Capítulo 24

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Hoje era dia de regressar.  Confesso que a vontade era pouca.   Estes dias todos aqui com a Ju foram formidáveis.  Não queria regressar ao mundo activo.

- Rodolffo!  Como vamos fazer com o meu carro?

- Fica aí e depois o Matias vem buscar.  Agora mais importante.  Onde a menina quer ficar.  Na tua casa ou na minha?

- Por enquanto na minha.  Depois vemos.

Partimos para casa já cheios de saudades deste cantinho.

Eu ficaria também na casa dela mas por hora tenho que ir ver a minha mãe.

- Que saudades filho.

- Muitas mãe mas por agora vou ficar lá na Ju.  Entendes?

- Entendo filho.  Eu queria vocês dois aqui mas entendo.  No estado dela deve estar mais à vontade com a mãe.

- Obrigado mãe.  Amo-te.  Vou sair, preciso resolver uns assuntos.

Em véspera do regresso ao trabalho fui com a Ju ver como iam as obras da casa antiga.

- Amor!  Está tudo tão diferente.   O que vais fazer aqui?

- Bom, uma das coisas que pretendo é ter a minha própria clínica e deixar o hospital.   Pretendo transformar esta casa para isso mesmo e se possível com várias valências.
Vejo-me um dia num futuro próximo a exercer medicina aqui.  Quem sabe contigo a meu lado exercendo psicologia.

- Quem sabe.  Amor este terreno aqui ao lado.  Sabes a quem pertence?

- Não.  Mas podemos averiguar.  Porquê?

- Tem uma óptima àrea para um projecto que eu tenho mente.

- É enorme sim.  E tem aquela mata lá ao fundo.   Mas conta mais, que projecto é esse?

- Desde a minha missão em Angola venho com vontade de construir uma casa de acolhimento de crianças órfãs.  Ainda é só uma ideia mas vem ganhando força.

- Vamos saber mais sobre o terreno e contas mais sobre essa ideia.

Eu queria investir todo o dinheiro que consegui com a venda dos imóveis que o meu pai deixou e achei que essa seria uma óptima ideia.

Há tantos órfãos que vivem em condições degradantes sem acesso aos cuidados básicos de saúde e educação.  Eu queria pelo menos tornar a vida de alguns menos difícil.

Seis meses depois

Estava no meu sétimo mês de gravidez e tudo ia bem.

Conforme o palpite do Rodolffo vamos ter uma menina.  A nossa Sofia.

Continuamos a viver com a minha mãe mas por vezes ficamos na casa do Rodolffo.

Conseguimos comprar o terreno ao lado da clínica que está quase pronta.

Estamos em contacto com o arquitecto que vai projectar a obra.

As crianças estudarão na escola pública no entanto aqui na instituição terão actividades extra curriculares.

Dança, música,  pintura, teatro e desporto.  Cada uma poderá frequentar o que quiser conforme a sua aptidão.

Teremos ainda jardim e horta onde as crianças se desejarem poderão aprender a cuidar.

Todas terão competências para que com 18 anos estejam preparadas para o mundo caso não queiram continuar os estudos.
Aquelas que desejarem continuar serão apoiadas até ao final.

Já  tínhamos montado um quarto para a Sofia na casa da minha mãe.

Hoje íamos comprar os móveis para o quarto na casa de dona Vera.

Tinha que ser assim.  As avós são ciumentas.  

A escolha do nome deu que falar.  As duas queriam o nome delas na neta.

Foi preciso juntar as duas e bater o pé. 

- A bébé vai chamar-se Sofia porque nós dois decidimos e nada de brigas.

No final até ficaram satisfeitas com o nome.

A Ju hoje acordou com dores nas costas.  Antes de ir para o hospital ainda fiz uma massagem  nela.

- Amor!  Achas que está na hora?

- Ju.  São dores,  não são contrações.  Mas estás no final do tempo.  Pode nascer a qualquer hora.
Eu vou trabalhar.   Qualquer coisa telefonas.

As dores acalmaram e não houve novidade durante o resto do dia.  Rodolffo chegou por volta das 20 horas, tomou banho e jantámos.

Estávamos a ver um filme no nosso quarto quando senti uma cólica.

- Ai!! 

- Que foi Ju!

- Acho que a nossa filha nasce hoje.

Monitorei as contrações da Ju e quando já vinham com intervalos pequenos fomos para o hospital.

Depois de avaliada foi conduzida à sala de partos.

Não demorou muito e a nossa menina veio ao mundo.  Eu e a Ju chorámos quando ela foi colocada no peito dela.  Era a bébé mais linda do mundo.

Mais tarde já no quarto a Ju dava pela primeira vez de mamar a Sofia.   Eu sentado ao lado delas agradecia a Deus em silêncio por tamanha bênção.  Com uma mão fazia carinho na Ju e a outra na Sofia.

Olhei para a minha companheira com lágrimas nos olhos.

- Obrigado por tanto.  Dei-lhe um beijo.

Nisto chegaram as duas avós.  O caos estava instalado.

- Como não me lembrei deste pormenor.  Era para vir uma de cada vez.






Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora