Capítulo 2

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Juliette conduzia um dos seus luxuosos carros acompanhada de uma amiga das que fez na faculdade.

O pai tinha-lhe destinado um motorista que ela dispensava pois gostava de conduzir.

As duas seguiam a alta velocidade, cantarolando a música que tocava numa das rádios. Por  várias vezes Juliette tirou os olhos da estrada para conversar com a amiga.

- Ju! Por favor, reduz a velocidade.

- Ah! Sem isso amiga.  Deixa de ser medricas.  A vida deve ser vivida com intensidade.  Olha! Só vamos a 170 km/h, o carro dá 200.
Eu conduzo muito bem por sinal.

Àquela hora o trânsito era mínimo então  com a via desimpedida Juliette dava azo à sua falta de consciência e pisava o acelerador.

Ao desfazer uma curva e não conseguindo controlar o veículo, dada a velocidade, Juliette gira num ângulo de 360 graus e galga o passeio batendo num muro e colhendo uma pessoa que ali aguardava a chegada do autocarro.

Em virtude da abertura dos airbags nem ela nem a amiga sofreram qualquer ferimento.   Apenas o susto.

A senhora devia ter cerca de 50 anos jazia no chão mas estava consciente.

Tinha uma fractura exposta numa das pernas e queixava-se do braço.

As duas saíram do carro e enquanto a amiga se preocupava com a sra. Juliette tratou logo de pedir ajuda ao pai.

- Pai! Tive um acidente, vem-me buscar.

- Ju! Pede ajuda médica para a senhora por favor. Ela está mal.

Logo se juntaram outros transeuntes e foi um deles que ligou para o pronto socorro.

- Fique calma senhora! O socorro está a chegar.

A mesma pessoa que ligou ao pronto socorro chamou a polícia.

À sua chegada,  Juliette tentava a coberto do nome e posição da sua família,  descartar  responsabilidade do acidente.

O agente de autoridade apenas disse:

- Vão ser feitas averiguações ao acidente.  A senhora e sua amiga devem acompanhar-me à esquadra para recolher os vossos depoimentos.  O veículo neste momento está apreendido para investigação.

Levaram as duas em carros separados para evitar combinar as declarações.

A senhora foi assistida no local e encaminhada ao hospital.  Apesar dos ferimentos esteve sempre consciente.

- Por favor! O meu filho é médico no Hospital da Luz.  Eu quero ir para lá.

- Muito bem senhora.  Qual é o nome dele? Vamos colocar aqui no boletim.

- Rodolffo de Albuquerque.

...

Rodolffo tinha iniciado o seu turno.  Estava terminando de ver um paciente quando ouve no interfone:

- Dr. Rodolffo Albuquerque,  por favor dirija-se à urgência.

Terminei o procedimento que estava a fazer e fui.

- Chegou uma sinistrada vítima de acidente de viação que se referiu especificamente a si.  Já foi encaminhada para a cirurgia pois apresenta uma fractura.

Dirigi-me à sala de cirurgia e depois de devidamente equipado entrei.

- Mãe! Exclamei fazendo toda a equipe olhar para mim.

- Vamos operar,  disse o cirurgião.  Se quiser pode-me assistir.   Depois inteira-se do sucedido.  Agora não há tempo para explicações.

A minha mãe foi operada e felizmente correu tudo bem.  Ia precisar de tempo e muita fisioterapia para sarar completamente.  No braço graças a Deus não teve nada.  Eram só escoriações do embate.

Fui ler o relatório do acidente mas pouco dizia.  Precisava ir na delegacia para saber os pormenores mas quero falar com a minha mãe primeiro.

Eu estava sentado ao lado da cama dela que ainda dormia sob efeitos da anestesia

Quero saber quem foi o irresponsável que provocou este acidente pensava para mim.

Ela começou a acordar lentamente.

- Mãe! Estou aqui.  Vai ficar tudo bem.

- Senti tanto medo quando vi o carro em alta velocidade.  Se não fosse o muro eu não estava aqui.

- Quem ia a conduzir,  viste?

- 2 moças.  Eu estive sempre acordada.
Uma veio ter comigo e a outra só falava ao telefone.

- Agora descansa.  Temos muito tempo para conversar sobre isto.
Eu preciso de regressar ao plantão.
Mais tarde volto para aqui.

Esperei que ela voltasse a adormecer e fui terminar o meu plantão, mas, o meu pensamento estava na pessoa que conduzia o carro que atropelou a minha mãe.

Na delegacia as duas amigas foram interrogados separadamente.

- Senhora Clara Andrade, por favor conte-nos a sua versão do acidente.

- Nós íamos a ouvir música.  A Juliette ia com muita velocidade. Eu pedi para ela baixar a velocidade mas ela disse que conduzia bem.  Não havia ninguém na estrada,  não sei o que aconteceu.  Depois que saí do carro fui ajudar a senhora.

No outro gabinete.

- Senhora Juliette, conte-nos a sua versão do acidente.

- Senhorita, não senhora e não é versão é a realidade.

- Então  conte-nos como aconteceu o acidente.

- Então eu estava a conduzir e a ouvir música com a minha amiga.  Não vinha assim tão depressa e não sei como, ao desfazer a curva, atravessa um cão na via e eu para não atropelar o cão fui bater no muro e naquela senhora.
Se a senhora estivesse no abrigo do autocarro eu não lhe tinha tocado, mas ela estava encostada ao muro.

- E é proibido? Questiona o agente.
  E a que velocidade a senhorita vinha?

- Não mais que 140 km/h porque eu reparei quando a Clara disse que eu estava a ir depressa.

- Sabe que na peritagem ao veículo vamos saber a velocidade verdadeira.  Não adianta esconder. Àlem disso 140 é muito acima do permitido.

- Tinha bebido? Vamos fazer o teste.

- Pode fazer.  Não bebo.

Chega o pai da Juliette e questiona o agente.

- Acaso é necessário um advogado?

- Eu não descartaria essa possibilidade.  Vai depender da pessoa acidentada.

- Com essa resolvo eu, disse o todo poderoso, achando que a posição que tem lhe dá o direito a por e dispor.

Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora