertura dos airbags nem ela nem a amiga sofreram qualquer ferimento. Apenas o susto.
A senhora devia ter cerca de 50 anos jazia no chão mas estava consciente.
Tinha uma fractura exposta numa das pernas e queixava-se do braço.
As duas saíram do carro e enquanto a amiga se preocupava com a sra. Juliette tratou logo de pedir ajuda ao pai.
- Pai! Tive um acidente, vem-me buscar.
- Ju! Pede ajuda médica para a senhora por favor. Ela está mal.
Logo se juntaram outros transeuntes e foi um deles que ligou para o pronto socorro.
- Fique calma senhora! O socorro está a chegar.
A mesma pessoa que ligou ao pronto socorro chamou a polícia.
À sua chegada, Juliette tentava a coberto do nome e posição da sua família, descartar responsabilidade do acidente.
O agente de autoridade apenas disse:
- Vão ser feitas averiguações ao acidente. A senhora e sua amiga devem acompanhar-me à esquadra para recolher os vossos depoimentos. O veículo neste momento está apreendido para investigação.
Levaram as duas em carros separados para evitar combinar as declarações.
A senhora foi assistida no local e encaminhada ao hospital. Apesar dos ferimentos esteve sempre consciente.
- Por favor! O meu filho é médico no Hospital da Luz. Eu quero ir para lá.
- Muito bem senhora. Qual é o nome dele? Vamos colocar aqui no boletim.
- Rodolffo de Albuquerque.
...
Rodolffo tinha iniciado o seu turno. Estava terminando de ver um paciente quando ouve no interfone:
- Dr. Rodolffo Albuquerque, por favor dirija-se à urgência.
Terminei o procedimento que estava a fazer e fui.
- Chegou uma sinistrada vítima de acidente de viação que se referiu especificamente a si. Já foi encaminhada para a cirurgia pois apresenta uma fractura.
Dirigi-me à sala de cirurgia e depois de devidamente equipado entrei.
- Mãe! Exclamei fazendo toda a equipe olhar para mim.
- Vamos operar, disse o cirurgião. Se quiser pode-me assistir. Depois inteira-se do sucedido. Agora não há tempo para explicações.
A minha mãe foi operada e felizmente correu tudo bem. Ia precisar de tempo e muita fisioterapia para sarar completamente. No braço graças a Deus não teve nada. Eram só escoriações do embate.
Fui ler o relatório do acidente mas pouco dizia. Precisava ir na delegacia para saber os pormenores mas quero falar com a minha mãe primeiro.
Eu estava sentado ao lado da cama dela que ainda dormia sob efeitos da anestesia
Quero saber quem foi o irresponsável que provocou este acidente pensava para mim.
Ela começou a acordar lentamente.
- Mãe! Estou aqui. Vai ficar tudo bem.
- Senti tanto medo quando vi o carro em alta velocidade. Se não fosse o muro eu não estava aqui.
- Quem ia a conduzir, viste?
- 2 moças. Eu estive sempre acordada.
Uma veio ter comigo e a outra só falava ao telefone.- Agora descansa. Temos muito tempo para conversar sobre isto.
Eu preciso de regressar ao plantão.
Mais tarde volto para aqui.Esperei que ela voltasse a adormecer e fui terminar o meu plantão, mas, o meu pensamento estava na pessoa que conduzia o carro que atropelou a minha mãe.
Na delegacia as duas amigas foram interrogados separadamente.
- Senhora Clara Andrade, por favor conte-nos a sua versão do acidente.
- Nós íamos a ouvir música. A Juliette ia com muita velocidade. Eu pedi para ela baixar a velocidade mas ela disse que conduzia bem. Não havia ninguém na estrada, não sei o que aconteceu. Depois que saí do carro fui ajudar a senhora.
No outro gabinete.
- Senhora Juliette, conte-nos a sua versão do acidente.
- Senhorita, não senhora e não é versão é a realidade.
- Então conte-nos como aconteceu o acidente.
- Então eu estava a conduzir e a ouvir música com a minha amiga. Não vinha assim tão depressa e não sei como, ao desfazer a curva, atravessa um cão na via e eu para não atropelar o cão fui bater no muro e naquela senhora.
Se a senhora estivesse no abrigo do autocarro eu não lhe tinha tocado, mas ela estava encostada ao muro.- E é proibido? Questiona o agente.
E a que velocidade a senhorita vinha?- Não mais que 140 km/h porque eu reparei quando a Clara disse que eu estava a ir depressa.
- Sabe que na peritagem ao veículo vamos saber a velocidade verdadeira. Não adianta esconder. Àlem disso 140 é muito acima do permitido.
- Tinha bebido? Vamos fazer o teste.
- Pode fazer. Não bebo.
Chega o pai da Juliette e questiona o agente.
- Acaso é necessário um advogado?
- Eu não descartaria essa possibilidade. Vai depender da pessoa acidentada.
- Com essa resolvo eu, disse o todo poderoso, achando que a posição que tem lhe dá o direito a por e dispor.