Hoje era dia de regressar. Confesso que a vontade era pouca. Estes dias todos aqui com a Ju foram formidáveis. Não queria regressar ao mundo activo.
- Rodolffo! Como vamos fazer com o meu carro?
- Fica aí e depois o Matias vem buscar. Agora mais importante. Onde a menina quer ficar. Na tua casa ou na minha?
- Por enquanto na minha. Depois vemos.
Partimos para casa já cheios de saudades deste cantinho.
Eu ficaria também na casa dela mas por hora tenho que ir ver a minha mãe.
- Que saudades filho.
- Muitas mãe mas por agora vou ficar lá na Ju. Entendes?
- Entendo filho. Eu queria vocês dois aqui mas entendo. No estado dela deve estar mais à vontade com a mãe.
- Obrigado mãe. Amo-te. Vou sair, preciso resolver uns assuntos.
Em véspera do regresso ao trabalho fui com a Ju ver como iam as obras da casa antiga.
- Amor! Está tudo tão diferente. O que vais fazer aqui?
- Bom, uma das coisas que pretendo é ter a minha própria clínica e deixar o hospital. Pretendo transformar esta casa para isso mesmo e se possível com várias valências.
Vejo-me um dia num futuro próximo a exercer medicina aqui. Quem sabe contigo a meu lado exercendo psicologia.- Quem sabe. Amor este terreno aqui ao lado. Sabes a quem pertence?
- Não. Mas podemos averiguar. Porquê?
- Tem uma óptima àrea para um projecto que eu tenho mente.
- É enorme sim. E tem aquela mata lá ao fundo. Mas conta mais, que projecto é esse?
- Desde a minha missão em Angola venho com vontade de construir uma casa de acolhimento de crianças órfãs. Ainda é só uma ideia mas vem ganhando força.
- Vamos saber mais sobre o terreno e contas mais sobre essa ideia.
Eu queria investir todo o dinheiro que consegui com a venda dos imóveis que o meu pai deixou e achei que essa seria uma óptima ideia.
Há tantos órfãos que vivem em condições degradantes sem acesso aos cuidados básicos de saúde e educação. Eu queria pelo menos tornar a vida de alguns menos difícil.
Seis meses depois
Estava no meu sétimo mês de gravidez e tudo ia bem.
Conforme o palpite do Rodolffo vamos ter uma menina. A nossa Sofia.
Continuamos a viver com a minha mãe mas por vezes ficamos na casa do Rodolffo.
Conseguimos comprar o terreno ao lado da clínica que está quase pronta.
Estamos em contacto com o arquitecto que vai projectar a obra.
As crianças estudarão na escola pública no entanto aqui na instituição terão actividades extra curriculares.
Dança, música, pintura, teatro e desporto. Cada uma poderá frequentar o que quiser conforme a sua aptidão.
Teremos ainda jardim e horta onde as crianças se desejarem poderão aprender a cuidar.
Todas terão competências para que com 18 anos estejam preparadas para o mundo caso não queiram continuar os estudos.
Aquelas que desejarem continuar serão apoiadas até ao final.Já tínhamos montado um quarto para a Sofia na casa da minha mãe.
Hoje íamos comprar os móveis para o quarto na casa de dona Vera.
Tinha que ser assim. As avós são ciumentas.
A escolha do nome deu que falar. As duas queriam o nome delas na neta.
Foi preciso juntar as duas e bater o pé.
- A bébé vai chamar-se Sofia porque nós dois decidimos e nada de brigas.
No final até ficaram satisfeitas com o nome.
A Ju hoje acordou com dores nas costas. Antes de ir para o hospital ainda fiz uma massagem nela.
- Amor! Achas que está na hora?
- Ju. São dores, não são contrações. Mas estás no final do tempo. Pode nascer a qualquer hora.
Eu vou trabalhar. Qualquer coisa telefonas.As dores acalmaram e não houve novidade durante o resto do dia. Rodolffo chegou por volta das 20 horas, tomou banho e jantámos.
Estávamos a ver um filme no nosso quarto quando senti uma cólica.
- Ai!!
- Que foi Ju!
- Acho que a nossa filha nasce hoje.
Monitorei as contrações da Ju e quando já vinham com intervalos pequenos fomos para o hospital.
Depois de avaliada foi conduzida à sala de partos.
Não demorou muito e a nossa menina veio ao mundo. Eu e a Ju chorámos quando ela foi colocada no peito dela. Era a bébé mais linda do mundo.
Mais tarde já no quarto a Ju dava pela primeira vez de mamar a Sofia. Eu sentado ao lado delas agradecia a Deus em silêncio por tamanha bênção. Com uma mão fazia carinho na Ju e a outra na Sofia.
Olhei para a minha companheira com lágrimas nos olhos.
- Obrigado por tanto. Dei-lhe um beijo.
Nisto chegaram as duas avós. O caos estava instalado.
- Como não me lembrei deste pormenor. Era para vir uma de cada vez.